Sobre os parasitóides de Planococcus minor (Maskell) (Hemiptera, Pseudococcidae), praga potencial do algodoeiro no Brasil

Nelson Wanderley Perioto
Rogéria Inês Rosa Lara

A EMBRAPA/Algodão divulgou recentemente alerta sobre uma nova praga que vem atacando lavouras de algodão no Estado da Paraíba: trata-se de uma espécie de cochonilha, cujo nome científico é Planococcus minor (Maskell) (Hemiptera, Pseudococcidae) (Figs. 1 e 2).

 

Fig. 1. Planococcus minor em algodoeiro.

Fig. 2. Planococcus minor.

Fonte: EMBRAPA/Algodão

Fonte: www.invasive.org

 

É uma espécie cosmopolita, polífaga, citada para o Brasil, Argentina, Índia e Filipinas. Apesar de sua ocorrência ter sido relatada em outras culturas como café, só recentemente foi detectada no algodão, onde pode atacar toda a planta e causar infestações mesmo quando os capulhos já se encontram abertos. Esta cochonilha é um pequeno inseto ovalado, de coloração rosada e corpo recoberto por cerosidade branca e número variável de filamentos. A área com maior ocorrência da cochonilha é o Vale do Piancó e, segundo pesquisadores da EMBRAPA/Algodão, a deficiência hídrica e as altas temperaturas, comuns naquela região, favorecem o ataque do inseto. É recomendado o arranquio e a destruição das plantas atacadas e se evitar o plantio do algodoeiro nas proximidades de outras plantas hospedeiras.

 

Este inseto suga a seiva da planta e expele continuamente gotículas de um líquido adocicado (honeydew), o que atrai formigas que agem como dispersoras da praga para outras plantas, além de proteger as colônias de cochonilhas da ação de inimigos naturais. O depósito deste líquido na superfície do limbo foliar possibilita o desenvolvimento de um fungo não patogênico, o que reduz a eficiência fotossintética das folhas; seu depósito sobre as fibras resulta em manchas, o que deprecia o produto final.

 

A maioria das espécies de Planococcus se reproduz sexuadamente (a reprodução assexuada, por partenogênese, também pode ocorrer). As fêmeas de P. minor produzem entre 65 a 425 ovos, dependendo do hospedeiro e cada geração transcorre entre 31 a 50 dias, podendo ocorrer até 10 gerações/ano.

 

Esta cochonilha é considerada praga de alto potencial de impacto ambiental nos Estados Unidos da América e consta da lista “Global Pest and Disease Database”; sua ocorrência generalizada no território brasileiro poderá levar à imposição de restrições ao comércio com aquele e outros países.

 

Dada sua recente detecção no algodoeiro, inexistem produtos registrados para seu controle e, devido sua grande habilidade de dispersão, é necessário buscar, em caráter emergencial, alternativas para convívio com esta praga.

 

Segundo a Universal Chalcidoidea Database, mantida pelo Museu de História Natural de Londres, são citadas apenas três espécies de vespas parasitóides, da família Encyrtidae (Tetracneminae), que se utilizam desta cochonilha como hospedeiro: Anagyrus mangicola Noyes, 1990, Anagyrus mirzai Agarwal & Alam, 1959 e Leptomastix dactylopii Howard, 1885 (Fig. 3).

 

Fig. 3. Leptomastix dactylopii Howard, 1885

 

A. mangicola tem ocorrência conhecida para a África (Benim, Gabão, Gana, Nigéria, Serra Leoa, Togo), Ásia (Bangladesh e Índia) e Indonésia (Sulawesi), onde tem como hospedeiros primários os pseudococcídeos Ferrisia virgata, Phenacoccus sp., Planococcus lilacinus, P. minor, Rastrococcus invadens e R. spinosus e é associada a plantas de citros (Citrus sp.) (Rutaceae), manga (Mangifera indica) (Annacardiaceae), goiaba (Psidium guajava) (Myrtaceae) e Ficus polita (Moraceae).

 

A. mirzai tem ocorrência conhecida para a África (África do Sul, Congo, Gabão e República do Maláui), Ásia (Bangladesh, Índia e Paquistão) e Oriente Médio (Jordânia), onde tem como hospedeiros primários Inglisia bivalvata (Coccidae), Icerya formicarum (Margarodidae) e os pseudococídeos Ferrisia virgata, Ferrisiana virgata, Maconellicoccus hirsutus, Nipaecoccus sp., N. vastator, N. viridis, Paracoccus burnerae, Phenacoccus manihoti, Planococcus citri, P. minor, Rastrococcus iceryoides e Saccharicoccus sacchari e é associada às casuarinas (Casuarina sp. e C. equisetifolia) (Casuarinaceae), euforbiáceas (Manihot esculenta e Securinega leucopyrus), fabáceas (Acacia sp., A. modesta, Arachis hypogaea e Tamarindus indica), rutáceas (Citrus sp. e C. medica), Morus alba (Moraceae), goiaba (Psidium guajava) (Myrtaceae), Aeonia sp. (Orchidaceae), Santalum album (Santalaceae) e vinha (Vitis vinifera) (Vitaceae).

 

L. dactylopii tem distribuição cosmopolita e, para o Brasil, ocorrências conhecidas para os Estados de Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo e tem como hospedeiros primários Aspidiella hartii (Diaspididae) e quase meia centena de espécies de pseudococídeos, dentre as quais Planococcus minor. L. dactylopii está associada a 27 famílias de plantas mas, ao que se saiba, não a Malvaceae, família a que pertence o algodoeiro. Esta espécie de parasitóide parece ter potencial para ser estudada para uso no controle biológico da cochonilha P. minor já que é farta a literatura relatando sua introdução em diversos países para o controle de P. citri em culturas como citros, café e videiras.

 

Origem: Apta Regional - www.aptaregional.sp.gov.br


Nelson Wanderley Perioto concluiu o doutorado em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos em 1996. Atualmente é Pesquisador Científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios. Atua na área de Agronomia, com ênfase em Entomologia Agrícola. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: Hymenoptera, parasitóide, parasitóides, algodão, soja, Eurytomidae, Hemerobiidae, biodiversidade, cerrado e Chalcidoidea.
Contato: nperioto@aptaregional.sp.gov.br

 

Rogéria Inês Rosa Lara concluiu o mestrado em Entomologia Agrícola pela Universidade Estaudal Paulista Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária em 2002. Atualmente é Pesquisador Científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios. Atua na área de Zoologia, com ênfase em Taxonomia de Insetos. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: Hymenoptera, parasitóides, soja, Controle químico, hemerobiídeos, café, Hemerobiidae, algodão, Controle biológico e Neuroptera.
Contato: rirlara@aptaregional.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

PERIOTO, N.W.; LARA, R.I.R. Sobre os parasitóides de Planococcus minor (Maskell) (Hemiptera, Pseudococcidae), praga potencial do algodoeiro no Brasil. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_4/parasitoides/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 24/10/2007

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