Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com Solarização associada à matéria orgânica proporciona o controle de fitopatógenos termotolerantes habitantes do solo
César Júnior Bueno
A
solarização do solo é uma técnica desenvolvida em Israel, na década
de 70, para controlar fitopatógenos, pragas e plantas infestantes
por meio do aquecimento do solo via uso da energia solar. Essa
técnica consiste na cobertura do solo, previamente umedecido por
água de irrigação e/ou de chuva, com filme plástico transparente,
antes do plantio, durante o período de maior incidência de radiação
solar, nos meses do verão. Para maiores detalhes sobre a
solarização, consulte o artigo
“É tempo de solarizar”
no site Infobibos:
http://www.infobibos.com/Artigos/2008_1/index.htm. A solarização pode ser
utilizada para o controle de vários fitopatógenos, agentes causais
de importantes doenças, em muitas culturas, como murchas causadas
por várias espécies de Fusarium; lesões e podridões
radiculares causadas por Aphanomices cochlioides,
Bipolaris sorokiniana, Didymella lycopersici, Phytophthora cinnamoni,
P. cryptogea, Pyrenochaeta lycopersici, Pyrenochaeta terrestris,
Rosellinia necatrix, Sclerotinia minor, Sclerotinia sclerotiorum,
Sclerotium cepivorum, Sclerotium oryzae, Sclerotium rolfsii,
Thielaviopsis basicola, Verticillium albo-atrum e
Verticillium dahliae; damping-off (tombamento) causado por
Pythium spp. e Rhizoctonia solani, além de galhas
causadas por Agrobacterium tumefaciens e lesões em tubérculos
por Streptomyces scabies. A solarização é muito
utilizada em Israel, no Japão, na Espanha, na Itália e na Grécia por
vários agricultores. No Brasil, no entanto, a técnica é pouco
conhecida. Muitos agricultores não a adotam, devido as seguintes
situações: a) tempo necessário para o tratamento - imobilização da
área por, pelo menos, 30 dias; tempo esse necessário para que haja
efetividade da técnica para controlar os fitopatógenos, pragas e
plantas infestantes; b) relação custo/benefício para algumas
culturas e c) controle inconsistente para alguns fitopatógenos,
especialmente para os termotolerantes. Os fitopatógenos
termotolerantes possuem resistência a temperaturas elevadas e,
portanto, não são consistentemente controlados pelo emprego da
solarização, tais como os seguintes fungos de solo: a)
Macrophomina phaseolina, agente causal da podridão cinzenta do
caule em inúmeras culturas; b) algumas espécies de Fusarium
oxysporum, agentes causais de murchas em várias culturas e c)
Plasmodiophora brassicae, causador da hérnia das crucíferas. A eficiência da
solarização pode ser aumentada pela sua associação a outras
técnicas, tais como a incorporação de matéria orgânica ao solo,
antes do início do tratamento. Entre as vantagens desta associação,
encontra-se o fato de que o calor proporcionado pela solarização
pode acelerar o processo de decomposição dos resíduos orgânicos no
solo, podendo a decomposição aumentar ainda mais a temperatura do
solo. Ocorre uma rápida geração de atmosfera anaeróbica, ou seja,
baixo teor de oxigênio e alto de gás carbônico no solo. Os gases
gerados durante a decomposição ficam retidos sob o plástico, sendo
tóxicos aos propágulos de muitos fitopatógenos (já enfraquecidos
pelo calor), aumentando ainda mais a eficiência do processo. Como
conseqüência, muitas vezes, o período de tratamento pode ser
reduzido, obtendo-se o controle de vários fitopatógenos com períodos
de tratamento de apenas sete a 15 dias. Para que os gases gerados
durante a decomposição do material orgânico fiquem retidos sob o
plástico, é importante que o filme plástico seja um pouco mais
espesso (100-150µm) que o plástico convencionalmente empregado para
a solarização (50-75µm). O prévio emprego de resíduos de brássicas tem recebido atenção por parte dos pesquisadores envolvidos com o controle de fitopatógenos do solo termotolerantes ou inconsistentemente controlados pela solarização normal (Figura 1). Além dos efeitos diretos e indiretos já proporcionados pela técnica normal, há as seguintes novas situações ocorrendo nesse sistema de solarização: a) retenção dos compostos voláteis fungitóxicos, emanados pela rápida degradação do material orgânico previamente incorporado, pelo plástico mais espesso; b) rápida geração de atmosfera anaeróbica, ou seja, baixo teor de oxigênio e alto de gás carbônico; c) incremento a mais no aumento da temperatura do solo proporcionado pela decomposição do material orgânico e d) diminuição no tempo do tratamento, que pode ser de sete a 15 dias.
A
solarização associada com prévia incorporação de brássicas pode ser
mais bem aceita pelos agricultores, devido ao menor tempo de
imobilização da área para tratamento e controle, também, de fungos
termotolerantes. No Brasil,
tanto em condições de laboratório, quanto de campo, já houve a
constatação da efetividade da solarização mais prévia incorporação
de brássicas para os fungos S. rolfsii, R. solani GA4
HGI, F. oxysporum f.sp. lycopersici raça 2 e M.
phaseolina. Em campo, a recomendação é incorporar 3 Kg/m2
de brássica, até 10 cm de profundidade, seguido de irrigação e
cobertura com filme plástico. As brássicas já testadas e com
eficiência comprovada são a couve (Brassica oleracea L. var.
acephala D.C.) e o brócolos (Brassica oleracea L. var.
italica Plenck). A associação tanto de couve quanto de
brócolos, seguido de solarização, já controlou F. oxysporum
f.sp. lycopersici raça 2 e M. phaseolina, ambos fungos
inconsistentemente controlados pela solarização normal, de maneira
precoce, já com sete a 14 dias após a aplicação do tratamento. Além da couve e do brócolos, novos materiais orgânicos podem ser associados com a solarização no controle de fungos fitopatogênicos habitantes do solo termotolerantes. Dentre esses novos materiais podemos citar o eucalipto [Eucalyptus grandis (Hill) Maiden], a mamona (Ricinus comunis L.) e a mandioca brava (Manihot esculenta L. Crantz.). No Brasil, em trabalho feito a campo, com todos esses novos materiais, constatou-se controle dos fungos S. rolfsii, M. phaseolina, F. oxysporum f.sp. lycopersici raça 2 e R. solani GA4 HGI, sendo esse controle, em alguns materiais, também, já com sete dias de tratamento (Figura 2). Um fato já constatado foi que alguns destes novos materiais podem controlar melhor um determinado fitopatógeno, demonstrando que pode haver, também, especificidade de certo gás fungitóxico para determinado fungo. Por exemplo, a solarização + eucalipto (3 Kg/m2) controla já com sete dias de tratamento os fungos F. oxysporum f.sp. lycopersici raça 2 e S. rolfsii, enquanto que a M. phaseolina e R. solani, nesse mesmo tratamento, só são controlados com 28 e 21 dias, respectivamente.
A solarização mais prévia incorporação de brássicas precisa ser testada em condições de patossistema natural a campo. Nos trabalhos de campo salientados, a ação dos materiais de brássicas e dos novos materiais, associados à solarização, incidiu somente sobre as estruturas de resistências dos fungos termotolerantes testados. A crescente demanda para diminuir impactos negativos da agricultura ao meio ambiente, a retirada do brometo de metila do mercado, fumigante eficiente sobre muitos fitopatógenos de solo, e a ineficiência de alguns fungicidas sobre fitopatógenos de solo, obriga a pesquisa científica a caminhar na busca por métodos alternativos de controle de doenças em plantas. Esses métodos alternativos, além de resolverem o problema das doenças nas plantas, ajudam na questão da sustentabilidade ambiental. A técnica da solarização do solo e agora com possibilidade de associá-la com prévia incorporação de resíduos de brássicas, em função de suas vantagens e possíveis aplicabilidades, é uma possibilidade potencial e ambientalmente segura para resolver graves problemas de solos infestados, principalmente por fungos fitopatogênicos termotolerantes ou inconsistentemente controlados pela solarização normal.
Bibliografias consultadas
AMBRÓSIO, M.M.Q.;
BUENO, C.J.; SOUZA, N.L. Sobrevivência de Macrophomina phaseolina
em solo incorporado com brócolos seguido de solarização. Summa
Phytopathologica, Botucatu, v. 30, n.3, p. 364-370, 2004. AMBRÓSIO, M.M.Q. Sobrevivência em microcosmo e em campo solarizado de fitopatógenos submetidos à fermentação acelerada de diferentes materiais orgânicos. 2006. 110 f. Tese (Doutorado em Agronomia/Proteção de Plantas) – Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2006.
BUENO, C.J.; AMBRÓSIO, M.M.Q.; SOUZA, N.L.; CERESINI, P.C. Controle de Fusarium oxysporum f.sp. lycopersici raça 2, Macrophomina phaseolina e Sclerotium rolfsii em microcosmo simulando solarização com prévia incorporação de couve (Brassicae oleracea var. acephala L.). Summa Phytopathologica, Botucatu, v. 30, n.3, p. 356-363, 2004.
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GHINI, R.
GHINI, R., BETTIOL, W. Controle físico. In: BERGAMIN FILHO, A., KIMATI, H., AMORIM, L. (Eds.) Manual de Fitopatologia. Princípios e Conceitos. São Paulo: Agronômica Ceres, 1995. v.1, p. 786-803.
PATRÍCIO, F.R.A; SINIGAGLIA, C. Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) / Instituto Biológico. É tempo de solarizar. Campinas, 2008. Disponível em: < http://www.infobibos.com/Artigos/2008_1/index.htm >. Acesso em: 02 jul. 2008.
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SOUZA, N.L. Solarização do solo. Summa Phytopathologica, Jaguariúna, v.20, p. 3-15, 1994.
César Júnior Bueno
possui
graduação em Faculdade de Engenharia Agronômica pelo Centro de
Ciências Agrárias - UFSCar (1999) , mestrado em Proteção de Plantas
pela Faculdade de Ciências Agronômicas - UNESP (2001) e doutorado em
Proteção de Plantas pela Faculdade de Ciências Agronômicas - UNESP
(2004) . Atualmente é Pesquisador Científico I da
APTA / Instituto Biológico –
Centro Experimental Central e
Revisor de periódico da Summa Phytopathologica. Tem experiência na
área de Agronomia , com ênfase em Fitossanidade. Atuando
principalmente nos seguintes temas: estruturas de resistência,
Fitopatógenos de solo, preservação, metodologias. E-mail: cjbueno@biologico.sp.gov.br
Flávia
Rodrigues Alves Patrício
possui graduação em Engenharia Agronômica pela
Universidade de São Paulo (1982), mestrado em Agronomia
(Fitopatologia) pela Universidade de São Paulo (1991) e doutorado em
Agronomia (Fitopatologia) pela Universidade de São Paulo (2000).
Atualmente é Pesquisadora Científica
da APTA / Instituto Biológico –
Centro Experimental Central. Tem
experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fitopatologia,
atuando principalmente nos seguintes temas: Trichoderma spp.,
Fusarium spp., Rhizoctonia solani, Colletotrichum
gossypii e Botryodiplodia theobromae. E-mail: flavia@biologico.sp.gov.br
Celso Sinigaglia é Pesquisador científico da APTA / Instituto Biológico – Centro Experimental Central. Possui especialização em Defensivos agrícolas - Utilização, toxicologia ... pela Universidade Federal de Viçosa (1987) .
(Texto baaseado
no CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/8072415796526000)
Dados para citação bibliográfica(ABNT): BUENO, C.J., PATRÍCIO, F.R.A. SINIGAGLIA, C. Solarização associada à matéria orgânica proporciona o controle de fitopatógenos termotolerantes habitantes do solo. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_3/solarizacao/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 10/08/2008 |