Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com Clamidofilose por Rosa Maria Piatti As bactérias da família Chlamydiaceae são capazes de infectar uma grande variedade de organismos, incluindo aves, mamíferos e répteis. Atualmente essa família agrupa dois gêneros, Chlamydia e Chlamydophila, responsáveis por infecções nos animais e no homem, com manifestações clínicas variadas na dependência das espécies envolvidas. Nos ruminantes, as infecções por clamidófilas são reconhecidas mundialmente como causa de prejuízos econômicos, principalmente em razão de distúrbios reprodutivos, além de constituírem-se em risco à saúde humana, sendo reconhecido seu potencial zoonótico, com relatos de doença grave em gestantes expostas ao agente. Esses microrganismos possuem DNA e RNA, apresentam parede celular semelhante à das bactérias Gram negativas, sintetizam suas próprias proteínas e são sensíveis a alguns antibióticos, como as tetraciclinas. Apresentam um ciclo de desenvolvimento único, onde são reconhecidas duas principais formas morfológicas: os corpúsculos elementares e os corpúsculos reticulados. O corpúsculo elementar é a forma infecciosa do microrganismo, responsável pela ligação à célula hospedeira e pela sua internalização. O corpúsculo reticulado é a forma intracelular do microrganismo, metabolicamente ativa e capaz de dividir-se por fissão binária. O ciclo de desenvolvimento dura, em média, de 48 a 72 horas, iniciando-se com a adesão e penetração do corpúsculo elementar na célula hospedeira, por um processo que envolve ligação a receptores da membrana das células epiteliais. A clamidofilose genital é uma doença de distribuição mundial, afetando ovinos, bovinos e caprinos, com freqüência variada nos diversos países. É considerada a principal causa de abortamentos em ovinos. Animais infectados por Chlamydophila abortus podem apresentar uma variedade de quadros. Nos machos, são relatados quadros de orquite, epididimite e vesiculite seminal, com isolamento de clamidófilas a partir do sêmen. Nas fêmeas, a principal manifestação da doença é o abortamento no terço final da gestação, apresentando natimortalidade, endometrite e baixas taxas de concepção. O isolamento do agente é realizado a partir de amostras de placenta, órgãos de fetos abortados, secreção vaginal e sêmen, seguido da identificação através das características da inclusão em cultura celular. Outros métodos de detecção do agente são utilizados como, por exemplo, colorações diferenciais em amostras clínicas ou cortes de tecidos, imunofluorescência direta, ELISA e técnicas de detecção de DNA pela reação em cadeia pela polimerase. Para detecção de anticorpos anti-Chlamydophila, é utilizado o método da imunofluorescência indireta, ELISA e a reação de fixação do complemento, que é a recomendada pelo “World Organization for Animal Health” – OIE e utilizada nos programas de controle da doença. No Brasil, os dados sobre a prevalência da infecção por Chlamydophila são escassos. Há relatos isolados da presença do agente, embora nenhum deles a partir de casos de abortamento. Foi descrita a presença de anticorpos anti-Chlamydophila em bovinos nos Estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, e em caprinos e ovinos nos Estados de São Paulo, Pernambuco e Alagoas. A elevada freqüência de rebanhos apresentando animais positivos pela reação de fixação do complemento sugere que organismos do gênero Chlamydophila estão amplamente distribuídos nas regiões estudadas. A profilaxia da doença deve ser realizada por medidas de manejo, administração de quimioterápico e utilização de vacinas. As principais medidas de manejo são a segregação das parturientes e eliminação dos materiais contaminados, além da desinfecção das áreas contaminadas. No Brasil, não existe vacina comercialmente disponível até o momento. A clamidofilose é uma doença complexa e, apesar de conhecida e estudada há muito tempo, alguns pontos ainda não estão completamente elucidados. Um ponto que merece maior atenção é a importância da transmissão venérea na epidemiologia da doença, particularmente em bovinos, sendo sugerido que esta via, e a conseqüente infertilidade, tenha maior importância nesta espécie que o abortamento tardio. A avaliação do papel dos portadores, e sob que condições eliminam o agente pelo trato genital e/ou intestinal, é também um ponto crítico para a compreensão e controle da doença, sendo fundamental o aprimoramento de testes diagnósticos e o desenvolvimento de estudos que permitam elucidar estas questões. Os pesquisadores do Laboratório de Doenças Bacterianas da Reprodução, do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Sanidade Animal do Instituto Biológico, fazem o diagnóstico sorológico e molecular para Chlamydophila abortus. Bibliografia consultada
Brown, P.A.; Newman, J.A. Methods of chlamydial antigen detection.
Journal of American Veterinary Medical Association, v.195 n.11,
p.1567-70, 1989. Origem: Instituto Biológico - www.biologico.sp.gov.br
Rosa Maria Piatti,
com Doutorado em Microbiologia
pela Universidade de São Paulo e Pesquisador Científico V do
Instituto Biológico - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal.
Publicou 22 artigos em periódicos especializados e 43 trabalhos em
anais de eventos. Atualmente participa de 5 projetos de pesquisa,
sendo que coordena 1 destes. Atua na área de Microbiologia, e
Biologia Molecular, com ênfase em Microbiologia Aplicada. Em suas
atividades profissionais interagiu com 162 colaboradores em
co-autorias de trabalhos científicos. Em seu currículo Lattes os
termos mais freqüentes na contextualização da produção científica,
tecnológica e artístico-cultural são: Chlamydophila, Reação da
polimerase em cadeia (PCR), Clostridium perfringens,
Campylobacter jejuni, Brucella abortus, doença de
Aujeszky, RFLP, suíno, ovinos, caprinos e bovinos, sorologia.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): PIATTI, R.M. Clamidofilose. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_4/Clamidofilose/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 20/10/2008 |