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DIVERSIDADE DE ÁCAROS PLANTÍCOLAS E EDÁFICOS EM AGROECOSSISTEMA CAFEEIRO

 

Jeferson Luiz de Carvalho Mineiro

Mário Eidi Sato

 

No cafeeiro pode-se encontrar uma grande diversidade e riqueza de espécies de ácaros, algumas das quais são pragas de importância econômica. Dentre as espécies que atacam esta cultura, destacam-se algumas espécies de ácaros fitófagos que podem causar perdas consideráveis. Uma dessas espécies é o conhecido ácaro-plano, Brevipalpus phoenicis (Geijskes) (Tenuipalpidae) que está associado à transmissão do vírus causador da mancha-anular do cafeeiro. Outra espécie de ácaro fitófago, bastante conhecida pelos agricultores, é o ácaro vermelho, Oligonychus ilicis (McGregor) (Tetranychidae) que é encontrado nos períodos mais secos do ano e pode causar o bronzeamento de folhas, com conseqüentes perdas na produção. Entretanto, ácaros predadores também são muito comuns e atuam no controle desses ácaros pragas. Entre os predadores, destacam-se os ácaros da família Phytoseiidae (Figura 1), que além da riqueza de espécies, são considerados importantes inimigos naturais de ácaros fitófagos. Ácaros predadores de outras famílias, tais como, Stigmaeidae (Figura 2), Cunaxidae, Bdellidae, Ascidae, e Cheyletidae também têm sido observados em cafeeiro e podem estar contribuindo para o controle biológico natural de B. phoenicis e O. ilicis.

 

Figura 1. Iphiseiodes zuluagai Denmark & Muma (Phytoseiidae)

 

Em estudos recentes em cafeeiros no Estado de São Paulo, mostrou que algumas espécies de ácaros predadores como Euseius citrifolius Denmark & Muma, Euseius concordis (Chant) (Phytoseiidae), Agistemus brasiliensis Matioli, Ueckermann & Oliveira e Zetzellia malvinae Matioli, Ueckermann & Oliveira (Stigmaeidae) podem “desaparecer em dado momento”, ficando vários meses sem serem observados na copa dessas plantas. Este fenômeno poderia estar associado a uma migração desses ácaros para uma outra parte da planta, para alguma planta daninha ou até mesmo para o solo. Sabe-se que algumas espécies de fitoseídeos podem ocorrer tanto em solo quanto na parte aérea da planta. Para a maioria das espécies de ácaros presentes em cafeeiro, principalmente predadores não fitoseídeos, essas informações ainda são escassas ou inexistentes.
 

 Figura 2. Agistemus sp. (Stigmaeidae) sobre domácia de cafeeiro

 

Nesse sentido, este trabalho objetivou caracterizar a diversidade de ácaros nas diferentes partes do cafeeiro (superfície da folha, domácia, ramos e caule), bem como no solo, folhedo e plantas daninhas (Amaranthus viridis L. – caruru, Lepidium virginicum L. – mastruz, Commelina benghalensis L. - trapoeraba, Bidens pilosa L. – picão-preto, Galinsoga parviflora Cav. – picão-branco, Conyza canadensis (L.) Cronquist – buva, Gnaphalium spicatum Lam. – macela, Euphorbia heterophylla L. - – leiteira e Leonurus sibiricus L. – rubim); avaliar a dinâmica populacional de ácaros fitófagos e predadores nestes diferentes substratos e também estudar as interações interespecíficas entre os ácaros mais abundantes em cafeeiro. Para tanto, o estudo da acarofauna em diferentes partes de plantas de cafeeiro, solo, folhedo e plantas daninhas está sendo conduzido no município de Atibaia, Estado de São Paulo. A escolha da cultivar Mundo Novo para este estudo foi por se tratar de uma das cultivares comerciais mais utilizadas tanto em São Paulo quanto no restante do país.
 

Os ácaros coletados nestes diferentes substratos foram montados em lâminas de microscopia para posterior identificação até espécie quando possível. A identificação destes ácaros está sendo realizada principalmente pelo Dr. Jeferson Luiz de Carvalho Mineiro, Dr. André Luís Matioli (Instituto Biológico) e de outros especialistas, quando necessário. “Voucher species” foram depositados na coleção de referência do Laboratório de Entomologia Econômica do Instituto Biológico, Coleção de Ácaros de Interesse Agrícola “Geraldo Calcagnolo”. A coleção está disponível à comunidade científica e ao público em geral (http://www.biologico.sp.gov.br/artigos_tecnicos/colecao_acaros.htm).
 

Até o presente momento, dos três sistemas avaliados, cafeeiro (superfície da folha, domácia, ramos e caule), solo/folhedo e plantas daninhas, verificou-se que B. phoenicis, Tetranychus sp. (Tetranychidae), Iphiseiodes zuluagai Denmark & Muma (Phytoseiidae) e Raphignathus sp. (Raphignathidae) foram as espécies comuns para estes substratos. Nos substratos cafeeiro/solo, as espécies mais comuns foram: Bdella sp. (Bdellidae), Africoseius sp. (Incertae Sedis), Proprioseiopsis dominigos (El-Banhawy) (Phytoseiidae), Eustigmaeus sp. (Stigmaeidae) e Armascirus sp. (Cunaxidae). Entre cafeeiro/planta daninha, as espécies mais comuns foram: Amblyseius compositus Denmark & Muma, E. concordis, E. citrifolius, I. zuluagai (Phytoseiidae) e Oligonychus sp. (Tetranychidae). Entre plantas daninhas/solo, as espécies mais comuns foram: Cosmolaelaps sp. (Laelapidae), Amblyseiella setosa Muma (Phytoseiidae) e Gamasolaelaps sp. (Veigaiidae).
 

O projeto está em fase inicial e a expectativa é de que a análise dessas espécies, no futuro, tanto de fitófagos como de predadores, poderá proporcionar o entendimento das variações nos diferentes substratos, bem como dar subsídios para uma melhor estratégia de manejo para a cultura cafeeira.

 

Origem: Instituto Biológico - www.biologico.sp.gov.br


Jeferson Luiz de Carvalho Mineiro possui graduação em Licenciatura em Biologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1986), mestrado em Agronomia (Entomologia Agrícola) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2000) e doutorado em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura) pela Universidade de São Paulo (2006). Atualmente é pós doutorando pela FAPESP no Instituto Biológico, Campinas-SP. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Acarologia Agrícola, atuando principalmente nos seguintes temas: taxonomia e ecologia de ácaros edáficos e plantícolas, principalmente das famílias Ascidae, Phytoseiide e Tenuipalpidae.
Contato:
jmineiro@biologico.sp.gov.br

 

Mário Eidi Sato possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo (ESALQ) (1985), mestrado em Entomologia pela Universidade de São Paulo (1989), doutorado em Entomologia pela Universidade de São Paulo (1999), Pós-doutorado pela Universidade de Nagoya no Japão (2004). Atualmente é Pesquisador Científico VI e professor do Programa de Pós-Graduação em "Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio" do Instituto Biológico - Campinas-SP. Publicou 79 artigos em periódicos nacionais e internacionais. Recebeu um prêmio durante o Congresso Internacional de Citricultura, em Orlando, USA, em 2000. Atua em trabalhos na área de Agronomia, com ênfase em Acarologia, Manejo Integrado de Pragas e Resistência de Artrópodes a pesticidas.
Contato:
mesato@biologico.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

MINEIRO, J.L.C.; SATO, M.E. Diversidade de ácaros plantícolas e edáficos em agroecossistema cafeeiro. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_1/acaros/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 18/02/2008  

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