Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com Controle de macrófitas aquáticas Mônica Accaui
Marcondes de Moura e Mello Introdução As macrófitas aquáticas são plantas que apresentam grande capacidade de adaptação e amplitude ecológica, habitando ambientes variados de águas doce, salobra e salgadas, ambientes de água estacionária e corrente. Em sua maioria, são capazes de suportar longos períodos de seca. Na Figura 1 observam-se os cinco diferentes grupos que compõem a comunidade de macrófitas aquáticas.
Estas plantas são essenciais ao perfeito equilíbrio do ambiente aquático, sustentando um elevado número de organismos, diminuindo a turbulência das águas e, conseqüentemente, sedimentando os materiais em suspensão, principalmente naqueles pontos onde a mata ciliar foi suprimida. São também utilizadas como substrato para a desova e refúgio de vários organismos aquáticos, como peixes e insetos. Desenvolvimento Com a interferência humana no represamento dos corpos d´água e seu enriquecimento pela erosão do solo agricultável, além do aporte de esgotos de origem doméstica e industrial, tem ocorrido a eutrofização dos recursos hídricos. Devido a isso, há o desequilíbrio do ambiente aquático, causando a depleção da quantidade e qualidade da água dos mananciais e o comprometimento da fauna e flora associadas a eles. Um dos sintomas deste processo é a elevada proliferação das macrófitas aquáticas, que podem impedir os múltiplos usos dos recursos hídricos como, por exemplo, geração de energia elétrica, irrigação, navegação por hidrovias, pesca e recreação. Abaixo e nas Figuras 2 a 10 (Modificadas de Lorenzi, 2008²), se observam as principais características das espécies daninhas mais impactantes na atualidade.
A elodea (Egeria densa) e o candelabro-aquático (Ceratophyllum demersum) são duas espécies que têm causado grande prejuízo em reservatórios de usinas hidrelétricas. A primeira é uma planta daninha medianamente freqüente que infesta mananciais de água parada como lagos, lagoas e pequenas represas, e de pequena movimentação, como os canais de drenagem. Elas se desenvolvem abundantemente em ambientes eutrofizados, sendo que o candelabro-aquático é, ainda, tolerante a flutuações do nível de água, podendo atingir vários metros de profundidade. O capim-angola (Brachiaria mutica) é muito abundante em baixadas úmidas e de brejos, infestando canais de drenagem, beira de estradas e culturas perenes; é hospedeiro alternativo do agente causador da bruzone do arroz. Já o Tanner-grass (Brachiaria subquadripara), que também infesta lavouras cultivadas em locais úmidos como arroz irrigado e beira de canais, se ingerido por longos períodos, pode causar intoxicação severa no gado e levá-lo ao óbito em poucas semanas. A planta daninha aquática que causa mais problemas no país é o aguapé (Eichhornia crassipes), uma espécie muito vigorosa que dobra sua área a cada 6-7 dias, quando em condições ótimas de crescimento, chegando a produzir 480 toneladas de massa verde/ha/ano. Em segundo lugar aparece a alface d’água (Pistia stratiotes), uma espécie que cobre totalmente o ambiente aquático, desenvolvendo-se rapidamente nos ambientes poluídos e provocando profundas alterações no ecossistema. A cataia-gigante (Polygonum lapathifolium) e o capim-de-peixe (Echinochloa polystachya) crescem nas margens e leitos semi-secos de rios, lagoas e lagos; em ambientes turbulentos, desprendem-se do sedimento, formando ilhas flutuantes gigantescas, que oferecem grande perigo à navegação. Finalmente, o carrapatinho (Salvinia auriculata), uma espécie muito freqüente em mananciais de água parada ou pouco movimentada e que, assim como a alface d’água, cobre toda a sua superfície, bloqueando a passagem de luz solar e interferindo no ambiente aquático; chega a produzir 650g de biomassa seca/m2/ano. Como o intuito de diminuir sua abundância, as grandes biomassas de macrófitas aquáticas têm sido combatidas utilizando o controle mecânico, químico e biológico, pois ainda não há legislação específica para seu manejo em sistema aberto. No controle mecânico as plantas precisam ser coletadas, transportadas e depositadas em local adequado, o que torna o processo oneroso e com eficácia de curto prazo, pois em pouco tempo os reservatórios são novamente colonizados. A retirada manual é eficiente apenas em ambientes menores e mais rasos. O controle químico das macrófitas aquáticas tem sido feito basicamente com o uso de herbicidas. É um método bastante empregado em todo o mundo, porém, no Brasil, o único herbicida registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para controle de macrófitas aquáticas das espécies Egeria densa e Egeria najas, em reservatórios de hidrelétricas, é o fluridone. Outros ingredientes ativos têm sido testados experimentalmente em sistemas fechados, porém seu uso não é permitido no país. A eficiência do controle químico varia entre aplicações e dependerá de fatores da qualidade da água como turbidez, pH, condutividade elétrica e temperatura. Nos corpos d´água de maior profundidade, como lagoas e represas, melhores resultados são obtidos com aplicações setorizadas em baixas doses, o que permite um controle das plantas daninhas mais eficiente e com menor risco para espécies não-alvo e a fauna associada. Segundo os defensores deste método, o controle químico promove resultado rápido, com baixo investimento econômico e especificidade. Entretanto, já se observou que o glyphosate, uma das moléculas mais empregadas no mundo todo e um herbicida pós-emergente de amplo espectro e baixa persistência no ambiente (cerca de 47 dias), pode promover mutações genéticas em tilápias (Tilapia rendalli) e mudanças comportamentais em peixes como o mato-grosso (Hyphessobrycon eques) e o paulistinha (Danio rerio). Do ponto de vista ambiental, o controle biológico é o mais recomendável, pois possibilita a incorporação da biomassa de macrófitas aquáticas por animais herbívoros, como peixes e mamíferos, que podem ser aproveitados pelo homem. No Brasil, bons resultados foram obtidos com peixes como a carpa-capim (Ctenopharyngodon idella), a tilápia (Tilapia rendalli) e o pacu (Piaractus mesopotamicus) (Figura 11).
O pacu é capaz de realizar uma taxa de controle diário (o quanto o peixe controla por dia em relação ao seu peso vivo, em porcentagem) de elodeas (Egeria densa, E. najas) e do candelabro-aquático (C. demersum) entre 09,3 e 20,0%, podendo eliminar uma massa verde dessas plantas, com a mesma quantidade de seu peso, em sete dias. Resultados semelhantes foram encontrados para a carpa-capim, com essa taxa variando entre 05 e 25%, no controle de espécies como Azolla filiculoides e Lemna sp. em canais de drenagem. Na Argentina, o uso da carpa-capim, estocada numa taxa de 100 kg.ha-1, resultou no controle efetivo de macrófitas aquáticas submersas, após dois meses de sua introdução em canais de irrigação, sob condições naturais. A carpa comum (Cyprinus carpio) também produziu resultados satisfatórios, quando introduzida numa taxa de 500-2000 juvenis.ha-1, com a redução de uma biomassa de macrófitas entre 40-100% em canais de drenagem. Um impacto negativo desta introdução, entretanto, foi o aumento da turbidez da água, uma vez que esta espécie de peixe revolve o sedimento de fundo, em busca de alimento. A rizipiscicultura no sul do país é um bom exemplo das vantagens do controle biológico de macrófitas. Um sistema que emprega a carpa comum, as carpas chinesas [prateada (Hypophthalmichthys molitrix), capim (C. idella) e cabeça grande (Aristichthys nobilis)] e o jundiá (Rhamdia quelen) (Figura 12), em consórcio com a rizicultura, tem suprimido/reduzido a dependência da utilização de agroquímicos na produção do arroz irrigado.
A piscicultura entra como atividade paralela, elevando a rentabilidade da rizicultura (os peixes substituem as máquinas no preparo do solo, reduzindo de 40% a 50% os custos de produção, e não afetam o rendimento do arroz); otimiza o uso do solo e da água, inclusive na entressafra do cereal, gerando receita em torno de R$ 3 mil/ha de espelho d’água, com uma produtividade em torno de 400kg peixe/ha. Como fatores limitantes citam-se a falta de informação para a adoção do sistema, principalmente no que diz respeito à densidade e época de estocagem dos animais, e de padronização dos tabuleiros de arroz, o que muitas vezes impede sua drenagem completa e, deste modo, a despesca total dos peixes. Conclusão Pelas informações aqui apresentadas, pode-se concluir que enquanto não se combaterem as fontes eutrofizadoras dos recursos hídricos, não será possível o controle efetivo das macrófitas aquáticas, que sempre terão o substrato necessário para seu desenvolvimento. A utilização de métodos biológicos no controle destas plantas daninhas certamente é o menos impactante, mas deve ser realizado de forma criteriosa, para que não se incorra em erros graves como a introdução de espécies exóticas, que muitas vezes competem por recursos com os organismos endêmicos e não têm predadores naturais. A introdução de espécies exóticas é apontada como uma das principais causas de perda da biodiversidade, juntamente com a destruição de habitats e a sobre exploração dos recursos naturais. Bibliografia consultada ¹Esteves, F. A.
Fundamentos de limnologia. 2.ed. Rio de Janeiro: Interciência -
FINEP, 1998. 575p.
Mônica Accaui
Marcondes de Moura e Mello possui graduação em Biologia pelo
Instituto de Biociências - UNESP/Botucatu (1995), mestrado em
Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP (1998), doutorado em
Ciências Biológicas pela Universidade Federal de São Carlos (2005).
Atualmente é Pesquisadora Científica do
Centro Experimental Central do Instituto Biológico, Campinas-SP.
Atua na área de psicultura com especificidade na produção de peixes
em águas residuárias
Dados para citação bibliográfica(ABNT): MOURA, M.A.M.; FRANCO, D.A.S; MATALLO, M.B. Controle de macrófitas aquáticas . 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_3/macrofitas/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 24/07/2008 |