Diagnóstico da aqüicultura na região noroeste do estado de São Paulo: dados preliminares

por Helenice Pereira de Barros

O Brasil é considerado um dos países com maior potencial para a expansão da aqüicultura (Queiroz et al., 2002), principalmente pela extensão dos recursos hídricos. De acordo com o IBAMA (2005), a produção de pescado de água doce no país apresentou um crescimento acentuado nos últimos anos, elevando-se de 88.565,5 t (em 1998) para 180.730,5 t (em 2004), valor correspondente a 17,8% da produção brasileira total de pescado.

O estado de São Paulo, apesar de ser o maior produtor de peixes da Região Sudeste e o segundo do Brasil, é também o maior importador de pescado do país (IBAMA, 2005). A região noroeste paulista, onde está instalado o Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio do Pescado Continental, do Instituto de Pesca [da APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo], é considerada promissora para o desenvolvimento da aqüicultura. Além do clima favorável, essa região conta com grande potencial hídrico; os rios Grande e Turvo são os principais da região. Entretanto, dados obtidos em levantamentos realizados no final da década de 1990 indicaram aproveitamento mínimo desse potencial para atividades aqüícolas. A falta de planejamento técnico e econômico e de investimento em assistência técnica relaciona-se diretamente ao desempenho desfavorável da região (Scorvo Filho, 1999).

 

Engorda de patinga, Palestina (SP)

 

Para reverter tal situação, é necessário conhecer a estrutura da cadeia produtiva regional e seus problemas, a fim de que técnicos e pesquisadores atuem no sentido do desenvolvimento da atividade. O levantamento estatístico é uma ferramenta importante para se avaliar o desempenho de qualquer atividade econômica, porém, trata-se de um trabalho que deve ser constantemente atualizado e realizado, se possível, diretamente com os produtores, buscando diagnosticar, além dos aspectos técnicos e econômicos, os principais problemas enfrentados na prática da atividade.

É com esse objetivo que o Instituto de Pesca vem desenvolvendo o projeto “Diagnóstico da aqüicultura na região noroeste do estado de São Paulo”, de autoria de Helenice Pereira de Barros.

Na primeira etapa, visitaram-se 86 cidades da região, entregando-se um questionário com perguntas básicas aos técnicos das Casas de Agricultura (CAs) de cada município, para a organização de um cadastro prévio das unidades aqüícolas (propriedades que possuem ou possuíram alguma atividade relacionada à aqüicultura). Dos questionários entregues, obteve-se um retorno de 69,8% das CAs visitadas, porém grande parte das informações fornecidas resumiram­se à forma de contato (endereço e telefone) com os proprietários. Em 60 municípios, cadastraram-se 292 produtores que possuem área aqüícola, de caráter familiar ou comercial, em atividade ou não.

Pesque-pague Estância Primavera, São José do Rio Preto (SP)

 

Em relação à atividade desenvolvida, obtiveram-se informações sobre 154 unidades de produção (52,7% do total de produtores cadastrados), sendo 71 pesqueiros, 5 unidades de produção de alevinos e 78 unidades de engorda. Entretanto, de acordo com os dados fornecidos pelos técnicos das CAs, ao menos 46 unidades estão atualmente desativadas, o que corresponde a 29,9% do total.

 

Alguns dados técnicos (número de tanques, área de espelho d’água e espécies produzidas) foram obtidos de 96 propriedades (32,5% do total de 292 cadastradas). Verificou-se a existência de 621 viveiros, com área total de 79,8 ha de espelho d’água, geralmente escavados, de fundo de terra e construídos em sistema de derivação.

Com base nos dados fornecidos, presume-se que a maioria das unidades aqüícolas pode ser classificada como pequena, com área média alagada de 0,83 ha/produtor. As principais espécies encontradas em pesqueiros foram o pacu, o tambaqui e o tambacu e, na produção comercial, a tilápia.

Apesar das poucas informações técnicas obtidas nessa primeira fase, o contato com os técnicos e extensionistas das Casas de Agricultura, bem como com alguns produtores, permitiu traçar-se um perfil preliminar da situação da aqüicultura na região noroeste do estado de São Paulo. Por outro lado, mesmo havendo grande interesse pela atividade por parte dos produtores, eles se encontram geralmente desmotivados a continuar ou a reativar suas pisciculturas. A falta de mercado e de assistência técnica, o custo elevado da produção e o roubo são as principais causas desse desinteresse.

Pesqueiro Carpa Dourada, Votuporanga (SP)

 

A segunda etapa do projeto, já iniciada, consiste na visita a cada propriedade cadastrada e na aplicação de um questionário direcionado aos produtores. O objetivo é o mapeamento das unidades produtivas de organismos aquáticos e a caracterização da cadeia de produção aqüícola quanto aos aspectos técnicos, econômicos, ambientais e sociais envolvidos na atividade. Para melhor definição da área de abrangência do projeto, as visitas serão restritas às propriedades cadastradas nos 49 municípios pertencentes à Bacia Hidrográfica do Rio Turvo.

 

A avaliação dos dados obtidos servirá como base para o direcionamento de pesquisas e programas visando à construção de modelos técnicos e organizacionais locais, bem como ao desenvolvimento de sistemas de logística operacional e distribuição dos produtos, que consolidem a aqüicultura como atividade econômica na referida região.

LITERATURA CITADA

IBAMA 2005 Estatística da Pesca 2005. Brasil – Grandes regiões e unidades de federação. Brasília. 137p.

Queiroz, J.F.; Lourenço, J.N.P.; Kitamura, P.C. 2002 A Embrapa e a aqüicultura. Demandas e prioridades de pesquisa. Texto para Discussão, Embrapa/Brasília, 11: 1-40.

Scorvo Filho, J.D. 1999 Avaliação técnica e econômica das pisci­granjas de três regiões do Estado de São Paulo. Jaboticabal. 120p. (Tese de Doutoramento. Universidade Estadual Paulista).


Origem : Instituto de Pesca - www.pesca.sp.gov.br


Helenice Pereira de Barros concluiu o doutorado em aqüicultura pelo Cetro de Aüicultura da Unesp em 2001. Atualmente é Pesquisador Cientifico do Instituto de Pesca, Centro de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio do Pescado Continental. Atua na área de recursos pesqueiros e engenharia de pesca, com ênfase em aqüicultura. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes são: camarão de água doce, Macrobrachium, aqüicultura, biologia, carcinicultura, larvicultura, camarão, piscicultura e alimentação.
Contato:
helenicebarros@pesca.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

BARROS, H.P. de Diagnóstico da aqüicultura na região noroeste do estado de São Paulo: dados preliminares. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_3/diagAquicultura/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 26/09/2007

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