Principais doenças do maracujazeiro na região Centro-Oeste Paulista e medidas de manejo preconizadas
Ivan Herman Fischer A cultura do maracujá-amarelo vem se destacando na região Centro-Oeste paulista, com mais de 60 produtores apenas na região de Bauru. O longo período de safra (8 meses) permite um fluxo de renda mensal equilibrado, viabilizando economicamente pequenas propriedades rurais. Acompanhamento e auxílio do sistema de produção, do campo a comercialização do maracujá, vêm sendo realizados por pesquisadores (APTA - Pólo Regional Centro-Oeste/UPD de Bauru), professores (UNESP e USC de Bauru) e técnicos (SAI-Sebrae e Sagra). Projetos de pesquisa financiados pela FAPESP e CNPq têm proporcionado apoio financeiro a Bauru-Frutas (Associação de Fruticultores de Bauru e Região) para aquisição de um viveiro de mudas de maracujá e máquinas de seleção e processamento de frutos, estimulando ainda mais a cultura na região. A ocorrência de problemas fitossanitários vem reduzindo a vida útil dos novos plantios e pode ameaçar o sucesso da cultura na região. As principais doenças, em função da freqüência e dos danos ao maracujazeiro, são o vírus do endurecimento dos frutos, a podridão do colo e a mancha bacteriana. Para evitar o caráter itinerante da cultura, decorrente do crescimento insustentável de problemas fitossanitários, palestras e visitas aos agricultores têm sido realizadas com o intuito de divulgar tecnologias adequadas de manejo. Aliado a isto, projetos de pesquisas começam a ser desenvolvidos com o objetivo de resolver problemas de doença na região. Endurecimento dos frutos – Passion fruit woodiness virus (PWV) A doença reduz severamente a produtividade do maracujazeiro, o valor comercial dos frutos e o período produtivo das plantas. Caracteriza-se pelo mosaico foliar e frutos menores e deformados (Figura 1).
As recomendações de manejo visam prolongar a exploração econômica da cultura e minimizar os prejuízos decorrentes da doença. Essas recomendações são: a) eliminar pomares velhos ou contaminados ao final do ciclo de produção, para que não sirvam de reservatório de vírus antes do início da nova plantação. A falta de legislação específica, que permita a erradicação de lavouras contaminadas, faz com que o problema se agrave; b) utilizar mudas sadias, produzidas em viveiros protegidos e situados distantes de áreas de plantio. Em locais com histórico da doença, o plantio de mudas maiores apresenta a vantagem de reduzir o período de pré-colheita no campo; c) evitar o escalonamento de épocas de plantio na região, ou seja, conscientizar os produtores da importância de sincronizar a época de plantio; d) inspecionar periodicamente as plantas, erradicando as com mosaico nos primeiros cinco-sete meses após o transplante das mudas em campo (roguing), a fim de retardar a disseminação do vírus na plantação, uma vez que infecções tardias causam menos danos a produção; e) desinfectar instrumentos de poda/desbrota para evitar a transmissão mecânica do vírus; f) manter o pomar roçado, para evitar a formação de colônias dos pulgões vetores; g) intensificar a adubação de cobertura e foliar, e polinizar para aproveitar o máximo da cultura. O controle químico dos pulgões geralmente não é eficiente, pois além de estes não colonizarem o maracujazeiro, o PWV é transmitido de forma não persistente (período de aquisição e de transmissão do vírus de 15-30 segundos e ausência de período latente). O desafio de convivência com esta doença é grande, e para se conseguir sucesso é fundamental a participação de todos os setores envolvidos na cadeia produtiva do maracujá, desde a produção de mudas até a comercialização e processamento dos frutos. Podridão do colo - Fusarium solani e Phytophthora parasitica Disseminada nas principais regiões produtoras, é responsável pelo decréscimo da produtividade e constantes migrações da cultura. O primeiro sintoma visível é uma ligeira clorose, seguida pela murcha e morte da planta, resultado de uma podridão das raízes e do colo da planta (Figura 2).
O manejo é preventivo uma vez que até o momento não são conhecidas medidas eficazes de controle após a entrada dos patógenos. Os locais de plantio não devem apresentar histórico da doença. Deve-se evitar solos pesados e compactados; corrigir o pH do solo; manejar a irrigação de forma a se evitar o excesso bem como o estresse hídrico; manter a integridade do sistema radicular e erradicar plantas doentes. O uso de porta-enxerto resistente permite conviver com o problema em locais contaminados, entretanto menor desenvolvimento e produção das plantas enxertadas têm sido verificados. Pulverizações no colo e nas raízes das plantas com fungicidas eficientes em condições de casa-de-vegetação estão sendo testadas em condições de campo visando controlar a doença. Na APTA - Pólo Regional do Centro Oeste/UPD de Bauru, um projeto será desenvolvido com o objetivo de avaliar o comportamento de maracujazeiro amarelo a podridão do colo, em condições de casa-de-vegetação, com a interação de Fusarium solani e os nematóides Meloidogyne incognita e Rotylenchulus reniformis. Esses nematóides causam ferimentos nas raízes e esses locais servem de porta de entrada para os fungos causadores da podridão do colo, principalmente F. solani. Aliado a isso, há a hipótese destes nematóides predisporem fisiologicamente o hospedeiro à atuação do fungo. Mancha bacteriana - Xanthomonas campestris pv. passiflorae Doença limitante em algumas propriedades. Os sintomas foliares iniciam-se na forma de pequenas manchas, de cor verde-escura, com aspecto encharcado e halo amarelo (Figura 3). Sob condições favoráveis as lesões aumentam de tamanho, adquirem coloração marrom, podem coalescer e atingir todo o limbo foliar, ocasionando seca e queda das folhas. Ocorre, ainda, o avanço da infecção através das nervuras podendo atingir os feixes vasculares dos pecíolos e ramos, provocando a seca destes órgãos e até causar a morte da planta. Além destes sintomas, a bactéria também pode causar podridão e deterioração interna de frutos.
O uso de mudas sadias é a principal medida de manejo. A termoterapia das sementes em água, a 50 °C, por 15 minutos é eficiente em eliminar o patógeno, sem afetar o poder germinativo. Em plantas adultas, aplicações quinzenais de oxicloreto de cobre ou oxicloreto de cobre + maneb + zineb reduzem a intensidade da doença. Agrimicina (oxitetraciclina + estreptomicina) também é recomendada, em intervalos de sete dias, quando a incidência da doença for muito elevada, embora este tratamento não seja sempre eficiente. A erradicação das porções vegetais doentes pode ajudar a reduzir a epidemia, atentando-se para a desinfestação das ferramentas de poda com produto de ação bactericida, como o hipoclorito de sódio ou amônia quaternária. O plantio de quebra-vento diminui a ação do vento e da poeira sobre o pomar, contribuindo para a diminuição de ferimentos nas plantas e, conseqüentemente, a possibilidade de entrada da bactéria, como também a sua disseminação entre plantas. Uma vez que essa bactéria é facilmente disseminada pela água da chuva e de irrigação, deve-se evitar a irrigação sobre-copa. LITERATURA CONSULTADA
FISCHER, I.H., KIMATI, H., RESENDE, J.A.M. Doenças do maracujazeiro (Passiflora spp.). In: Kimati, H., Amorim, L., Resende, J.A.M., Bergamin Filho, A., Camargo, L.E.A. (Eds.) Manual de fitopatologia vol. 2 Doenças de plantas cultivadas - 4° ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 2005. p.467-474. OLIVEIRA, H.J. Incidência e manejo do vírus do endurecimento dos frutos (PWV) no Estado de Minas Gerais. In: Sampaio, A.C., Fumis, T.F., Rossi, A.D., Almeida, A.M., Garcia, M.J.M. (Eds.) Manejo no controle do vírus do endurecimento dos frutos (PWV) do maracujazeiro. Jaboticabal: Multipress Ltda. 2005. p.37-46. RUGGIERO, C., SÃO JOSE, A.R., VOLPE, C.A., OLIVEIRA, J.C., DURIGAN, J.F., BAUMGARTNER, J.G., DA SILVA, J.R., NAKAMURA, K.I., FERREIRA, M.E., KAVATI, R. & PEREIRA, V.P. Maracujá para exportação: aspectos técnicos da produção. Brasília: Frupex-Embrapa, 1996. 63p.
Ivan Herman Fischer
possui graduação em Engenharia
Agronômica pela Universidade de São Paulo (2001) e mestrado em
Agronomia (Fitopatologia) pela Universidade de São Paulo (2004) .
Atualmente é Pesquisador Científico I da Agência Paulista de
Tecnologia dos Agronegócios. Tem experiência na área de Agronomia.
Atuando principalmente nos seguintes temas: Podridão do colo,
controle genético, controle químico. Contato: ihfische@aptaregional.sp.gov.br
César Júnior Bueno
possui graduação em Faculdade de Engenharia
Agronômica pelo Centro de Ciências Agrárias - UFSCar (1999) ,
mestrado em Proteção de Plantas pela Faculdade de Ciências
Agronômicas - UNESP (2001) e doutorado em Proteção de Plantas pela
Faculdade de Ciências Agronômicas - UNESP (2004) . Atualmente é
Pesquisador Científico I da Agência Paulista de Tecnologia dos
Agronegócios e Revisor de periódico da Summa Phytopathologica. Tem
experiência na área de Agronomia , com ênfase em Fitossanidade.
Atuando principalmente nos seguintes temas: estruturas de
resistência, Fitopatógenos de solo, preservação, metodologias. Contato: cjbueno@aptaregional.sp.gov.br
Aparecida Marques de Almeida concluiu o doutorado em agronomia (agricultura) [Botucatu] pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho em 1994. Atualmente é Pesquisador Científico V - Diretora do Núcleo de Pesquisa da APTA Regional do Centro-Oeste - Departamento de Descentralização do Desenvolvimento, lotada na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Bauru. Atua na área de agronomia em fitopatologia, com ênfase em micologia vegetal. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes são: amendoim, fitossanidade, doenças pós-colheita, controle de fungos, fusarium sp, maracujá, goiaba, nematóides, cancro cítrico, citros e cana-de-açúcar. Contato: almeida@aptaregional.sp.gov.br
Maria José de Marchi
Garcia
concluiu o
doutorado em agronomia (agricultura) [Botucatu] pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho em 1995. Atualmente é
Pesquisador Científico V na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de
Bauru, Pólo Regional do Desenvolvimento Tecnológico - APTA Regional
Centro-Oeste - Departamento de Descentralização do Desenvolvimento.
Atua na área de agronomia, com ênfase em parasitologia e nematologia
vegetal. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes são:
guandu, amoreira, alface, maracujá, plantas hospedeiras, produção de
sementes, amendoim, espaçamentos, fungos, pragas de milho
armazenado, nematóides, doenças e doenças fúngicas.
* Origem: Apta Regional - www.aptaregional.sp.gov.br
Dados para citação bibliográfica(ABNT): FISCHER, I.H.; BUENO, C.J.; ALMEIDA, A.M de; GARCIA, M.J.M. Principais doenças do maracujazeiro na região Centro-Oeste Paulista e medidas de manejo preconizadas. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_3/Maracuja/index.htm>. Acesso em: Publicado no Infobibos em 06/07/2007
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