Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com Pimentas - um tempero pra lá de antigo
Rosa Lía Barbieri Elisabeth Regina Tempel Stumpf
Muito antes da chegada de Colombo às Américas, as pimentas do gênero Capsicum (que incluem a pimenta vermelha, a pimenta-de-cheiro e a pimenta malagueta) já eram amplamente usadas nas Américas Central e do Sul, no Caribe e no México. Os registros mais antigos do cultivo de pimenta são encontrados em sítios arqueológicos em Tehuacán, no México, e datam de cerca de 9 mil anos. Frutos de Capsicum eram usados pelos astecas para condimentar uma bebida à base de sementes de cacau, o tchocoatl, precursor do chocolate. No Brasil, na época da chegada dos europeus, o cultivo de pimentas era prática comum entre os indígenas. Interessantes relatos sobre as pimentas cultivadas pelos índios brasileiros no século 16 foram feitos pelo alemão Hans Staden. Após o naufrágio do navio em que viajava, ele foi aprisionado pelos índios no litoral fluminense, vivendo entre os tupinambás de 1547 a 1555. Staden relatou suas aventuras e a rotina dos indígenas com os quais conviveu em um livro, publicado na Alemanha, em 1557. Neste livro, descreveu as pimentas que os selvagens plantavam para comer, uma amarela e outra vermelha, comparando seus frutos, quando verdes, aos frutos da roseira de espinhos. O autor relata que os índios as colhiam quando maduras e as secavam ao sol. Ele também registrou a maneira como as pimentas eram usadas para expulsar os inimigos. Os índios faziam grandes fogueiras e, quando o vento soprava, colocavam ali grandes porções de pimenta, cuja fumaça, atingindo as cabanas, obrigava os adversários a fugir. Seus relatos descrevem ainda o comércio entre índios e franceses, cujos navios aportavam na costa brasileira em busca de produtos locais. Além do cobiçado pau-brasil, os franceses levavam pimentas, macacos e papagaios, dando, em troca, “presentes” duvidosos, como facas, machados, pentes, guizos, anzóis, pano ordinário e espelhos. As pimentas eram plantas muito valorizadas entre os indígenas, geralmente ficando em segundo lugar apenas quando comparadas aos principais produtos - o milho e a mandioca. As pimentas também desempenhavam um importante papel nas cerimônias religiosas e mitos. O primeiro registro europeu sobre as pimentas do gênero Capsicum aparece em uma carta escrita em 1493, por um espanhol, que relatava que Cristóvão Colombo havia encontrado uma planta cujos frutos eram bastante consumidos pelos nativos e que era picante como a pimenta-do-reino ou pimenta-preta (Piper nigrum). A pimenta-do-reino, de origem asiática, já era amplamente usada pelos europeus muito antes da época das grandes navegações.
Na Europa, o primeiro impacto que as plantas levadas
por Colombo causaram foi devido à estética dos frutos, com cores e
formatos atraentes, passando então a ser cultivadas com fins
ornamentais. Após poucas décadas, no entanto, a utilidade dos frutos
na culinária foi reconhecida, e seu cultivo se disseminou pela
região mediterrânea. As “novas” pimentas se disseminaram muito
rapidamente através das rotas de especiarias da Europa para a
África, Índia, China e Japão. O novo condimento foi incorporado
quase instantaneamente na culinária de diversos países da Europa, da
África e da Ásia. Mesmo no Oriente, apesar de ser a terra das
especiarias e onde parecia difícil aceitar uma nova substância
picante, Capsicum atingiu uma grande difusão. Lá foi chamada
de “pimenta dos pobres”, por ser incomparavelmente mais barata do
que a pimenta-do-reino e ter semelhante sabor, ardente e picante.
Rosa Lía
Barbieri é Pesquisadora da Embrapa Clima Temperado.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): BARBIERI, R.L.; STUMPF, E.R.T. Pimentas - um tempero pra lá de antigo. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_3/Pimentas/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 15/07/2008 |