Relato do desempenho de Poedeiras Comerciais consumindo água filtrada
Nilce Maria Soares Queiroz Gama A avicultura brasileira tem demonstrado nos últimos anos ótimo desempenho, em vista da organização e desenvolvimento do setor e os avanços, principalmente, nas áreas de nutrição e sanidade que contribuíram em muito para esses resultados (Ristow e Silva, 2006). Entretanto, a água, considerada depois do oxigênio o nutriente mais importante para os seres vivos e que foi designada como o nutriente esquecido por Thulin e Brumm (1991), somente agora está recebendo a devida atenção dos técnicos da avicultura brasileira. É amplamente reconhecida a magnitude da importância da água para todo ser vivo, sendo seu consumo diário vital para as aves de produção, que conseguem sobreviver 30 dias sem alimento e morrem assim que perdem 20% da água presente em seu organismo (Vohra, 1980). Entre todas as funções da água, as que são consideradas pelo NRC (1998) como mais importantes são a participação indispensável em todas reações químicas, a promoção do movimento de nutrientes e a retirada de substancias tóxicas das células dos tecidos dos animais. Leeson & Summers (2001) consideram que, para as aves, a água é responsável pela maioria das funções do organismo, é o componente principal do sangue e dos fluidos extra e intracelular, é responsável pelo transporte, absorção e digestão de nutrientes, excreção de metabólitos, pelo equilíbrio da temperatura corporal, além de outras funções importantes. Devido às características intensivas da avicultura, é de fundamental importância e essencial o uso racional e o suprimento seguro e adequado de água de boa qualidade, para maior eficiência da produção avícola (Carter e Sneed, 1996). A água também é utilizada na higiene das instalações e como veículo de vacinas, medicamentos e nutrientes, devendo para isto possuir constituição física, química e microbiológica adequadas (Gama, 2005). Para a dessedentação das aves, o uso de água de qualidade química ou bacteriológica duvidosa pode interferir nos índices zootécnicos (Tabler, 2003). Watkins (2000) relata que os frangos criados atualmente podem ser mais susceptíveis aos problemas de qualidade de água, quando comparados aos frangos que foram criados há apenas dez anos atrás. A observação do pesquisador nos chama atenção para o rápido desenvolvimento genético a que foram submetidas as aves de produção e que estas exigem boa qualidade dos insumos utilizados para o seu crescimento e produção. Koelkebeck (1999) avaliou a performance de poedeiras comerciais utilizando duas fontes de água, sendo que uma continha altas concentrações de sais, sódio e cloretos. As poedeiras que consumiram esta água apresentaram queda na produção de ovos e ainda, os autores concluíram que é importante a realização de estudos que demonstrem a garantia da água de boa qualidade para dessedentação de lotes de poedeiras comerciais. Quanto ao tipo de bebedouro, Amaral et al (1999 e 2001) evidenciam que o bebedouro tipo nipple protege a água de contaminação fecal, já que por este sistema, que é fechado, a água não fica exposta à contaminação pelas fezes das aves e a outros tipos de matéria orgânica. Fica evidenciado também, que podemos melhorar a qualidade da água antes que ela chegue ao bico das aves, pois por este sistema, ela assim se manterá. De acordo com Counotte (2000), quando os resultados de análises indicam a presença de elementos e bactérias indesejáveis na água, sistemas de filtração podem ser utilizados para purificar e, portanto, melhorar a qualidade da água de abastecimento das unidades de produção avícola. No Brasil, poucos são os relatos de estudos realizados para avaliar o desempenho produtivo das aves, de acordo com a qualidade da água ingerida. Em vista disto, foi delineado um estudo para avaliar o desempenho produtivo e a qualidade dos ovos de poedeiras comerciais alimentadas com água filtrada através do sistema de purificação HF-1000, desenvolvido pela Hidro Filtros do Brasil.O teste foi conduzido no galpão experimental da Unidade Laboratorial de Patologia Avícola do IB, em Bastos, SP. Foram utilizadas 100 poedeiras comerciais brancas com 30 semanas de idade. Os dados referentes ao desempenho produtivo das aves foram obtidos diariamente e as avaliações referentes à qualidade de ovo foram realizadas em colheitas periódicas, nos três dias ao final de cada 21 dias, referentes a um ciclo. A determinação de coliformes totais e fecais em amostras de água foi realizada segundo as metodologias de determinação de NMP/100 mL, descritas na Instrução Normativa do MAPA (Brasil, 2003).
Durante o teste a temperatura mínima do galpão variou de 15 a 25°C, a
máxima de 26 a 40°C e a dureza e o pH da água se mantiveram em torno de 25,5 mg/L de CaCO3 e 6,5, respectivamente. Nas condições em que foi realizado o
presente estudo e através dos dados apresentados pela avaliação do
desempenho das aves, observou-se uma adaptação, isto é, o ajuste do
organismo das aves à ingestão de água de melhor qualidade, revelada pela
melhor performance apresentada no terceiro período de avaliação, medida por
cinco diferentes índices zootécnicos. Também foi observado que as aves que
ingeriram água não filtrada apresentaram redução no consumo de ração do
primeiro ao terceiro período de avaliação, podendo-se inferir que esta
redução constante do consumo contribuiu para o desempenho insatisfatório
destas aves.
Embora não tenhamos objetivado tal fato, é importante que se realizem estudos que correlacionem a contaminação fecal da água com o resultado de performance das aves. Deve-se observar a presença e avaliar as lesões, além de avaliar a contagem de bactérias por grama de fezes, em toda extensão do trato intestinal, devido ao fato de que estes fatores podem causar interferência na absorção de nutrientes, consumo de ração e outro ems dados de medida de desempenho das galinhas. Jafari et al. (2006) relatam que uma das principais conseqüências da poluição fecal da água de bebida das aves é o aumento do risco de infecção por patógenos entéricos. Este fato pode ter acontecido com as aves que ingeriram água não filtrada, resultado em menor consumo de ração e piora do desempenho, ao longo dos três períodos de avaliação. No que se refere à qualidade bacteriológica da água, foram realizadas contagens de coliforme total e fecal. Nenhuma amostra de água filtrada apresentou número de coliformes totais e fecais >1100 NMP/100mL, sendo que em 96% das amostras, o número de coliformes totais e fecais foi <3 NMP/100mL. Contudo, nas amostras de água não filtrada, observou-se que 68% e 64% das amostras apresentaram quantidades >1100 NMP/100mL para coliformes totais e fecais, respectivamente, e em apenas uma amostra (4%) a contagem de coliforme fecal foi <3 NMP/100mL. Deve-se considerar que a determinação do número de coliformes fecais, além de ser um indicador de contaminação fecal da água, 95% destas bactérias são representadas por Escherichia coli. Em se tratando de aves de criação industrial, vários sorotipos de E. coli são patogênicos isoladamente ou associados com outros microrganismos (Amaral, 2001). Amaral (2004) esclarece que, embora a água não providencie condições ideais para a multiplicação de microrganismos patogênicos, eles sobreviveram nela por um tempo suficiente que permita a sua transmissão. O pesquisador lembra ainda que os produtores podem prevenir muitas doenças nos lotes de aves pelo controle da qualidade bacteriológica da água ingerida, o que resultará no decréscimo dos custos de produção e melhoria dos lucros, dois objetivos essenciais da produção avícola. Nas condições em que foi realizado o presente estudo e com a análise dos dados podemos inferir que as aves apresentaram um período de ajuste do organismo à qualidade da água ingerida, sendo que a água filtrada influenciou positivamente os parâmetros de desempenho produtivo poedeiras comerciais e que a purificação da água através do sistema de filtração, HF-1000®, reduziu a carga de bactérias da água proporcionando às aves, o fornecimento de água de dessedentação de melhor qualidade bacterioiológica.
Nilce Maria Soares Queiroz Gama possui mestrado em
Mestrado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista
"Julio de Mesquita Filho" (2001) e doutorado em Doutorado em
Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista "Julio de
Mesquita Filho" (2005). Atualmente é Pesquisador Científico V do
Instituto Biológico,
Unidade Laboratorial de Patologia Avícola de Bastos-SP. Tem experiência na área de Medicina Veterinária. Atuando
principalmente nos seguintes temas: aves, água, qualidade, coliforme
fecal, coliforme total e Pseudomonas.
Cristina Kimie Togashi possui graduação em Zootecnia pela
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1997), mestrado em
Produção Animal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (2000) e doutorado em Produção Animal pela Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (2004). Atualmente é
Pesquisador Científico I da Agência Paulista de Tecnologia dos
Agronegócios. Tem experiência na área de Zootecnia , com ênfase em
Nutrição e Alimentação Animal. Atuando principalmente nos seguintes
temas: alho, carne, colesterol, ácidos graxos, programas alimentares
e restrição alimentar.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): GAMA, N.M.S.Q; TOGASHI, C.K. Relato do desempenho de Poedeiras Comerciais consumindo água filtrada. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_3/poedeiras/index.htm>. Acesso em: Publicado no Infobibos em 15/08/2007
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