OCORRÊNCIA DE Epacroplon cruciatum (Aurivillius, 1899) (COLEÓPTERA: CERAMBYCIDAE) COMO UMA NOVA PRAGA PARA A CITRICULTURA PAULISTA Laerte Machado INTRODUÇÃO Besouros da família Cerambycidae constituem um dos maiores grupos de coleóptera, com aproximadamente 35.000 espécies descritas no mundo. A maioria, na fase larval, são espécies fitófagas com amplo espectro de fonte de alimentação, principalmente madeiras mortas, mas também podem ocorrer em plantas vivas, sementes e raízes. Com esse tipo de hábito alimentar, os cerambicídeos desempenham um papel muito importante na reciclagem da matéria vegetal morta, reduzindo-a a pó, ao passo que as galerias abertas pelas larvas facilitam a penetração no interior da madeira, de água e microrganismos decompositores. Por outro lado, esses insetos tornam-se causadores de prejuízos quando habitam o agroecossistema e atacam as plantas de interesse agrícola. Para a cultura do citros, no estado de São Paulo, existem 2 espécies de Cerambycidae relatadas que possuem grande importância econômica, sendo elas: Diploschema rotundicolle (broca dos ponteiros) e Macropophora accentifer (broca do tronco). Ambas, são conhecidas como coleobrocas e estão amplamente distribuídas pelo estado, aparecem em surtos populacionais provocando prejuízos diretos pela queda dos frutos, no caso D. rotundicolle e indiretos pela abertura de galerias nos ramos e troncos das árvores. Comportamento praticado tanto por D. rotundicolle como por M. accentifer. Por exercerem seus nichos ecológicos pelo interior da planta torna-se de difícil controle podendo provocar, em algumas situações, até a erradicação de pomares.
Com base em observação de pomares e consultas de citricultores, passamos a constatar uma outra espécie dessa família, pertencente à tribo Ibidionini, Epacroplon cruciatum (Aurivillius, 1899) (fig. 1) que tem provocado severos prejuízos aos pomares em alguns municípios paulistas. No ano de 2000 foi constatado um surto desse inseto ocasionando prejuízos no município de Mogi Guaçú (46º56'31.92"W, 46º56'31.92"S), em 2005 no município de Itatinga (46º56'31.92"W, 22º22'19.92"S) e no ano de 2006 no município de Taquarituba (49º14'39.84"W, 23º31'59.16"S). Os exemplares dos besouros obtidos estão sendo depositados na coleção entomológica “Oscar Monte”, do Laboratório de Controle Biológico que fica situado no Centro Experimental de Campinas – CEIB, do Instituto Biológico de São Paulo. Surtos populacionais de insetos provocando prejuízos às culturas econômicas tem sido freqüentes nas últimas décadas e são sempre atribuídos a expansão da monocultura com o conseqüente desmatamento, assim como o elevado uso de agroquímicos para controlar pragas convencionais das lavouras. A maioria das espécies de Cerambycidae, normalmente está associada a florestas naturais, ocorrendo nas planta mortas ou em putrefação. Algumas atacam madeiras úmidas e outras madeiras secas, são poucas as espécies que desenvolveram estratégias para conseguir atacar as plantas vivas. O fluxo de seiva que se transloca pelos vasos do vegetal, constitui-se no principal mecanismo de defesa da planta para evitar os ataques desse grupo de insetos. COMPORTAMENTO DA LARVA E PREJUÍZOS
Larvas dessa espécie que estamos observando na citricultura (fig. 2) têm atacado ramos com diâmetro de até 5 centímetros e quando as mesmas atingem a metade do seu desenvolvimento biológico (± 3 cm de tamanho) realizam um corte em espiral no ramo (fig. 3), entre a casca e o lenho do vegetal, o que interrompe o fluxo da seiva, provocando a murcha (fig. 4a) e posteriormente o secamento (Fig. 4b). Esse comportamento proporciona a queda de frutos (50 a 70 frutos/ramo) e a perda dessa parte da planta, constituindo-se em elevados prejuízos para o citricultor. Normalmente nos pomares de ocorrência desse inseto, têm sido retirados entre 5 a 10 ramos atacados por planta o que tem proporcionado uma perda de 250 a 700 frutos para cada planta.
Diferente das outras espécies conhecidas para a citricultura à larva desse coleóptero não elimina serragens para o ambiente externo, o que dificulta para o citricultor verificar o inicio do ataque do inseto nas plantas. BIOLOGIA Embora espécies da tribo Ibidionini sejam bem estudadas do ponto de vista taxonômico e da distribuição geográfica, pouco se sabe sobre sua biologia e suas plantas hospedeiras. Para esta espécie existem relatos de ocorrência no Brasil (Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul) e em outros dois países da América do Sul, Paraguai e Argentina. Como a intensidade de ramos com os sintomas do ataque têm aparecido entre os meses de maio e junho de cada ano, pressupõe-se que o inseto possua um ciclo biológico anual, como acontece com a maioria das espécies de Cerambicídeos. CONTROLE
Nas pesquisas em campos de citros que realizamos até o presente momento, verificamos que as larvas realizam o corte no ramo e ficam alimentando-se nessa parte morta do vegetal. Diante dessa observação, temos sugerido aos produtores como medida de controle a catação manual de ramos com sintomas de ataque do inseto (fig. 5a) e, posteriormente à incineração dos mesmos (fig. 5b). O corte provocado pela larva deixa o ramo fácil de ser quebrado e retirado da planta pelo executor da operação (fig. 6).
Nesta fase de larva o inseto não deixa nenhuma galeria no ramo e nenhuma serragem visível no ambiente externo, o que dificulta a sua localização. Portanto, torna-se difícil o uso de qualquer produto visando atingir e eliminá-la. Desta forma, qualquer estratégia de controle, seja ele químico ou biológico, deve-se ter como alvo principal o inseto na fase adulta que possui vida livre e efêmera, visitando os pomares, provavelmente, entre o período crepuscular e noturno. PESQUISAS Como etapas iniciais de pesquisas, estamos coletando larvas do inseto no campo e mantendo-as em condições de laboratório, com dieta artificial (fig. 7). Esses estudos têm como finalidade estabelecer uma criação artificial para conhecer a biologia e outros aspectos do comportamento. Além disso, matemos contatos freqüentes com produtores, nos municípios onde o inseto está atacando os pomares, para iniciar uma pesquisa de campo, visando conhecer a flutuação populacional da praga, o comportamento dos adultos, o nível de dano econômico provocado à cultura e possíveis ocorrências de inimigos naturais. Com o desenvolvimento desses estudos e mediante os resultados obtidos, é que poderemos estudar métodos mais eficientes objetivando o controle do inseto.
Laerte Machado possui graduação
em Biologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas
(1986), mestrado em Entomologia pela Universidade de São Paulo
(1998) e doutorado em Parasitologia pela Universidade Estadual de
Campinas (2006). Atualmente é Pesquisador Cientifico do Instituto
Biológico do Estado de São Paulo. Tem experiência na área de
Agronomia, com ênfase em Entomologia, atuando principalmente nos
seguintes temas: Controle biológico com entomopatógenos (fungos e
nematóides) em diversas culturas. Controle da broca-dos-citros,
Diploschema rotundicolle em citricultura e de Migdolus
fryanus em cana-de-açúcar com nematóides entomopatogênicos.
Márcio Macedo de Oliveira
possui graduação em Biologia pela Pontifícia Universidade
Católica de Campinas (1996), pós-graduação em Gestão Ambiental pelo
Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio - CEUNSP Itu SP
(2004), atua como professor na rede pública estadual e privada de
ensino desde 1995. Atualmente realiza estágio no Centro Experimental
Central do Instituto Biológico - Laboratório de Controle Biológico.
Veridiana Barboza e Silva
é Acadêmica de Biologia – Puccamp,
Campinas/SP e estagiária do Instituto Biológico. Tem
experiência na área de Microbiologia.
Reprodução autorizada desde que citado os autores e a fonte Dados para citação bibliográfica(ABNT): LMACHADO, L.; OLIVEIRA, M.M. de; SILVA, V.B e Ocorrência de Epacroplon cruciatum (Aurivillius, 1899) (Coleóptera: Cerambycidae) como uma nova praga para a citricultura paulista. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_3/pragacitrus/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 09/08/2007 |