Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com

PRODUÇÃO DE MORANGO USANDO A TÉCNICA DA HIDROPONIA VERTICAL

Pedro Roberto Furlani 
Flávio Fernandes

         A hidroponia vertical em substrato, técnica conhecida na Europa desde a década de 70, foi adaptada para as nossas condições, em trabalho que fez parte da tese de mestrado do engenheiro agrônomo Flávio Fernandes do curso de pós-graduação em Agricultura Tropical e Subtropical do Instituto Agronômico.

          O morangueiro é tradicionalmente cultivado em campo, em canteiros geralmente cobertos com plástico preto. O espaçamento entre as plantas fica em geral entre 30x30cm e 30x35cm, resultando no plantio de 65 a 80 mil plantas/ha, de acordo com o espaçamento e a área de carreadores.

A irrigação é imprescindível e geralmente realizada por aspersão. Doenças associadas ao solo, causadas por fungo ou bactéria, tem constituído a principal causa de perdas para a cultura.

Plantio convencional

 

          A hidroponia horizontal — cultivo em estufa sem solo no sistema de bandejas horizontais — já é uma técnica conhecida e utilizada no Brasil para diversas espécies, inclusive para o morangueiro. Nesse sistema, internacionalmente conhecido pela sigla NFT (técnica de fluxo laminar de nutrientes, em inglês), as plantas são mantidas em canaletas de chapas onduladas de cimento amianto (telhas) ou tubos de plástico, pelos quais circula solução nutritiva com formulação adequada para a espécie cultivada.

          A hidroponia vertical - aproveita vantagens da hidroponia horizontal e adiciona outras, especialmente a referente ao melhor aproveitamento da área de estufas. É técnica relativamente simples que consiste em plantar as mudas em compridas sacolas ou tubos de polietileno, recheados com substrato e irrigadas com a solução hidropônica (fertirrigação). O substrato é o suporte onde as plantas fixam suas raízes e que também retém solução nutritiva.

          Na adaptação da tecnologia feita no IAC, como substrato foi usada a casca de arroz carbonizada. A casca de arroz carbonizada é estável física e quimicamente, o que a torna mais resistente à decomposição, sendo provável que um mesmo substrato possa ser usado durante duas safras consecutivas. O destino da palha de arroz algumas vezes constitui problema para indústrias de beneficiamento, sendo que a opção de ser consumida como substrato na produção de morangos pode se tornar de interesse para essas indústrias.

 

Hidroponia horizontal

 

          Apesar de a casca de arroz carbonizada constituir um bom substrato, outras opções estão sendo testadas no Instituto Agronômico, como fibra de coco e casca de arroz não carbonizada em mistura com vermiculita. É provável que substratos para plantio em bandejas já disponíveis no nosso mercado também possam ser utilizados em sistema de hidroponia vertical.

 

Hidroponia vertical:
beleza põe mais morango na mesa

          As sacolas tubulares utilizadas na hidroponia vertical têm cerca de dois metros de comprimento e 20 cm de diâmetro, com volume em torno de 63 litros, sendo que no momento de sua colocação o substrato deve ser ligeiramente compactado. Depois de preenchidas casca de arroz carbonizada, as sacolas são penduradas na posição vertical em suportes instalados na estrutura da estufa, dispostas em linhas distanciadas de 1,2 m e com espaçamento de 1 m nas linhas.

          O transplante das mudas deve ser realizado com o substrato previamente umedecido apenas com água. Em cada sacola tubular são feitas 28 covas, inclinadas 45º para cima em relação à superfície sacola. As covas são feitas com o uso de tolete cilíndrico de madeira com diâmetro semelhante ao do torrão da muda, introduzido em pontos previamente marcados por dois cortes em X, distribuídos em quatro linhas radiais eqüidistantes, apresentando cada linha sete covas espaçadas de 25 cm. O número médio de plantas por m2 de estufa na hidroponia vertical fica em torno de 23, ou seja, quase o triplo daquele usado no plantio convencional em canteiros.

          A adubação das plantas é feita por fertirrigação: a solução nutritiva é aplicada uma ou duas vezes por dia em função da temperatura e do estágio de desenvolvimento das plantas. A fertirrigação é realizada por meio de um sistema hidráulico basicamente constituído por um depósito para solução nutritiva, moto-bomba, filtro e tubulações. Cada sacola recebe de dois a quatro difusores de fluxo ajustável. De acordo com o estágio de crescimento das plantas e as condições climáticas, o consumo diário de solução nutritiva varia de 3 a 6 litros por sacola. Recomenda-se que a capacidade mínima do depósito para solução nutritiva fique em torno de mil litros para cada grupo de cem sacolas.

          O preparo e o manejo da solução nutritiva são realizados de forma semelhante nos sistemas horizontal e vertical de hidroponia. Inicialmente são preparadas três soluções concentradas (A, B e C), dissolvendo-se em água diferentes sais ou fertilizantes, conforme indicado em tabela.

          Durante uma safra, usando-se soluções concentradas, são preparadas duas soluções iniciais, uma delas no momento do transplante das mudas de morangueiro nas sacolas (fase vegetativa) e, a segunda, no início da frutificação (fase de frutificação). Os volumes e os tipos de soluções concentradas necessários para o preparo de mil litros das soluções iniciais estão indicados em tabela.

Soluções concentradas de nutrientes 
Sais ou fertilizantes  Solução concentrada
(gramos/10 litros)
Nitrato de cálcio  1600  -----  ----- 
Nitrato de potássio  -----  1000  1000 
Fosfato monoamônico  -----  300  ----- 
Fosfato monopotássico  -----  360  720 
Sulfato de magnésio  -----  1200  1200 
Ácido bórico  6,0  -----  ----- 
Sulfato de cobre  0,6  -----  ----- 
Sulfato de manganês  4,0  -----  ----- 
Sulfato de zinco  2,0  -----  ----- 
Molibdato de sódio  0,6  -----  ----- 
Tenso Fé  120  -----  ----- 

 

Preparo das soluções iniciais
Fase da cultura  Solução concentrada 
(litros/1000 litros)
Vegetativa * 3,0  3,0  ----- 
Frutificação ** 3,0  -----  3,0 
*   Do transplante das mudas até o início da frutificação
** Do início da frutificação em diante

          A condutividade elétrica (CE) das soluções iniciais, tanto para a fase vegetativa como para a de frutificação, deve ficar em torno de 1,4- 1,5 mS/cm. À medida que a solução for sendo consumida novos volumes preparados, conforme já indicado anteriormente, deverão ser periodicamente adicionados ao reservatório. Pode ser mais prático simplesmente encher novamente o tanque com água, sem necessidade de medir o volume da solução que sobrou do preparo anterior e fazer o ajuste da concentração de nutrientes por adição de volumes iguais das soluções concentradas A e B (fase vegetativa) ou A e C (fase de frutificação), de acordo com a diminuição no valor da condutividade elétrica da solução ocorrida após a adição da água. Para cada 0,3 mS/cm de diminuição na CE acrescenta-se 20% dos volumes usados para o preparo da solução inicial.

          A hidroponia vertical reduz custos e otimiza a ocupação de estufas. Ela permite, sobretudo, grande ganho de espaço nas estufas, possibilitando um número muito maior de plantas por área do que a hidroponia NFT e o plantio convencional. A produção de frutos da hidroponia vertical foi 100% superior à da horizontal e 120% maior do que a de canteiro. A hidroponia vertical possibilita ainda sensível redução no gasto de água e energia em relação ao cultivo tradicional em canteiros.

          Apesar de a produção de frutos por planta ser menor no sistema vertical de hidroponia que no horizontal ou no plantio convencional, há possibilidade de melhor aproveitamento interno do ambiente protegido, com reflexos no aumento do rendimento por área e maior facilidade de manejo da cultura, incluindo as operações de transplante, limpeza das plantas e colheita de frutos. Essas vantagens também se aplicam ao sistema hidropônico NFT, mesmo que não apresente grande diferença de produção em relação ao cultivo convencional no solo.

          O sistema de hidroponia vertical já está atraindo o interesse de produtores. Waldemar Carbonari, que produz morango há mais de 40 anos em Jundiaí, SP, foi um dos primeiros a adotar a novidade, instalando em 2001 duas estufas com sistema de hidroponia vertical.

          Segundo Carbonari, o controle de doenças no novo sistema pode ser feito com apenas 10% das aplicações de agrotóxicos exigidas pelo plantio convencional em campo. Mesmo para o único fungo mais propenso à difusão dentro das estufas - o oídio - o controle químico pode ser feito individualmente nas plantas atacadas e não no lote todo, evitando o problema de aguardar tempo de carência para colheita dos frutos. Diante do menor uso de agrotóxicos, Carbonari tenciona comercializar o morango resultante da hibroponia vertical como um produto diferenciado, mais saudável para consumo de mesa.

          Outra vantagem da hidroponia vertical está ligada ao posicionamento favorável dos frutos, geralmente suspensos no ar apenas pelo pedúnculo, o que permite que eles sejam colhidos mais maduros e conseqüentemente com melhor sabor. A operação de colheita é muito mais fácil do que no sistema tradicional de cultivo, o que permite reduzir perdas.

 

Hidroponia vertical permite um melhor aproveitamento da área de estufas

 

Carbonização de casca de arroz

           A carbonização é realizada utilizando-se uma manilha de barro apoiada sobre duas pilhas de tijolos com cerca de 15 cm de altura fazendo o papel de uma chaminé. A casca de arroz é depositada ao redor dessa estrutura deixando-se livre um dos lados para dar acesso ao interior da pilha de tijolos, ponto onde se inicia o fogo. O restante da área ao redor da chaminé é coberto com casca de arroz crua e, completado o processo, a massa carbonizada é esparramada e apagada. A queima caminha de dentro para fora do monte de casca de arroz e não se deve permitir a formação de chama. A casca carbonizada deve ser colocada nas sacolas de plástico somente fria, sendo que o resfriamento pode ser abreviado mediante o uso de água.

 
 Carbonização de casca de arroz produz bom substrato
 para hidroponia vertical do morangueiro

 

Artigo originário de O Agronômico, Campinas, 53(2), 2001


 

Pedro Roberto Furlani concluiu o doutorado em AGRONOMY - UNIVERSITY OF NEBRASKA em 1981. Atualmente é PESQUISADOR do Instituto Agronômico de Campinas e Outro (especifique) Professor colaborador da Universidade Estadual de Campinas. Publicou 60 artigos em periódicos especializados e 31 trabalhos em anais de eventos. Possui 12 capítulos de livros e 3 livros publicados. Possui 3 itens de produção técnica. Participou de 7 eventos no exterior e 17 no Brasil. Orientou 4 dissertações de mestrado e 1 tese de doutorado nas áreas de Agronomia, Botânica e Fisiologia. Recebeu 7 prêmios e/ou homenagens. Atualmente coordena 6 projetos de pesquisa. Atua na área de Agronomia, com ênfase em Ciência do Solo. Em suas atividades profissionais interagiu com 144 colaboradores em co-autorias de trabalhos científicos. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: solução nutritiva, cultivo protegido, hidroponia, Cultivo sem solo, alumínio, crescimento radicular, adubação, cultivo hidropônico, substrato e Exigência nutricional.

Contato: pfulani@iac.sp.gov.br

   
  Flávio Fernandes


Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

FURLANI, P.R.; FERNANDES, F. Produção de morango usando a técnica da hidroponia vertical. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_3/MorangoVertical/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 27/08/2008

Veja Também...