Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com SISTEMA DE PRODUÇÃO DE MILHO SAFRINHA NA REGIÃO NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
Arlindo Clemente Filho
1. INTRODUÇÃO
A Região Norte abrange os municípios pertencentes ao Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Orlândia, Ribeirão Preto e alguns municípios pertencentes aos EDRs de Barretos e Jaboticabal. Na safra de 2004/2005, a estimativa é que foram plantadas aproximadamente 50.594 hectares com a cultura de milho safrinha nessa região, o que representa em torno de 16% do total da área plantada no Estado de São Paulo (Tabela 1).
A maior parte da área plantada com o milho safrinha (80%), ficou concentrada nos municípios de Guaira (23.000 ha) pertencente ao EDR de Barretos e nos municípios de Miguelópolis (12.000 ha) e Ituverava (6.000 ha), pertencentes ao EDR de Orlândia. A região pertence à Bacia do Sapucaí Mirim e Baixo Pardo Grande.
O plantio de milho safrinha, na região, iniciou-se em 1979, sendo introduzido por produtores que queriam fazer sucessão de cultura, logo após a colheita da soja realizada em fevereiro e março, aproveitando a disponibilidade de água no solo e as chuvas que nessa época ainda ocorrem na região.
Na época do verão, as culturas de soja e cana-de-açúcar são as principais fontes de renda. A cultura tradicional que precede o milho safrinha é a soja de verão, e seu principal fator de risco de perda são os veranicos prolongados que podem ocorrer durante todo o ciclo da cultura, podendo causar prejuízos que podem chegar em alguns anos de 80% a 100%, em alguns casos.
2. TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO
2.1 Semeadura
Na região, o milho safrinha é plantado no período compreendido entre a segunda quinzena de fevereiro a 30 de março, e 70% dos agricultores realizam o plantio até 10 de março, considerada a época em que ocorre o maior potencial produtivo, com menor risco para os híbridos e as variedades.
Os produtores utilizam o sistema de plantio direto em 50% das áreas, e o restante da área, com o sistema de preparo reduzido do solo ou cultivo mínimo, cujo preparo do solo é realizado com o uso de grade intermediária e posterior plantio.
O produtor não costuma antecipar a colheita da soja com dessecação, a não ser quando ocorrem infestações de plantas daninhas, por problemas de falha no controle químico ou mecânico, quando se utiliza esse procedimento.
As principais cultivares utilizadas são: DKB-350, DKB-435, CO-32, AGM-2012, AGM-3050, Agroceres-7575, Exceler e Fort e as variedades da CATI. O número médio das cultivares por propriedade varia de 2 a 3. O critério para a escolha das cultivares é o exemplo do vizinho, Dias de Campo e resultados de avaliação de cultivares, e o ciclo das cultivares não é um fator importante na região.
A população de plantas normalmente varia de 40.000 a 45.000 plantas por hectare e o espaçamento mais utilizado é de 0,90 m . A maioria dos produtores não realiza tratamento de semente na safrinha, sendo mais comum o uso dessa tecnologia na safra de verão.
2.2 Caracterização dos solos e adubação A maioria dos solos da Região Norte é de Latossolo Roxo da antiga nomenclatura. A adubação utilizada na safrinha é em torno de 130 a 210 kg/ha, sendo mais usada as fórmulas 3-15-15 e 04-20-20. A adubação de cobertura é realizada 30 dias após o plantio, sendo mais utilizada a fórmula 20-00-20 ou sulfato de amônio na dosagem de 100 kg/ha, em anos que ocorrem boa precipitação pluvial.
2.3 Controle de plantas daninhas As espécies de plantas daninhas mais freqüentes na região são: timbete, apaga-fogo, trapoeiraba, picão preto e capim colchão; a trapoeiraba é a de mais difícil controle, não ocorrendo até o momento plantas daninhas com resistência ao controle químico. O controle é realizado 60% com produtos químicos e 40% com a utilização de cultivadores mecânicos.
A maioria dos produtores que utiliza o sistema de plantio direto realiza a dessecação em pré-plantio, sendo mais utilizado o herbicida glifosato na dosagem de 2 litros/ha. Para o controle de plantas daninhas em pós-emergência, o herbicida mais utilizado é a atrazina com dosagem de 2 litros/hectare.
2.4 Controle de pragas As pragas mais comuns são a lagarta do cartucho, lagarta elasmo, lagarta rosca e percevejo castanho, todos de difícil controle; o controle do percevejo castanho é o mais difícil de ser realizado, devido ao hábito da praga. O controle das pragas utilizado na safrinha é o químico, aplicando-se inseticidas em pulverização como o carbamato Lannate (0,6 litros/ha) e fisiológicos como Lufenuron (Match/300 mL/ha). O tratamento de sementes com inseticidas é pouco utilizado em milho safrinha.
2.5 Controle de doenças Na região, normalmente ocorrem doenças foliares, sendo as mais comuns a Phaeosphaeria, ferrugem comum e o enfezamento (plantio de fevereiro).
Geralmente, os produtores, mesmo constatando a ocorrência de doenças, não realizam o controle, exceto em áreas irrigadas, onde se utilizam fungicidas quando necessário, principalmente em áreas destinadas à produção de sementes.
2.6 Colheita A produtividade do milho safrinha tem oscilado na região devido à ocorrência de estiagem prolongada (Tabelas 2 a 6). Nos últimos cinco anos, a produtividade média ficou em 2.079 kg/ha, sendo de 3.288 kg/ha, na safra 2003/04; a menor média foi a obtida na safra de 2000/01, sendo de apenas 1.139 kg/ha.
A maioria dos agricultores dispõe de colheitadeiras próprias, mas os pequenos recorrem ao vizinho ou a terceiros para efetuarem sua colheita. O aluguel da máquina é em porcentagem da produção, em torno de 6% ou 6 sacas de milho/hectare, colhendo com 16 % de umidade. Na região, não tem ocorrido problema de milho ardido na colheita.
3. COMERCIALIZAÇÃO E LUCRATIVIDADE
O preço médio pago pela saca de milho na safra de verão (julho) foi de R$ 14,00 em 2003 e R$ 14,80 em 2004. Já o milho safrinha foi comercializado em 2003 a R$ 15,00 e a R$ 13,50 em 2004 (outubro). Foi estimada uma rentabilidade para a Cultura de Milho em 2004 em R$ 400,00/ha para o ciclo de verão e de R$ 210,00/ha para a cultura de safrinha (produtividade verão = 100 sc/ha; safrinha = 35 sc/ha).
A comercialização do milho safrinha é efetuada cerca de 70% logo após a colheita e o restante(30%) é armazenado para comercialização posterior. O milho colhido na safrinha tem& nbsp; liquidez, sendo fácil sua comercialização. Os principais compradores são: Cooperativa Carol, Empresas como Campofértil e Armazéns Gerais Ipuã. Quando o produtor vai esperar mercado favorável, deposita nesses armazéns onde provavelmente farão a comercialização.
4. CONCLUSÕES
Atualmente existe uma expectativa de diminuição de área plantada com a cultura de milho safrinha na região, devido a vários fatores, como ocorrência de frustração de safras, a opção de alguns produtores pela cultura do sorgo. A possibilidade da introdução de culturas alternativas como girassol e nabo branco, para serem utilizados em extração do Biodiesel, vem sendo propostas por empresários que já atuam em outras regiões do País, e o principal fator é o avanço da cana-de-açúcar em áreas compradas ou arrendadas pelas usinas da região, onde predominavam o cultivo de grãos.
Por outro lado, o milho safrinha tem sido cultura de grande importância econômica na região. Para que ocorra uma evolução na área plantada em curto espaço de tempo, seria necessária uma política pública, além da ocorrência de condições climáticas favoráveis.
REFERÊNCIAS
CASER, D.V.; CAMARGO, A.M.M.P.; FRANCISCO, V.L.F.S.; et al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do Estado de São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v.31, n.11, p.89-101, 2001. CASER, D.V.; CAMARGO, A.M.M.P.; FRANCISCO, V.L.F.S.; et al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do Estado de São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v.32, n.10, p.93-105, 2002. CASER, D.V.; CAMARGO, A.M.M.P.; FRANCISCO, V.L.F.S.; et al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do Estado de São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v.33, n.11, p.117-129, 2003. CASER, D.V.; CAMARGO, A.M.M.P.; OLIVETTE,M.P.A.; et al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do Estado de São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v.34, n.11, p.101-113, 2004. CASER, D.V.; CAMARGO, A.M.M.P.; GHOBRIL,C.N.; et al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do Estado de São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v.35, n.8, p.98-16, 2005.
* Palestra proferida no VIII Seminário Nacional de Milho Safrinha, realizado em Assis de 21 a 23 de novembro de 2005 e publicada nos Anais do evento (impresso e CD-Rom) Arlindo Clemente Filho - CATI/Casa da Agricultura de Ipuã. Avenida Rui Barbosa, 760, 14610-000 Ipuã (SP). E-mail: garso@netsite.com.br Paulo César da Luz Leão - CATI, Escritório de Desenvolvimento Rural de Orlândia, Rua 8, n.º 946, 14620-000 Orlândia (SP). E-mail: pauloleao@netsite.com.br
Dados para citação bibliográfica(ABNT): CLEMENTE FILHO, A.; LEÃO, P.C.L. Sistema de produção de milho safrinha na região norte do estado de São Paulo. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_4/MilhoNorte/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 04/11/2008 |