Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.comSuperfosfato simples com esterco animal: um bom fertilizante organomineral
Paulo Espíndola Trani* Mônica Sartori de Camargo** André Luis Trani *** Francisco Antonio Passos*
O uso de materiais orgânicos, tais como os restos de cultura, os resíduos industriais e o esterco animal, vem despertando cada vez mais o interesse dos agricultores e técnicos. Isso porque esses materiais são muito importantes para obterem-se melhores produtividades devido ao aumento da fertilidade do solo. O emprego de materiais orgânicos melhora as características físicas do solo tais como a aeração, a retenção de umidade e a sua estrutura. Propicia também um aumento na diversidade de microorganismos úteis, que agem na solubilização de fertilizantes diversos, de maneira a liberar os nutrientes para as plantas.
Dentre os materiais orgânicos, o esterco é um daqueles mais encontrados em diferentes regiões do Brasil. Esse material é produzido por diferentes espécies de animais, como a vaca, cavalo, porco e frango. A produção média diária de esterco desses animais é bem significativa. Uma vaca pesando 453 kg produz 23,5 kg de esterco por dia, um cavalo de 385 kg produz 16,3 kg, um porco de 72 kg produz 3,4 kg de esterco e um frango pesando 1,6 kg produz 100g de esterco + urina.
FONTE DE NUTRIENTES
O esterco não é um bom fornecedor de nutrientes às plantas a curto prazo, simplesmente porque os contém em baixas concentrações. Ressalte-se, porém, que a sua aplicação contínua por vários anos, contribui para a melhoria das características químicas do solo e aumento da produtividade das culturas.
Os teores de nutrientes de um esterco variam, entre outros fatores, com a fase de decomposição do material e com a alimentação e manejo fornecidos ao animal. A tabela 1 apresenta os teores de nitrogênio (N), fósforo (P2O5) e potássio (K2O), conforme a espécie animal que o produz. Os valores apresentados correspondem ao sistema de criação extensivo, ou seja decorrente de alimentação obtida a campo.
Atualmente, as concentrações de N, P2O5 e K2O dos estercos são maiores. É freqüente verificar análises químicas de estercos oriundos de animais criados no sistema confinado e com utilização de rações concentradas, contendo quantidades de nutrientes duas a três vezes às citadas na tabela 1.
O esterco de curral possui uma parte líquida e outra sólida. A parte líquida contém cerca de 40% dos nutrientes do esterco. A tabela 2 mostra as quantidades de nutrientes contidas na parte sólida e na parte líquida de 1.000kg de esterco de curral.
Uma maneira de se obter o máximo aproveitamento das partes líquidas e sólidas do esterco consiste em aplicá-lo junto com o superfosfato simples.
CONHEÇA AS VANTAGENS
O superfosfato simples é um fertilizante amplamente encontrado no comércio. A sua composição principal é a seguinte 3Ca(H2PO4)2.H2O + 7CaSO4. A fabricação desse fertilizante é feita a partir do tratamento dos fosfatos naturais (apatitas e fosforitas) com o ácido sulfúrico. Isso resulta em um fertilizante com cerca de 18% de P2O5 solúvel em água e 40 % de gesso agrícola (CaSO4 .2H2O), sendo 20% de Ca e 10 a 12% de S . Portanto o superfosfato simples é uma boa fonte de fonte de fósforo, cálcio e enxofre, macronutrientes essenciais às plantas.
O uso do superfosfato simples junto com o esterco animal apresenta inúmeras vantagens. Em primeiro lugar proporciona uma fórmula de adubação mais balanceada, principalmente no caso de adubação de plantio para hortaliças, frutíferas e cafeeiros. Uma tonelada de esterco fresco de gado corresponde a aproximadamente 50kg da fórmula 10-5-10. Acrescentando-se 30kg de superfosfato simples em pó sobre uma tonelada de esterco, o material resultante corresponderá a 50kg da fórmula 10-15-10.
Outra vantagem é que a aplicação do superfosfato simples em pó sobre o esterco diminui as perdas de amônia, consequentemente retendo o nitrogênio, macronutriente importante para melhorar as produtividades das culturas. A perda de nitrogênio pode ocorrer tanto nos compostos orgânicos quanto nos fertilizantes nitrogenados. A liberação de amônia ocorre quando o teor do resíduo é maior que 2,4%, pois qualquer quantidade que exceda o necessário para os microorganismos decomporem o material orgânico será descartada na forma de NH3.
Pesquisas realizadas nos Estados Unidos da América mostraram que o esterco sem proteção perde 56% da amônia que ele contém, num período de quatro meses. As perdas podem ser maiores se a temperatura e a umidade forem elevadas. O superfosfato simples revelou-se muito eficiente para reduzir as perdas de amônia.
Estudos realizados no Brasil na década de 90 revelaram que o gesso (sulfato de cálcio), contido no superfosfato simples, é parcialmente responsável pela retenção de amônia do esterco. A escolha de qual deles aplicar depende de diversos fatores, tais como a disponibilidade do material, custo de transporte e teor de umidade.
A cama de frango e o esterco de galinha poedeira são exemplos de materiais com significativa quantidade de nitrogênio, que podem ter perdas reduzidas com a aplicação do gesso agrícola ou do superfosfato simples.
É importante ressaltar que existe a ação direta da acidez residual do superfosfato simples sobre a amônia. O pH do superfosfato simples logo após sua fabricação situa-se entre 3,0 e 4,0. A figura 1 mostra que a cobertura do esterco com superfosfato simples em pó, é mais eficiente que outros materiais como o fosfato natural e a palha. Quando aplicado o superfosfato simples em pó sobre a camada de esterco, há perda de apenas 3% da amônia do esterco, num período de quatro meses. Verifica-se também, que a palha bem triturada, é um bom material para se evitar perdas de amônia (Figura 1).
Aliado a isso, outra vantagem da combinação do superfosfato simples com esterco está em reduzir o odor desagradável do esterco puro e ajudar no controle de certas enfermidades dos animais presentes no local. É possível que tal efeito seja devido ao enxofre contido no superfosfato simples (10 a 12% de S). O enxofre por natureza é um antimicótico, ou seja, um produto que pode ser utilizado para combater as micoses.
DOSES DE SUPERFOSFATO SIMPLES SOBRE O ESTERCO ANIMAL
Deve-se aplicar 30kg de superfosfato simples em pó para cada tonelada (1.000 kg) de esterco fresco. As quantidades a serem aplicadas são mostradas na tabela 3.
O superfosfato em pó deve ser espalhado de modo a cobrir toda a camada de esterco. A aplicação deve ser feita o mais breve possível para que as perdas de amônia sejam mínimas.
As figuras apresentadas a seguir mostram os cuidados que devem ser tomados na utilização do superfosfato simples em pó com o esterco.
LITERATURA CONSULTADA ALEXANDER, M. Introduction to soil microbiology. 2.ed. New York: John Wiley, 1977. 467p.
CATANI, R. A. Características dos fertilizantes aplicados na lavoura cafeeira, 2 ed. São Paulo, Secretaria da Agricultura, Diretoria de Publicidade Agrícola, Boletim de Agricultura 146. 1956.
KIEHL, E. J. Fertilizantes Orgânicos. Piracicaba, Editora Agronômica Ceres, 1985. 492 p.
MAPA Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento/Superintendência Federal de Agricultura no Estado de São Paulo: SEFAG: Serviço de Fiscalização, Agropecuária: Fertilizantes, Corretivos e Inoculantes: Instrução Normativa 23, www.dfasp.gov.br (acesso em 20/07/2007).
NATIONAL PLANT FOOD INSTITUTE. Manual de Fertilizantes. Editorial Limusa, Mexico, D.F., 1975. 292 p.
OLIVEIRA, M.C.; ALMEIDA, C.V.; ANDRADE, D.O.; RODRIGUES, S.M.M Teor de matéria seca, pH e amônia volatilizada da cama de frango tratada ou não com diferentes aditivos. Revista Brasileira de Zootecnia, v 32, n 4, p 951-954, 2003.
PROCHNOW, L.I.; KIEHL, J.C.; PISMEL, F.; VITTI, G.C. Controle das perdas de amônia durante a compostagem de estercos, com adição de doses de gesso agrícola e superfosfato simples. IN: XX Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas, 20., Piracicaba, p.398-399, 1992.
*Pesquisador Científico, Instituto Agronômico de Campinas/APTA/SAA ** Pesquisador Científico, APTA / Pólo Centro Sul, Piracicaba *** Bacharel em Química, Instituto de Química de São Carlos/USP
Dados para citação bibliográfica(ABNT): TRANI, P.E.: CAMARGO, M.S. do: TRANI, A.L.; PASSOS, F.A. Superfosfato simples com esterco animal: um bom fertilizante organomineral. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_2/organomineral/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 16/04/2008 |