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SISTEMA DE PRODUÇÃO DE MILHO SAFRINHA NA REGIÃO NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO

 

Arlindo Clemente Filho
Paulo César da Luz Leão

                                    

1.  INTRODUÇÃO

 

A Região Norte abrange os municípios pertencentes ao Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Orlândia, Ribeirão Preto e alguns  municípios pertencentes aos EDRs de Barretos e Jaboticabal.  Na safra de  2004/2005, a estimativa é que foram plantadas aproximadamente 50.594 hectares com a cultura de milho safrinha nessa região, o que representa em torno de 16% do total da área plantada no Estado de São Paulo (Tabela 1).

 

Tabela 1.  Previsões e Estimativas das Safras Agrícolas por Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR), Estado de São Paulo, Ano Agrícola 2004/05, 5.º Levantamento, junho de 2005.

EDR
Milho Safrinha

 Área
(
ha)

Produção
(sc. 60 kg)

Andradina

  2.863

191.020

Araçatuba

14.475

878.200

Araraquara

  1.050

 56.200

Assis

140.726

4.526.620

Avaré

13.380

698.300

Barretos

24.630

694.566

Bauru

424

24.570

Botucatu

1.600

78.000

Bragança Paulista

130

5.050

Campinas

1.334

67.300

Catanduva

830

39.440

Dracena

300

12.600

Fernandópolis

2.310

147.000

Franca

2.520

114.550

General Salgado

2.129

127.333

Guaratinguetá

192

7.035

Itapetininga

3.682

262.500

Itapeva

12.100

591.200

Jaboticabal

130

4.500

Jales

415

14.600

Jaú

460

19.300

Limeira

852

60.950

Lins

750

47.750

Marília

305

12.300

Mogi das Cruzes

10

400

Mogi-Mirim

1.330

66.400

Orlândia

24.600

861.600

Ourinhos

21.770

1.051.180

Pindamonhangaba

219

9.070

Piracicaba

328

15.468

Presidente Prudente

31.980

1.223.500

Presidente Venceslau

3.796

99.060

Registro

141

5.607

Ribeirão Preto

680

34.000

São João da Boa Vista

540

26.000

São José do Rio Preto

2.195

80.725

São Paulo

91

2.241

Sorocaba

3.592

175.820

Tupã

1.259

46.750

Votuporanga

420

16.800

Estado

320.538

12.395.505

Fonte: Instituto de Economia Agrícola e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral.

 

A maior parte da área plantada com o milho safrinha (80%), ficou concentrada nos municípios de Guaira (23.000 ha) pertencente ao EDR de Barretos e nos municípios de Miguelópolis (12.000 ha) e Ituverava (6.000 ha), pertencentes ao EDR de Orlândia. A região pertence à Bacia do Sapucaí Mirim e Baixo Pardo Grande.

 

            O plantio de milho safrinha, na região, iniciou-se  em 1979, sendo introduzido por produtores que queriam fazer sucessão de cultura, logo após a colheita da soja realizada em fevereiro e março, aproveitando a disponibilidade de água no solo e as chuvas que nessa época ainda ocorrem na região.

 

            Na época do verão, as culturas de soja e cana-de-açúcar são as principais fontes de renda. A cultura tradicional que precede o milho safrinha é a soja de verão, e seu principal fator de risco de perda são os veranicos prolongados que podem ocorrer durante todo o ciclo da  cultura, podendo causar prejuízos que podem chegar em alguns anos de 80% a 100%,  em alguns casos.

 

2. TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO

 

2.1 Semeadura

 

Na região, o milho safrinha é plantado no período compreendido entre a segunda quinzena de fevereiro a 30 de março, e 70% dos agricultores realizam o plantio até 10 de março, considerada a época em que ocorre o maior potencial  produtivo,  com menor risco para os híbridos e as variedades.

 

            Os produtores utilizam o sistema de plantio direto em 50% das áreas, e o restante da área, com o sistema de preparo reduzido do solo ou cultivo mínimo, cujo preparo do solo é realizado com o uso de grade intermediária e posterior plantio.

 

             O produtor não costuma antecipar a colheita da soja com dessecação, a não ser quando ocorrem infestações de plantas daninhas, por problemas de falha no controle químico ou mecânico, quando se utiliza esse procedimento.

 

            As principais cultivares  utilizadas são: DKB-350, DKB-435, CO-32, AGM-2012, AGM-3050, Agroceres-7575, Exceler e Fort e as variedades da CATI. O número médio das cultivares por propriedade varia de 2 a 3. O critério para a escolha das cultivares é o exemplo do vizinho, Dias de Campo e resultados de avaliação de cultivares,  e o ciclo das cultivares não é um fator importante na região.

 

A população de plantas normalmente varia de 40.000 a 45.000 plantas  por hectare e o espaçamento mais utilizado é de 0,90 m . A maioria dos produtores não realiza tratamento de semente na safrinha, sendo mais comum o uso dessa tecnologia na safra de verão.

 

2.2 Caracterização dos solos e adubação

A maioria dos solos da Região Norte é de Latossolo Roxo da antiga nomenclatura.

A adubação utilizada  na safrinha é em torno de 130 a 210 kg/ha, sendo mais usada as fórmulas 3-15-15 e 04-20-20. A adubação de cobertura é realizada 30 dias após o plantio, sendo mais utilizada a fórmula 20-00-20 ou sulfato de amônio na dosagem de 100 kg/ha, em anos que ocorrem boa precipitação pluvial.

 

2.3 Controle de plantas daninhas

            As espécies de plantas daninhas mais freqüentes na região são: timbete, apaga-fogo, trapoeiraba, picão preto e capim colchão; a trapoeiraba é a de mais difícil controle, não ocorrendo até o momento plantas daninhas com resistência ao controle químico. O controle é realizado 60% com produtos químicos e 40% com a utilização de cultivadores mecânicos.

 

A maioria dos produtores que utiliza o sistema de plantio direto realiza a dessecação em pré-plantio, sendo mais utilizado o herbicida glifosato na dosagem de 2 litros/ha. Para o controle de plantas daninhas em pós-emergência, o herbicida mais utilizado é a atrazina com dosagem de 2 litros/hectare.

 

2.4 Controle de pragas

            As pragas mais comuns são a lagarta do cartucho, lagarta elasmo, lagarta rosca e percevejo castanho, todos de difícil controle; o controle do percevejo castanho é o mais difícil de ser realizado, devido ao hábito da praga. O controle das pragas utilizado na safrinha é o químico, aplicando-se inseticidas em pulverização como o carbamato Lannate (0,6 litros/ha) e  fisiológicos como Lufenuron (Match/300 mL/ha).

   O tratamento de sementes com inseticidas é pouco utilizado em milho safrinha.

 

2.5 Controle de doenças

            Na região, normalmente ocorrem doenças foliares, sendo as mais comuns a  Phaeosphaeria, ferrugem comum e o enfezamento (plantio de fevereiro).

 

Geralmente, os produtores, mesmo constatando a ocorrência de doenças, não realizam o controle, exceto em áreas irrigadas, onde se utilizam fungicidas quando necessário, principalmente em áreas destinadas à produção de sementes.

 

2.6 Colheita

            A produtividade do milho safrinha tem oscilado na região devido à ocorrência de estiagem prolongada (Tabelas 2 a 6). Nos últimos cinco anos, a produtividade média ficou em 2.079 kg/ha, sendo de 3.288 kg/ha, na safra 2003/04; a menor média foi a obtida na safra de 2000/01, sendo de apenas 1.139 kg/ha.

 

Tabela 2.  Previsões e estimativas das safras agrícolas, ano agrícola de 2000/01.

 EDR

 Milho safrinha

Área
(ha)

Produção
(sc.60 kg)

Rendimento
(sc/ha)

Barretos

23.205

345.975

14,91

Jaboticabal

860

29.750

34,59

Orlândia

51.900

1.052.100

20,27

Ribeirão Preto

930

33.000

35,48

Total

76.895

1.460.825

18,99

Estado

336.369

14.196.009

42,20

Fonte: Instituto de Economia Agrícola e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral.

 

Tabela 3.  Previsões e estimativas das safras agrícolas, ano agrícola de 2001/02.

 EDR

Milho safrinha

Área
(ha)

Produção
(sc.60 kg)

Rendimento
(sc/ha)

Barretos

24.292

364.700

15,01

Jaboticabal

      920

30.950

33,64

Orlândia

46.140

1.168.390

25,32

Ribeirão Preto

1.186

42.170

35,56

Total

72.538

1.606.210

22,14

Estado

325.827

11.786.877

36,18

Fonte: Instituto de Economia Agrícola e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral

 

Tabela  4.  Previsões e estimativas das safras agrícolas, ano agrícola de 2002/03.

 EDR

Milho safrinha

 Área
(ha)

Produção
(sc.60 kg)

Rendimento
(sc/ha)

Barretos

23.267

1.169.870

50,28

Jaboticabal

883

31.900

36,12

Orlândia

28.596

1.409.372

49,29

Ribeirão Preto

925

40.880

44,19

Total

53.671

2.652.022

49,41

Estado

340.326

19.662.593

57,78

Fonte: Instituto de Economia Agrícola e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral.

 

Tabela 5.  Previsões e estimativas das safras agrícolas, ano agrícola de 2003/04

 EDR

 Milho safrinha

Área
(ha)

Produção
(sc.60 kg)

Rendimento
(sc/ha)

Barretos

25.760

1.334.702

51,81

Jaboticabal

625

18.900

30,24

Orlândia

24.450

1.431.800

58,56

Ribeirão Preto

450

24.900

55,33

Total

51.285

2.810.302

54,80

Estado

348.858

17.995.738

51,58

Fonte: Instituto de Economia Agrícola e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral

 

 

Tabela 6.  Previsões e estimativas das safras agrícolas, ano agrícola de 2004/05,  setembro de 2005

 EDR

 Milho safrinha

Área
(ha)

Produção
(sc.60 kg)

Rendimento
(sc/ha)

Barretos

24.814

776.740

31,30

Jaboticabal

330

14.500

43,94

Orlândia

24.650

579.000

23,49

Ribeirão Preto

800

42.500

53,12

Total

50.594

1.412.740

27,92

Fonte: Coordenadoria de Assistência Técnica Integral.

 

A maioria dos agricultores dispõe de colheitadeiras próprias, mas os pequenos recorrem ao vizinho ou a terceiros para efetuarem sua colheita. O aluguel da máquina é em porcentagem da produção, em torno de 6% ou 6 sacas de milho/hectare, colhendo com 16 % de umidade. Na região, não tem ocorrido problema de milho ardido na colheita.

 

3. COMERCIALIZAÇÃO E LUCRATIVIDADE

 

            O preço médio pago pela saca de milho na safra de verão (julho) foi de  R$ 14,00 em 2003 e R$ 14,80 em 2004.  Já o milho safrinha foi comercializado em 2003 a R$ 15,00 e a R$ 13,50 em 2004 (outubro). Foi estimada uma rentabilidade para a Cultura de Milho em 2004 em R$ 400,00/ha para o ciclo de verão e de R$ 210,00/ha para a cultura de safrinha (produtividade verão = 100 sc/ha; safrinha =  35 sc/ha).

 

A comercialização do milho safrinha é efetuada cerca de 70% logo após a colheita e o restante(30%) é armazenado para comercialização posterior. O milho colhido na safrinha tem& nbsp; liquidez, sendo fácil sua comercialização. Os principais compradores são: Cooperativa Carol, Empresas como Campofértil e Armazéns Gerais Ipuã. Quando o produtor vai esperar mercado favorável, deposita nesses  armazéns onde provavelmente farão a comercialização.

 

4.  CONCLUSÕES

 

            Atualmente existe uma expectativa de diminuição de área plantada com a cultura de milho safrinha na região, devido a vários fatores, como ocorrência de frustração de safras, a opção de alguns produtores pela cultura do sorgo. A possibilidade da introdução de culturas alternativas como girassol e nabo branco, para serem utilizados em extração do Biodiesel, vem sendo propostas  por empresários que já atuam em outras regiões do País, e o principal fator é o avanço da cana-de-açúcar em áreas compradas ou arrendadas pelas usinas da região,  onde predominavam o cultivo de grãos.

 

            Por outro lado, o milho safrinha tem sido cultura de grande importância econômica na região. Para que ocorra uma evolução na área plantada em curto espaço de tempo, seria necessária uma política pública, além  da ocorrência de condições climáticas favoráveis.

 

 

 REFERÊNCIAS

 

CASER, D.V.; CAMARGO, A.M.M.P.; FRANCISCO, V.L.F.S.;  et  al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do Estado de São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v.31, n.11, p.89-101, 2001.

CASER, D.V.; CAMARGO, A.M.M.P.; FRANCISCO, V.L.F.S.;  et  al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do Estado de São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v.32, n.10, p.93-105, 2002.

CASER, D.V.; CAMARGO, A.M.M.P.; FRANCISCO, V.L.F.S.;  et  al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do Estado de São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v.33, n.11, p.117-129, 2003.

CASER, D.V.; CAMARGO, A.M.M.P.; OLIVETTE,M.P.A.;  et  al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do Estado de São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v.34, n.11, p.101-113, 2004.

CASER, D.V.; CAMARGO, A.M.M.P.; GHOBRIL,C.N.;  et  al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do Estado de São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v.35, n.8, p.98-16, 2005.

 

* Palestra proferida no VIII Seminário Nacional de Milho Safrinha, realizado em Assis de 21 a 23 de novembro de 2005 e publicada nos Anais do evento (impresso e CD-Rom)


 Arlindo Clemente Filho - CATI/Casa da Agricultura de Ipuã. Avenida Rui Barbosa, 760, 14610-000 Ipuã (SP). E-mail: garso@netsite.com.br

Paulo César da Luz Leão - CATI, Escritório de Desenvolvimento Rural de Orlândia, Rua 8, n.º 946, 14620-000 Orlândia (SP). E-mail: pauloleao@netsite.com.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

CLEMENTE FILHO, A.; LEÃO, P.C.L.  Sistema de produção de milho safrinha na região norte do estado de São Paulo. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_4/MilhoNorte/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 04/11/2008

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