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Sorgo

Silagem Com Bom Valor

Nutritivo

 

Josiane Aparecida de Lima - josiane@iz.sp.gov.br

Pesquisadora IZ/APTA/SAA

 

 

Introdução

Entre as opções de forrageiras com bom valor nutritivo cita-se o sorgo e este pode ser utilizado tanto para produção de grãos como de forragem para pastejo ou conservação na forma de silagem ou feno. É uma cultura que produz silagens com boas características fermentativas e destaca-se por ser um volumoso com adequada concentração de carboidratos solúveis, essenciais para a fermentação lática. Depois do milho, é a cultura anual mais importante para produção de silagem, pois possibilita produção economicamente viável (alta produção por unidade de área), possui bom valor energético e níveis médios de proteína (cerca de 8% de proteína bruta). Outra característica importante do sorgo é a boa adaptação às variadas condições de clima e de solo.

A silagem de sorgo tem importância estratégica, pois quando é produzida com base nos princípios básicos para obtenção de silagem de boa qualidade apresenta valor nutritivo equiparado ao da silagem de milho e com a principal vantagem do menor custo de produção, uma vez que a produtividade do sorgo é maior que a do milho.

 

Algumas vantagens do sorgo em relação ao milho são:

 

èos rendimentos de forragem verde em ótimas condições de clima e de fertilidade podem superar os obtidos com o milho. Há variedades de alta produção (sorgos forrageiros) que podem produzir cerca de 100 t/ha de massa verde, em dois cortes;

èmenor exigência quanto ao tipo e à fertilidade do solo;

ècapacidade para suportar extensos períodos de falta de água e rebrotar rapidamente depois da ocorrência de chuvas que umedecem suficientemente o solo;

èadapta-se melhor que o milho em regiões onde há escassez de chuvas;

ènão é sujeito a roubos, como ocorre com as espigas de milho; no entanto, pelo fato de ter os grãos expostos sofre intenso ataque de pássaros.

 

O processo de ensilagem é composto por várias etapas, entre as quais citam-se: colheita e fracionamento da forrageira, transporte, enchimento do silo, compactação da forragem e, finalmente, vedação do silo. Antecedendo essas etapas, há uma atividade de importância significativa, que é a produção da forrageira que será ensilada. Esta é a base para que a eficiência econômica seja atingida, pois a produtividade da cultura está estreitamente relacionada com o custo de produção, ou seja, quanto maior a produção por unidade de área menor será o custo de produção da silagem.

 

Híbrido

A produção de silagem de boa qualidade inicia-se pela escolha do híbrido e esta escolha deve ser embasada em informações relativas às características agronômicas e qualitativas. Há no mercado disponibilidade de híbridos de sorgo para adaptar-se às diferentes regiões, sendo que numa mesma região tem-se a opção de escolha em função do ciclo, resistência e produtividade. Outra observação deve ser quanto à produção de grãos, pois quanto mais grãos na silagem, maior será o porcentual de Nutrientes Digestíveis Totais (NDT) que é o teor de energia da silagem. O conveniente é fazer a escolha de acordo com o maior número de características desejáveis tais como ciclo, porte, participação de grãos, digestibilidade e teor de fibra, sanidade foliar, resistência a doenças e ao tombamento.

A escolha de híbridos mais adaptados às condições em que serão cultivados é fator importante para obtenção de maiores produções por unidade de área, mas é importante lembrar também que não só os fatores genéticos e de clima influenciam a produtividade do sorgo, mas, também, a quantidade de sementes, a época de semeadura, a população de plantas, o preparo, correção e fertilização do solo e o controle de plantas daninhas, pragas e doenças são fundamentais para obter alta produtividade.

Atualmente, sorgo forrageiro é aquele que produz massa (forragem) e grãos. Existem cultivares adaptadas para utilização na forma de grãos, que são as que apresentam menor porte. Entretanto, dois cultivares de sorgo se destacam para produção de silagem:

 

Sorgo Granífero - apresenta maior proporção de grãos e geralmente são de porte inferior aos sorgos forrageiros. Produzem silagens com excelente valor nutritivo em razão da presença de grãos; porém, a produção de massa verde é baixa, cerca de 30 t/ha;

Sorgo duplo propósito - Produzem silagem com valor nutritivo semelhante à silagem de milho em razão da elevada participação de grãos. A produção de matéria verde é, em média, 50 t/ha, no primeiro corte e, a produção da rebrota pode atingir até 50% da produção obtida no primeiro corte, se as condições de clima e solo forem favoráveis.

 

Um dos aspectos mais importantes no processo produtivo, não somente do sorgo mas de qualquer espécie forrageira, é o manejo cultural e esse se traduz em atenção especial quanto ao local de plantio, preparo, correção e fertilização do solo, qualidade da semente, época e profundidade de semeadura, regulagem adequada da semeadora, espaçamento correto, densidade de plantas por área, controle de pragas, doenças e plantas daninhas e época ideal de colheita. Esses parâmetros, quando conduzidos com critério, influenciam positivamente nos diversos estádios de desenvolvimento da cultura, refletindo de forma significativa no potencial produtivo e qualitativo da espécie.

 

Preparo do solo

No preparo do solo para o plantio do sorgo, pode-se considerar o mesmo critério que normalmente é recomendado para o milho. Entretanto, para o sorgo, é comum a necessidade de três gradeações para que se atinjam as condições de uniformidade requeridas para a germinação das pequenas sementes.

 

Calagem

A quantidade de calcário deve ser aplicada com base na análise do solo e deve ser realizada, pelo menos, com três meses de antecedência do plantio. Porém, quando o sorgo for cultivado em seqüência ao milho ou outra cultura e, neste caso, se o solo já tiver sido corrigido, não há necessidade de calagem.

 

Adubação

O sorgo possui características que lhe conferem maior resistência à seca e à disponibilidade de nutrientes; no entanto, isto não deve ser interpretado como menor necessidade de nutrientes. Deve-se ter em mente também que culturas destinadas a produção de silagem são altamente extratoras de nutrientes do solo, principalmente quando as produções são elevadas. Dessa forma, especial atenção deve ser dada à adubação do sorgo destinado à silagem, devido à grande remoção de nutrientes do solo e acúmulo na biomassa da parte aérea, que será transportada para dentro do silo.

A total retirada da cultura da área de produção faz com que o solo exija duas a três vezes mais nutrientes por área que aqueles destinados à produção de grãos, onde há incorporação das palhadas. Neste sentido, deve-se sempre tomar por base a análise de solo para definir a adubação, pois esta é a forma correta de aplicar fertilizantes em quantidades corretas, sem desperdícios ou uso excessivo.

 

Semeadura

A semeadura do sorgo, no que se refere à época, coincide com o que é indicado para o milho, ou seja, início do período das chuvas. No entanto, o sorgo em função de dispor de híbridos com ciclo curto, cerca de 80 dias, pode ser utilizado como opção para o cultivo em seqüência à safra de milho. Essa prática de uso torna-se ainda mais viável quando o cultivo anterior for milho para silagem, porque, neste caso, a área é liberada mais cedo.

Para que a produtividade seja adequada, deve-se estabelecer uma população de, aproximadamente, 200 mil plantas/ha, o que, em média, corresponde a 18 a 20 sementes por metro linear, com espaçamento de 0,7 a 0,8 m entre linhas. É importante salientar que a quantidade de sementes varia com o tipo de sorgo utilizado e com a população desejada. Geralmente, são necessários 8 a 10 kg de sementes/ha, as quais devem ser colocadas a uma profundidade de 3 cm. Recomenda-se utilizar 30% de sementes a mais por área, visando evitar perdas de área com sementes não germinadas. Muitas vezes as maiores perdas ocorrem em conseqüência do preparo inadequado do solo, o que afeta a germinação, devido ao pequeno tamanho das sementes. Por essa razão, é importante que o preparo do solo seja feito cuidadosamente.

 

Colheita

A época mais adequada para a colheita do sorgo para ensilar corresponde àquela em que os grãos estão no ponto pastoso-farináceo, o que geralmente coincide com teor de matéria seca em torno de 30%. Colheitas mais tardias resultam em redução no valor nutritivo e em perda de grãos no campo, sendo que o valor nutritivo também pode reduzir, uma vez que grãos mais maduros têm maior possibilidade de serem eliminados inteiros nas fezes dos animais. Por outro lado, o sorgo ensilado em estádio anterior poderá resultar em silagem de baixa qualidade e em perdas elevadas devido à excessiva umidade da forragem, o que resulta em lixiviação dos princípios nutritivos e fermentação inadequada.

Com relação à colheita propriamente dita, esta pode ser manual, para pequenas áreas de produção, ou mecânica, para áreas maiores. Na colheita manual, as plantas são cortadas no campo, com auxílio de ferramentas de uso manual e devem ser picadas próximo ao silo em picadoras estacionárias. Na colheita mecânica, utilizam-se as ensiladoras tracionadas por trator, que realizam o corte e fragmentam o material.

Na colheita do sorgo para produção de silagem, a planta é submetida ao corte basal, e isto faz com que o meristema apical seja eliminado. Assim, o perfilhamento é estimulado, promovendo o desenvolvimento das gemas basais presentes na coroa da planta, que darão origem aos novos perfilhos responsáveis pela produção da rebrota. Se houver condições climáticas e de fertilidade favoráveis, a rebrota do sorgo poderá atingir produções satisfatórias.

 

 

Fragmentação

 

A planta do sorgo deve ser fragmentada em partículas de 0,5 a 2,0 cm e este cuidado deve ser criteriosamente seguido, pois é um dos principais segredos para obter silagem de boa qualidade. São inúmeros os benefícios do tamanho adequado de partículas, que vão desde o enchimento do silo até o processo digestivo e o desempenho dos animais.

Silagens compostas por partículas pequenas são mais fáceis de serem misturadas a outros alimentos e são menores as perdas no momento da retirada do silo e durante a alimentação dos animais. Pequenas partículas também facilitam a mastigação, a ruminação e a digestão, com reflexos positivos no consumo e no desempenho dos animais.

Para que essa prática seja realizada de forma correta é importante vistoriar as condições das facas da ensiladora e isso deve ser feito com antecedência a colheita e durante a realização desta; e se as facas estiverem desgastadas deverão ser afiadas ou trocadas.

 

Compactação da forragem

 

A compactação é um dos fatores-chave que proporciona condições para que os processos químicos e biológicos que ocorrem durante a fermentação da forragem no interior do silo se processem de forma adequada, resultando em silagem de boa qualidade e sem perdas nutritivas. O processo é realizado pela passagem consecutiva do trator sobre as camadas de forragem, devendo-se utilizar trator com pneus estreitos, por ser mais eficiente. A superfície da forragem deve ficar lisa, sem ondulações; e deve-se utilizar o melhor e mais pesado trator.

Essa prática é realizada para expulsar, o máximo possível, o ar existente entre as partículas da forragem e diminuir a porosidade da silagem. Quanto mais eficiente for a compactação, maior será a quantidade de silagem armazenada, menor o custo de armazenamento e, quanto mais agregadas estiverem as partículas, mais difícil será a penetração do ar entre estas e melhor será a preservação da qualidade da silagem após a abertura do silo. Esta prática deve ser realizada com muito capricho, pois um dos maiores inimigos da qualidade da silagem é a presença de oxigênio no interior do silo.

 

 

Vedação do silo

 

A vedação bem feita mantém e complementa os benefícios da rapidez no enchimento do silo e da compactação da forragem e também deve ser realizada com rapidez logo após o término do enchimento do silo. A vedação é feita com lona plástica preta que deve ter espessura de 200 a 300 micra. Outra opção é a lona de dupla face que apresenta um dos lados na cor branca e esse deve ser colocado voltado para o lado externo, pois a cor branca reflete parte da radiação solar sendo reduzida a transferência de calor dos raios solares para a forragem. É importante que a forragem da superfície do silo seja trabalhada para ter um formato abaulado. Essa estratégia auxilia no perfeito contato da lona com a forragem evitando ocorrência de espaços vazios com presença de ar entre a lona e a forragem.

Normalmente, coloca-se terra sobre a lona e para não ocorrer o deslizamento da terra, o ideal é colocar antes uma camada de capim. Durante a utilização da silagem, a retirada da terra pode ser trabalhosa em razão do endurecimento da mesma e uma forma de evitar que isso ocorra é utilizar outra lona sobre a terra. Pode-se optar pela utilização de uma camada de capim e, sobre esta, colocar pneus que devem ser cortados ao meio, devendo-se colocar a face cortada voltada para baixo para evitar o acúmulo de água. A retirada desses materiais no momento da abertura do silo para utilização da silagem não é tão trabalhosa quanto a terra. Utilizando-se a lona de dupla face, não há necessidade de preocupar-se com material para proteção da mesma, pois essa é mais resistente que as lonas comuns. Nesse caso, pode-se utilizar somente pneus para manter a compactação da forragem no interior do silo. Independente do tipo de lona utilizado, as bordas devem ser devidamente vedadas para evitar a entrada de ar e água e, para isso, pode-se utilizar terra, sacos de areia, pneus ou qualquer outro material que possibilite a vedação segura.

 

 

Abertura do silo, manejo do painel e utilização da silagem

 

A produção de silagem de boa qualidade é condicionada a critérios específicos para cada etapa do processo e na abertura do silo e utilização da silagem não é diferente e essa prática deve ser executada com capricho, para que a qualidade e o valor nutritivo da silagem sejam preservados. Todos os cuidados necessários para obter silagem de boa qualidade refletem positivamente na estabilidade da silagem após a abertura do silo. Forragem com tamanho adequado de partícula, compactação eficiente, enchimento rápido e vedação correta do silo são práticas que asseguram fermentação adequada, com predominância de ácidos que conferem estabilidade à silagem quando esta é exposta ao ar.

Ao abrir o silo, em primeiro lugar deve-se observar o aspecto da silagem e se houver presença de porções com mofos, bolores, coloração muito escura e cheiro desagradável, estas devem ser descartadas. Outro cuidado que deve ser criteriosamente observado refere-se à espessura da camada de silagem retirada diariamente e essa não deve ser inferior a 20 cm, pois dessa forma a retirada da silagem caminha mais rápido que a penetração de ar entre as partículas.

 

Considerações finais

 

A produção de silagem de sorgo com bom valor nutritivo e baixo custo somente é possível se houver um planejamento antecipado das atividades e este deve ser cuidadosamente detalhado para que todas as etapas do processo de ensilagem sejam realizadas com eficiência. É importante salientar que, quanto maior produção forrageira por unidade de área, menor será o custo de produção da silagem.

Além do planejamento detalhado e da organização das atividades, o capricho na execução de cada etapa e o acompanhamento de todo o processo se traduz em tecnologia de baixo custo, e a adoção correta de tecnologia é garantia de eficiência, ou seja, de lucro.


Origem: Instituto de Zootecnia - www.iz.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

LIMA, J.A. de  Sorgo: Silagem com bom valor nutritivo. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_4/SilagemSorgo/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 18/12/2008

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