Características da bubalinocultura no município de Sarapuí no estado de São Paulo
Alcina Maria Liserre A partir da década de oitenta, os municípios de Alambari, Pilar do Sul, Sarapuí, Itapetininga e São Miguel Arcanjo, localizados no Sudoeste do Estado de São Paulo, vêm apresentando expressiva expansão na criação de búfalos, seja pelo aumento no efetivo dos rebanhos, seja pelo aumento no número de propriedades envolvidas nessa atividade. Um grande estímulo aos criatórios da espécie bubalina ocorreu, principalmente, após a absorção da produção leiteira por estabelecimentos industriais locais que passaram a remunerar o produto de forma diferenciada do leite bovino.
Entretanto, nessa região a produção de leite de búfala é restrita tipicamente a sistemas agrofamiliares, dispondo de poucos recursos, treinamentos ou novas tecnologias. Essa desinformação generalizada diante de mecanismos básicos de assistência e fomento é ponto de estrangulamento importante no processo de tomada de decisão e também dificulta o acesso a eventuais programas setoriais de apoio, bem como a linhas de crédito, persistindo assim um grande isolamento do produtor, uma baixa capacidade de auferir renda e de se capitalizar.
Entre esses municípios, Sarapuí destaca-se na bubalinocultura do Sudoeste Paulista como um dos que concentra o maior número de criadores com aproximadamente 1250 cabeças de búfalos segundo dados do IBGE de 2004, e em virtude da importância da atividade nessa região, a Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Itapetininga – Apta Regional/SAA, em parceria com a Casa da Agricultura Municipalizada de Sarapuí e o Sistema Agroindustrial Integrado (SAI/SEBRAE) de Itapetininga, realizou um trabalho diagnóstico com produtores da região abordando informações a respeito dos controles zootécnicos adotados, condições sócio-econômicas dos envolvidos, plantéis existentes e evolução projetada do rebanho em 12 propriedades de criação de búfalos neste município.
A maior parte dos entrevistados (91,7%) afirmou que atua diretamente nas atividades de rotina, utilizando predominantemente mão-de-obra familiar. Apenas um dos criatórios é gerenciado por funcionário contratado.
O tamanho das propriedades utilizadas para a criação de búfalos varia de 8 a 200 hectares, e metade dos criadores utiliza sistema de produção extensivo, enquanto que o restante utiliza o sistema semi-intensivo.
Há predominância no tipo de exploração leiteira em 75% dos criatórios e mista (carne e leite) nos demais, sendo a raça predominante a Murrah. Em relação ao plantel, 8,3% dos criadores possuem de 1 a 10 vacas leiteiras, 83,3% possuem de 11 a 40 vacas e 8,3% mais de 41 vacas leiteiras. O período de lactação varia de 8 a 9 meses e a média de produção varia de 5 a 8 L/dia.vaca, dependendo dos sistemas de produção adotados na propriedade.
O leite ordenhado é resfriado ou congelado em 75 e 25% dos casos, respectivamente. Apenas 16,7% dos criadores apresentaram interesse em produzir derivados do leite de forma artesanal, podendo assim agregar mais valor ao produto.
O planejamento de atividades por calendários sanitários ocorre em apenas 25% dos criatórios, e apenas 41,7% dos proprietários consultam médicos veterinários. Quanto ao manejo sanitário, 100% dos criadores vacinam seus animais contra brucelose, febre aftosa e raiva, 8,3% contra pneumoenterite e 50% contra carbúnculo. O controle para ectoparasitas e endoparasitas é realizado em 100% e 91,7% dos criatórios, respectivamente. Das propriedades diagnosticadas houve ocorrência de aborto em três delas, representando 25% da pesquisa.
Quanto ao tipo de ordenha, apenas 25% dos criadores utilizam ordenha mecânica. Um fato relevante é que em cerca de 83,3% das propriedades a ordenha não é realizada com procedimentos profiláticos e 50% dos criadores não aplicam nenhum teste para detecção de mastite.
A identificação animal é feita através de marcação a fogo (33,3%) e brinco (50%), porém 33,3% dos criadores não usam nenhum tipo de identificação e, quanto à escrituração zootécnica, apenas 2 criadores (16,7%) usam fichas individuais.
Em relação à alimentação animal, a maioria utiliza pastagens e suplementação no período de inverno (50% dos criadores utilizam silagens, 91,7% cana-de-açúcar, 50% resíduos agroindustriais e 33,3% ração concentrada). Em 58,3% das propriedades os produtores utilizam o sistema de rotação de pastagens.
No sistema reprodutivo utiliza-se monta natural em 91,7% das propriedades e no restante monta controlada. O tempo médio de cobertura pós-parto varia de 20 a 90 dias e o intervalo entre partos é de aproximadamente um ano.
Entre os principais problemas citados pelos criadores estão as estradas sem manutenção, dificuldades de aquisição e comercialização de animais, falta de tanque de expansão, alto custo da alimentação de animais, falta de assistência técnica especializada, dificuldade na comercialização do leite e acesso a linhas de crédito.
Os resultados obtidos com a aplicação dos questionários foram apresentados aos criadores que se mostraram conscientes e acessíveis quanto à necessidade da implantação de Programas de Capacitação e Treinamento e outras políticas públicas na região que garantam assim a viabilidade técnica e econômica desse promissor empreendimento. Atendendo a essa demanda e comprovando a boa receptividade dos participantes, o Sistema Agroindustrial Integrado (SAI/SEBRAE), através de seus agentes de desenvolvimentos realizou cursos de capacitação na região sobre nutrição animal e qualidade do leite. Paralelamente a essas ações, também foi enviado à FAPESP um pedido de auxílio financeiro para o projeto “Desenvolvimento da Tecnologia de Congelamento de Massa Coagulada e Fermentada de Leite de Búfala para a Fabricação de Mozzarella”, em parceria com o laticínio da Cooperativa dos Pequenos Produtores Rurais de Itapetininga e Região (COPPRIR), visando o desenvolvimento de inovações tecnológicas para o aproveitamento do leite de búfala como um incentivo para essa cadeia de produção.
Origem: AptaRegional - www.aptaregional.sp.gov.br
Alcina Maria Liserre
possui graduação em Engenharia de
alimentos pela Faculdade de Engenharia de Alimentos - UNICAMP (1997),
mestrado em Ciência dos Alimentos pela Faculdade de Ciências
Farmacêuticas - USP (2001) e doutorado em Ciência dos Alimentos pela
Faculdade de Ciências Farmacêuticas - USP (2005). Atualmente é
Pesquisador Científico I da Agência Paulista de Tecnologia dos
Agronegócios. Tem experiência na área de Ciência e Tecnologia de
Alimentos. Atuando principalmente nos seguintes temas: alginato,
probióticos, quitosana, Bifidobacterium animalis. Contato: alcina@aptaregional.sp.gov.br
Carlos Frederico de
Carvalho Rodrigues possui especialização em Produção de ovinos pela
Universidade Estadual Paulista (1996), mestrado em Medicina
Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (2003) e residência-medica pela Universidade Estadual Paulista
(1992). Atualmente é Pesquisador Científico nível V da Agência
Paulista de Tecnologia do Agronegócio. Tem experiência na área de
Zootecnia, com ênfase em Produção Animal. Atuando principalmente nos
seguintes temas: patologia clínica, laboratório clínico, patologia
animal, hematologia, bioquímica clínica. Contato: frediz@aptaregional.sp.gov.br
João Elzeário Castelo Branco Iapichini
possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (1979), graduação em Pedagogia
Licenciatura Plena pelo Associação de Ensino de Itapetininga (1984),
graduação em Graduação de Professor 2 Grau Esquema I pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1984),
especialização em Planejamento e Gestão da Educaçao Profissional
pela Universidade Estadual de Campinas (2001) e mestrado em
Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (1996). Atualmente é Pesquisador Científico nível I da Agência
Paulista de Tecnologia do Agronegócio. Tem experiência na área de
Zootecnia , com ênfase em Produção Animal. Atuando principalmente
nos seguintes temas: liquido folicular bovino. Contato: iapichini@terra.com.br
Cristina Fachini
possui
graduação em Ciências Econômicas pela Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz (2001) e mestrado em Ciências Economia Aplicada pela
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (2005). Atualmente é
Pesquisador Científico 1 da Agência Paulista de Tecnologia dos
Agronegócios. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em
Economia Regional e Urbana. Atuando principalmente nos seguintes
temas: Economia Solidária, Custos de Transação, Sustentabilidade
Financeira, Desenvolvimento Regional. Contato: cfachini@aptaregional.sp.gov.br
Marcelo Ament Giuliani dos Santos (SAI/SEBRAE)
Benedito Marques da Silva Junior (COPPRIR)
Pedro Alexandre de Oliveira (Engenheiro Agrônomo – Prefeitura Municipal de Sarapuí).
Dados para citação bibliográfica(ABNT): LISERRE, A.M., O.; RODRIGUES, C.F.C; IAPICHINI, J.E.C.B.; FACHINI, C.; SANTOS, M.A.G. dos; SILVA JUNIOR, B.M. da; OLIVEIRA, P.A. de. Características da bubalinocultura no município de Sarapuí no estado de São Paulo. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_4/bubalinocultura/index.htm>. Acesso em: Publicado no Infobibos em 31/10/2007
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