MINHAS REFLEXÕES SOBRE MATRIX

por Koiti Egoshi

 

 

Trinity, Neo e Morpheus

Fonte: www.handheldunderground.com/wallpapers/matrix_reloaded_trinity_neo_morpheus_01.jpg

AMOR À PRIMEIRA VISTA

Amei à primeira vista Matrix. Senti aquele amor maduro, um pouquinho diferente daquele amor sublime de meu tempo de moleque que senti outrora, ao assistir na televisão Jornada nas Estrelas. Hoje ainda sinto aquele sublime amor romântico que senti em Jornada nas Estrelas, como também curto o maduro amor racional de Matrix.

Se Jornada nas Estrelas me deu esperanças de um futuro melhor, Matrix me sacudiu e me avisou que esse futuro chegou triunfante. Mas, triunfante demais. Tão triunfante, que tendemos a adentrar em Matrix.

Então, resolvi refletir a fundo sobre Matrix. Este artigo é o resultado dessas minhas reflexões.

Então, resolvi refletir a fundo sobre Matrix. Este artigo é o resultado dessas minhas reflexões.

Fonte: www.maxysoft.com/alien-magic-matrix-3d-screensaver.shtml

O QUE É MATRIX

Fonte: oxyx.oxygen-inc.com

Matrix é um lugar abaixo da superfície da Terra, onde a humanidade está em coma dentro de casulos, controlada por computadores maléficos, que rodam sistemas operacionais com Inteligência Artificial, no ano 2199. Os humanos servem como baterias – fontes de energia para as máquinas, sonhando que vivem numa cidade americana em 1999. A superfície da Terra fora destruída  numa guerra dos humanos com máquinas dotadas de Inteligência Artificial. O natural foi desalojado pelo artificial. Assim, o futuro é só artificial, sendo que o natural é só no passado. Alguns humanos mais conscientes como Morpheus, Trinity e Neo concluem que Matrix é uma  civilização pós-humana, fruto de uma armadilha que a própria humanidade provocou. Para sair dessa enrascada, Neo terá de escolher entre duas pílulas nas mãos de Morpheus: azul ou vermelha. Eles se confrontam nas aventuras em busca do mundo real, com o agente Smith e sua réplicas. Num dado momento, Smith diz a Morpheus: “bilhões de pessoas que simplesmente levam a vida.... inconscientes.”.

Matrix é a armadilha em que o mundo se transformou. Matrix é civilização pós-humana.

Azul ou Vermelha?

Azul, para ficar e viver como a maioria que sempre vive na rotineira mesmice.

Vermelha, para ir em busca do progresso, vivendo emocionantes aventuras. Aventuras na base das porradas de Kung Fu de Bruce Lee, para agradar não só a gregos como a troianos.

Seguindo o exemplo de Neo, eu também tomei a Vermelha. Para sentir as emoções de Matrix, refletir-me sobre ela e explicitar os resultados dessas reflexões.

Os resultados dessas reflexões são 5 (cinco) tópicos que passo a analisar, uma seguida da outra: Minha Fundamentação Teórica; Sobre os Autores; Metáforas; Críticas à Humanidade; Alertas e Ensinamentos.

Acompanhem-me! Venham comigo, participar de mais uma emocionante aventura em Matrix!

Antes, porém, discorrerei no tópico Minha Fundamentação Teórica, de que forma escrevi este artigo.

MINHA FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Em minhas aulas de Metodologia de Trabalhos Científicos denomino de Fundamentação Teórica à coletânea de conhecimentos produzidos mediante Revisão de Literatura, que serão necessários e úteis, tanto para o trabalho de pesquisa como para o trabalho de escrever sobre a pesquisa. E Revisão de Literatura é uma pesquisa atualizada de livros, revistas e todos os outros tipos de documentos fidedignos,  para produzir Fundamentação Teórica.

Desta forma, além de assistir a todos os 3 filmes Matrix, recorri-me à literatura sobre Matrix e outros assuntos correlacionados, para melhor fundamentar este meu artigo. Essa bibliografia segue abaixo listada, para contentar àqueles que como eu, são amantes de livros:

ANÔNIMO. Buddha. Embu: Ordem do Graal na Terra, 1993.

Coleção OS PENSADORES. Aristóteles. São Paulo: Nova Cultural, 1987.

CLARET, Martin. O Pensamento Vivo de Buda. São Paulo: Martin Claret,1985.

FREUD, Sigmund. Além do Princípio do Prazer. Rio de Janeiro: Imago, 2003.

GROF, Stanislav. Além do Cérebro – Nascimento, Morte e Transcendência em Psicoterapia. São Paulo: McGraw-Hill, 1988. Sobre o Inconsciente Coletivo de Carl Gustav Jung.

IRWIN, William. Matrix – Bem-vindo ao Deserto do Real. São Paulo: Madras, 2002.

TRÊS INICIADOS. Caibalion. São Paulo: Pensamento, 2004. Sobre Hermes Trimegisto.

YEFFETH, Glenn e outros. A Pilula Vermelha – Questões de Ciência, Filosofia e Religião em Matrix. São Paulo: Publifolha, 2003.

Além desses, pesquisei outros livros, os quais serviram de base aos Wachowski Brothers, para criar Matrix:
 

ASIMOV, Isaac. Eu, Robô. São Paulo: Ediouro, 2004. Asimov cita as 3 leis do robô.

BAUDRILLARD, Jean. Simulacros  e Simulação. Lisboa: Relógio D’Água, 1991.

CARROLL, Lewis. Alice no País das Maravilhas. São Paulo: Nacional, 2004. Tradução de Monteiro Lobato.

GIBSON, William. Neuromancer. New York: 1984.

KELLY, Kevin. Out of Control: The New Biology of Machines, Social Systems and the Economic World. Massachusetts: Addison-Wesley, 1994.

ORWELL, George. 1984. São Paulo: Nacional, 1980.

PLATÃO. A República de Platão. São Paulo: Sapienza, 2004. Nesta obra Platão descreve a alegoria da caverna.

Além de Matrix, lembrei-me de outros filmes de ficção científica, os quais influíram sobremaneira às minhas reflexões: Jornada nas Estrelas (1967); 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968); Fuga do Século 23 (1976); Star Wars (1977); Alien – o Oitavo Passageiro (1979); Tron – Uma Odisséia Eletrônica (1982); Blade Runner – o Caçador de Andróides (1982); O Exterminador do Futuro (1984).

SOBRE OS AUTORES

Larry Wachowski (21/06/1965) e Andy Wachowski (26/12/1967) antes escreveram Matrix como gibi (história em quadrinhos) para Marvel Comics.

           
Larry Wachowski             Andy Wachowski
Fonte:
 www.tgcrossroads.org/news/?aid=719
            Fonte:
 www.videomax.ro/DVD/DetailsActDir~t~2~ADID~63.htm

Wachowski Brothers uniram o útil (percepção, filosofia, ciência, tecnologia, religião, sociologia, psicologia etc) ao agradável (aventuras e porradas de Kung Fu, astrologia, numerologia, futurologia, cartomancia etc), para agradar a gregos e troianos.

METÁFORAS
 
Agent Smith
Fonte: http://billmon.org/archives/cat_civil_liberties.html

Matrix é riquíssimo em metáforas, símbolos, alegorias e parábolas, a começar pelos números, imagens,  palavras e frases:

101 – Número do apartamento de Neo em binário, que é igual a 7, que em numerologia é o número da perfeição.

303 – Quarto da Trinity no início do filme; no mesmo quarto morre Neo, baleado pelo Agente Smith; 6 é o número da Besta do Apocalipse.

1313 – apartamento do Hotel Lafayette onde Neo se encontra com Morpheus pela primeira vez, e toma a Pílula Vermelha; 13 é número de azar, 1313 é duplamente azar.

312-555-0690 – 312 é prefixo de Chicago, cidade natal dos Wachowski Brothers.

9:18 – horário que está marcando o relógio no apartamento de Neo. É a data de aniversário da mulher de Andy Wachowski, isto é, 18 de setembro.

Cor Verde Matrix – é reminiscência da primeira cor dos monitores de vídeo dos PCs e dos mainframes IBM. Lembra-se?

Meatspace – significa o espaço carnal, Mundo Real, o oposto de Cyberspace ou Mundo Virtual.

Pílula Azul – significa o contrário da Pílula Vermelha – o domínio só da mente fria, calculista e racional.

Pílula Vermelha: significa sair da mesmice, libertar-se, sair das regras e convenções sociais,  aventurar-se; ser ativo e pró-ativo. No mundo tanto da mente fria, calculista e racional, quanto do coração cheio de sentimentos e emoções.

Temet nosce – é a máxima “conhece-te a ti mesmo” – o primeiro grande passo para o auto-conhecimento.

Toca do Coelho: é precipício sem fim, em Alice no País das Maravilhas.

Mas, os personagens  são as principais metáforas e destaques em Matrix:

Morpheus – que representa João Batista, que batizou Jesus Cristo; também significa Pai Todo Poderoso ou simplesmente “pai”. Morpheus é o deus grego do sono, de onde foi originada a palavra morfina, a droga que anestesia.

Neo – significa Filho ou simplesmente “filho”, que retorna ao Pai. Seu correspondente, o hacker  Thomas Anderson no Mundo Real, representa Jesus Cristo.

Trinity – significa Espírito Santo, a terceira pessoa da Santíssima Trindade; também significa “mãe”, Maria Madalena ou andrógina.

Agente Smith e outros agentes – representa todos os males para a humanidade, como também insinua que a própria humanidade é criadora dos seus males.

Cypher – significa zero; o traidor; Judas.

Apoc são as primeiras letras de Apocalipse.

Garotinho que entorta colher – significa que nada neste mundo é real, tudo é passageiro, efêmero e ilusório; nada é para sempre. Portanto, não leve tão a sério esta vida.

Fetos humanos presos aos eletrodos   significa que a realidade humana e o mundo real não são tão lindos e maravilhosos, são até  feios e repugnantes.

Em meio a uma série de peripécias e aventuras entre o Mundo Virtual (Matrix) e o Mundo Real, o filme expressa sérias críticas à desenfreada busca do progresso da humanidade.

CRÍTICAS À HUMANIDADE
 
Fonte: www.geocities.com/WestHollywood/Heights/1037/trinity/trinity2.html

Crítica ao Digital

Os rebeldes só conseguem fugir de Matrix, através de telefones analógicos. Isso quer dizer que telefones analógicos são mais naturais que os digitais (que são mais facilmente manipuláveis).

Crítica à Tecnologia

Que já nos controla e nos impulsiona irreversivelmente para o Mundo Virtual. Você já imaginou viver sem luz, telefone, celular, microcomputador e Internet (e-mails e websites)?

Crítica à Burocracia hierárquica, como também ao trabalho enclausurado e deprimente em cubículos

Thomas Anderson, em uma minúscula baia do escritório, da empresa de software Meta CorTechs, recebe advertência pelo atraso ao trabalho. E aí, você vai me dizer que nunca foi humilhado desse jeito, é?

Crítica ao Estado e à Sociedade

O Estado e a Sociedade consideram que o normal é trabalhar para uma “empresa respeitável, ter registro na Previdência Social e pagar impostos”, mas não estão nem aí preocupados com mais de um bilhão de desempregados e subempregados no mundo inteiro – muito menos, com você.

ALERTAS E ENSINAMENTOS
 

Fonte: http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/matrix/matrix-poster04.jpg

O Futuro Perfeito é sem graça

Os humanos conseguiram chegar ao Mundo Perfeito, sem sofrimento. Depois de chagarem, constataram que não tinha a mínima graça, daí, partiram para Matrix Reloaded – 2o filme Matrix que busca o Mundo Real. Não deram ouvidos ao sábio que disse, que o melhor da festa é esperar por ela.

Futuro é cada vez mais Razão (Mente) e cada vez menos Emoção (Coração); cada vez mais artificial e cada vez menos natural; cada vez mais virtual e cada vez menos real.

Tudo tende a se transformar em programa de computador, que dita cada vez mais o seu modo de vida.

A realidade é que gostamos também de sofrer, porque somos também masoquistas. Claro, você também tem pelo menos um pingo de masoquismo no seu ser. Sigmund Freud (1856-1939) explica muito bem essa nossa realidade, nua e crua.

Mesmo porque, só sentiremos bem o que é prazer, sentindo na pele a dor física e o sofrimento psicológico e psíquico. Hermes Trimegisto (2.750 ªC) que o diga.

Buda

 

Vida é sofrimento

O Mundo Real é de Sofrimento. Tanto é que “quando Neo é libertado da Matrix, Morpheus o cumprimenta com melancolia e compaixão: “Bem-vindo ao mundo real””.

Tanto, que observa o agente Smith: “Humanos definem a realidade pela miséria e pelo sofrimento”.

A propósito, Buda (563 ªC – 483 ªC) foi o primeiro a concluir e dizer que a vida é sofrimento, há mais de 2.500 anos atrás, quando aos 29 anos, presenciou pela primeira vez:

Um velho corcunda, arrastando-se com grande dificuldade;

Um mendigo faminto, implorando por comida;

Um doente, urrando de dor;

Um morto, sendo conduzido ao cemitério, por parentes e amigos chorando.

Até então não havia conhecido essa dura realidade porque seu pai o queria muito bem e daí, lhe deu um mundo só de felicidades, prazeres e luxúrias no castelo, sem que ele presencie qualquer realidade de sofrimentos dos comuns dos mortais. Mas aos 29 anos, resolveu contrariar e sair do seu mundinho. E pagou muito caro por isso: entrou em choque porque jamais tinha presenciado qualquer tipo de sofrimento. Daí, resolver perambular por Índia afora, em busca do porquê de tanto sofrimento.

Assim, por 6 longos anos seguintes, Buda que até então era o príncipe Sakyamuni, sofreu de todos os males por que passavam comuns dos mortais de sua época. Até  ser Iluminado, aos 35 anos, numa noite de Lua Cheia, no Mês de Maio de 528 A. C, debaixo de uma figueira que passou a ser conhecida como Bodhi, a Árvore da Iluminação.

Passou por todas e possíveis experiências de sofrimento: andando como velho alquebrado; passando fome como um mendigo; praticando auto-flagelo, ficando doente e urrando de dor; e finalmente, chegando à beira da morte. Depois de decorridos 6 anos, concluiu que o melhor é o Caminho do Meio, nem tanto o ascetismo nem tanto a luxúria. Nem tanto o céu nem tanto a terra. Nem sim nem não. Nem a favor nem contra. Iluminou-se.

Conscientizou-se que o mais importante é compreender e enxergar melhor a mais Verdadeira Verdade, a mais Real Realidade. Chegou à conclusão de que para tanto, é necessário, deixar de lado os Valores que carregamos na Mente e no Coração, purificando-os.

Concluiu também que tudo está interligado em um único ritmo cósmico; que tudo existe porque simplesmente existe. O resto é imaginação fértil e ideal que o homo sapiens tem, cria e desenvolve ao longo de sua evolução cósmica.

Daí, a partir da sua Iluminação, aos 35 anos, peregrinou o resto de sua vida orientando pessoas a sofrerem menos, compreendendo que viver é sofrer, faz parte desta nossa Roda da Vida. Nesta Roda da Vida, tudo muda, nada é permanente. E quanto mais apego e desejo, maior o sofrimento  e quanto menos apego e desejo, menor o sofrimento.

Então, a partir dessa compreensão, o melhor mesmo é você trilhar pelo Caminho do Meio, da Temperança ou do Discernimento - sem se preocupar demasiadamente com o Passado nem com o Futuro, vivendo o Aqui Agora; desenvolver a Iluminação Individual através do Auto-Conhecimento, Auto-Disciplina e Auto-Conduta, para se atingir um fim último, que é a liberação de todo o sofrimento.

Quais são os grandes ensinamentos de Buda que hoje eu sinto no meu ser, como verdadeiros, após experimentar o doce e o amargo da vida ao longo dos meus anos? Vários. Dentre eles, cito:

1) A vitória sobre si mesmo, é a maior de todas as vitórias;

2) O Eu é o mestre do eu, mais ninguém;

3) O que somos é a conseqüência do que pensamos e agimos;

4) A vitória sobre o outro gera ódio porque o vencido sofre; aquele que é feliz, não busca nem vitória nem derrota, a não ser a vitória sobre si mesmo;

5) A mente é a senhora dos 5 sentidos; daí, a necessidade de disciplinar a nossa mente;

6) Devemos comer e beber o suficiente, e como remédio;

7) O conhecimento útil só pode ser adquirido pela prática, daí, somente estéreis locuções e discussões teóricas sem base, só ocasionam perturbações mentais;

8) Neste mundo, nada existe de permanente e tudo que se reúne, está sujeito à separação – daí, não fique triste, porque é assim mesmo e conforme-se, que um dia tudo isso também passará;

9) O mundo é algo incerto e perigoso, mas você é quem traça o seu próprio caminho;

10) Não acredite simplesmente porque ouviu dizer, nem na fé das tradições, pois que foram transmitidas de geração a geração, por homens tão fracos quanto você;

11) A Sabedoria e a Iluminação só vêm depois de muito sofrimento;

12) Viver é sofrer. Por isso, é emocionante.

Depois desses grandes ensinamentos, retornemos ao mundo do Matrix.

Ignorância  é felicidade

“Cypher explica sua escolha dizendo: “Eu sei que este bife não existe. Eu sei que quando o coloco na boca a Matriz ao seu meu cérebro que o bife é suculento e delicioso. Depois de nove anos, sabe o que percebi? A ignorância é a felicidade””.

Milhões de torcedores são felizes porque deixam tudo de lado e param até de trabalhar e ganhar dinheiro, só para assistir a sua seleção de futebol jogar. Entendeu minha analogia?

Agora, imagine tantas ignorâncias e tantas felicidades por aí afora.

Maria vai com as outras

O agente Smith diz: Bilhões de pessoas que simplesmente levam a vida.... inconscientes. Nelson Rodrigues disse: “a unanimidade é burra”. E eu digo: bilhões de pessoas são “Maria vai com as outras”; bilhões que continuam na mesmice tradicional, presos e escravos do dia a dia, arrastados pela multidão que a mercê das mídias das massas, pensa que a realidade é apenas aquilo que é noticiado e anunciado.

É o tal do Inconsciente Coletivo de Carl Gustav Jung (1875-1961). Quantos milhões torcem por um jogo de futebol, só porque todo mundo torce? Quantos deixaram seus afazeres, só para irem ao enterro de um ídolo famoso de Fórmula-1? Você já percebeu como a maioria assiste ao Oscar até altas horas da madrugada, só porque a mídia noticiou que é imperdível, a semana inteira, antes do evento?

Você que viaja todo fim de semana prolongado para o litoral, enfrentando trânsito congestionado e parado desde São Paulo até o seu destino, ainda não se cansou de tanto stress que isso provoca?  Ainda não percebeu que você vai com todo mundo, fica com todo mundo e volta com todo mundo?  Já percebeu que quando todo mundo fica com todo mundo, falta água no local e onde quer que se vá, na redondeza, tem filas e mais filas para fazer compras? Ah, sim, isso satisfaz o seu masoquismo.

Como diz o agente Smith, bilhões de pessoas que simplesmente levam a vida... inconscientes.

Congestionamento na Marginal Tietê

Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/773

Domínio do Virtual sobre o Real

Platão, na sua alegoria da caverna, retrata prisioneiros acorrentados numa caverna desde o nascimento, que não sabem que estão presos e só conseguem ver as sombras projetadas na parede pela fogueira, acesa pelos seus opressores; acreditam piamente que essas sombras é que constituem o mundo real; mesmo quando um prisioneiro se liberta da caverna, em princípio não acredita na nova realidade.

Estamos cada vez mais adentrando à armadilha do Mundo Virtual, que amanhã poderá ser a Caverna do Platão. Estamos nos acostumando tanto a esse Mundo Virtual por ele ser maravilhoso, fascinante e fantástico, que cada vez mais somos viciados e dependentes dele, que amanhã será praticamente impossível sair dele. Até lá, cada vez mais perdermos a noção da realidade do Mundo Real, agravando ainda mais a crise de percepção da realidade.

Como bem disse outrora Marshall McLuhan in Understanding Media: “A instrução continua sendo, ainda hoje, a base e o modelo de todos os programas de mecanização industrial. Ao mesmo tempo, porém, aprisiona a mente e os sentidos de que a usa na matriz mecânica e fracionária tão necessária à manutenção da sociedade mecanizada”.

Quanto mais as tecnologias – tecnologia da informação, biotecnologia e nanotecnologia –  nos propiciarem facilidades e melhorias de vida, maior o risco de perigo que elas nos acarretarão no futuro. Talvez prevendo isso, Isaac Asimov criou as 3 Leis do Robô: 1a. – não deve ferir um humano nem prejudicá-lo por omissão; 2a. – deve obedecer à ordem de um ser humano, a não ser que conflite com a 1a Lei; 3a. – deve preservar a si próprio, a não ser que conflite com a 1a e a 2a leis.

O ser humano cria e desenvolve tecnologias, mas não faz idéia das conseqüências que elas acarretam. Muito menos se tem consciência de que elas adquirem vida própria, automatizando e controlando o cotidiano de atividades sociais.

Então lembremos de “quod me nutrit me destruito que me nutre me destrói”. Isto é, o que nos beneficia também poderá nos prejudicar. Isso fez me lembrar também de oroboros, aquela serpente que infinitamente devora sua própria cauda.

Oroboros

Fonte: www.thelemapedia.org/index.php/Special:Imagelist

 

O Perigo da Democratização do Ensino, da Ciência e da Tecnologia

As tecnologias de ponta da Era Industrial eram somente criadas e manipuladas pelo Estado, num tempo relativamente longo e de matéria-prima caríssima e de difícil acesso; já as tecnologias da Era pós-Industrial ou Internet, são criadas e manipuladas por empresas e indivíduos, em curtíssimo espaço de tempo com matéria-prima de baixíssimo preço e de fácil acesso – a informação. Até as tecnologias da Era Industrial na Era pós-Industrial ou Internet, adquirem características de tecnologias da Era pós-Industrial ou Internet, graças à tecnologia de informação que a tudo agrega, integra e converge. É o fenômeno que chamamos de Convergência Tecnológica.

Isto é, cada vez mais simples cidadãos têm acesso a quaisquer informações, inclusive àquelas mais destrutivas. Estaremos cada vez mais a mercê de sentimentos e emoções pessoais em larga escala no futuro.

Aristóteles (384 ªC-322 ªC) tinha razão quando disse que a Democracia tende à Anarquia, que tende à degradação social. Ó vida cruel, agora que uma grande parte do mundo está democratizada após duras penas ao longo dos tempos, você vem me dizer que isso tudo tende ao caos?

Calma, não esquente a cabeça porque afinal, de qualquer forma, do pó você veio e a pó voltará!

Que assim seja!

E seja feliz o quanto puder! Mesmo em Matrix.


Koiti Egoshi é Doutor em Administração pela World University–USA; Mestre em Organização, Planejamento e Recursos Humanos pela EAESP/FGV–Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas; Pós-Graduado  Lato Sensu  em  Análise de Sistemas pela FECAP – Fundação Escola do Comércio Álvares Penteado; Administrador de Empresas pela FEA/USP – Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo.
Professor de conteúdo e-Learning em Administração, Tecnologias da Informação e Internet; Professor de Graduação e Pós-Graduação em Administração, Metodologia Científica, Tecnologias da Informação e Internet.

Contato:
consulting@egoshi.com.br


*Artigo também publicado no site http://www.cienciadaadministracao.com.br (05/10/2005). Copyright@Koiti Egoshi, 15 de setembro de 2004


Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

Egoshi, K.. Minhas reflexões sobre Matrix. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_2/Matrix/Index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 08/06/2007