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A cultura da mandioca no RS: pesquisa associada e integração de esforços para a valorização da cultura

 

por José Ernani Schwengber

 

A mandioca (Manihot esculenta Crantz) é uma planta cujo centro de origem é o continente americano, provavelmente o Brasil Central, mas com indícios de cultivo por civilizações pré-incaicas há 4 mil anos na América Central, Venezuela, Colômbia e Peru. Os nativos americanos foram os responsáveis por sua disseminação no Continente, enquanto os portugueses a difundiram para o restante do mundo, especialmente a África e Ásia, hoje os maiores produtores mundiais.

Por ser bastante rústica, com grande adaptação a solos de baixa fertilidade e por usar o recurso água de forma bastante eficiente, a mandioca é uma cultura tradicionalmente associada à agricultura de pouca base tecnológica, mas com grande apelo à segurança alimentar de produtores familiares de diversos países.

A produção mundial de mandioca para o ano de 2008, estimada pela FAO, é da ordem de 238.450 milhões de toneladas, sendo que o Brasil é o terceiro maior produtor mundial com 26.300 milhões de toneladas, atrás da Nigéria (49.000 milhões de toneladas) e da Tailândia (29.150 milhões de toneladas).

O Estado do Rio Grande do Sul apresenta vocação para as pequenas propriedades agrícolas familiares, nas quais a mandioca sempre foi uma cultura de importância, servindo tanto para alimentação humana quanto para a alimentação animal. O Estado é o quinto maior produtor brasileiro, produzindo um total de 1.220.412 toneladas, atrás dos Estados da Bahia, Pará, Maranhão e Paraná, destacando-se os municípios de Rio Pardo com 36.667 toneladas, Venâncio Aires com 33.121 toneladas, Triunfo com 29.000 toneladas, São Pedro do Sul com 25.472 toneladas, Frederico Westphalen com 21.750 toneladas e Santa Maria com 21.240 toneladas.

Embora sua importância nos agroecossistemas familiares permaneça até hoje por sua rusticidade e produtividade, o valor agroindustrial da mandioca foi gradativamente reduzido a partir dos anos 70 no RS, principalmente devido aos incentivos a outras culturas como o trigo e a soja. Atualmente, a industrialização da mandioca é quase inexistente no estado, seu comércio é feito de forma eventual em feiras para consumo in natura, como aipim ou para algumas poucas farinheiras de pequeno porte, e sua parte aérea usada para alimentação animal. São visíveis, porém, mudanças no cenário industrial de processamento de mandioca no Brasil, ocorrendo o surgimento de novas fecularias e o fortalecimento de parcerias entre as indústrias nacionais e multinacionais, devido ao crescimento mundial do mercado de amido modificado. Também o debate atual sobre o desenvolvimento sustentável, a busca por fontes renováveis de energia e por alternativas à cultura do tabaco, colocou a mandiocultura novamente em evidência, como potencial ocupante de parte desse espaço.

A grande diversidade de usos da mandioca na agropecuária, como fonte de energia na alimentação humana e na alimentação animal (a farinha de folhas possui teores de 27% de proteína), encontra respaldo também na indústria. O aproveitamento da mandioca se dá em diversos complexos agroindustriais: farinhas e raspas para panificação e rações balanceadas para diversas espécies animais; amido para a indústria alimentícia, têxtil, farmacêutica, de papel e celulose, calçadista, cervejeira, de embutidos de origem animal, de tintas, petrolífera e até de explosivos; e álcool, tanto carburante quanto para fins alimentícios, farmacológicos e laboratoriais, sendo a fécula (amido) o principal subproduto da mandioca.

Desta forma, no contexto que se desenha para os próximos anos, a cultura da mandioca representa uma alternativa altamente interessante para os agricultores, necessitando, entretanto, que a pesquisa com a cultura seja qualificada.

Nesse sentido, a Embrapa Clima Temperado, juntamente com a Fepagro/RS, a Emater/Ascar, a Embrapa Mandioca e Fruticultura, a Embrapa Cerrados, a Epagri/SC, o Iapar/PR e o IAC/SP, está trabalhando na perspectiva da identificação, geração e adaptação de cultivares de mandioca aos diferentes agroecossistemas do estado do RS, como forma de sistematizar práticas de manejo e desenvolver processos para o aproveitamento integral da cultura.

O trabalho consiste inicialmente em identificar os materiais genéticos já cultivados nos diferentes agroecossistemas do RS e suas potencialidades. Posteriormente, a introdução de novas cultivares oriundas dos bancos de germoplasma da Embrapa Mandioca e Fruticultura, do IAC, da Epagri e do Iapar, e sua avaliação comparativa aos materiais localmente cultivados possibilitarão definir as potencialidades produtivas das cultivares e sua avaliação de uso.

Com isso, a Embrapa Clima Temperado, juntamente com seus parceiros, espera contribuir na geração do conhecimento, tecnologias e formas de geração de renda para o desenvolvimento da agricultura familiar.


José Ernani Schwengber possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Pelotas (1991), mestrado em Agronomia pela Universidade Federal de Pelotas (1995) e doutorado em Agronomia pela Universidade Federal de Pelotas (2001). Atualmente é pesquisador III da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Clima Temperado. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fitotecnia, tendo atuado como Professor da Universidade Federal de Pelotas e como extensionista da Emater/RS. Atua principalmente com pesquisa em Agroecologia (sistemas de produção de base ecológica) e Horticultura.
Contato: jernani@cpact.embrapa.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

SCHWENGBER, J.E.  A cultura da mandioca no RS: pesquisa associada e integração de esforços para a valorização da cultura. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_4/MandiocaRS/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 20/12/2008

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