Café: do sabor ao valor
Carla Léa de Ccamargo Vianna Cruz O café veio da Guiana Francesa para o Brasil em 1727, entrou pelo Pará e só chegou ao Estado de São Paulo em 1850. Nessa época já liderava as exportações brasileiras. Foi responsável por grandes mudanças na estrutura econômica e social do Brasil, acelerando o processo de urbanização e industrialização principalmente no Estado de São Paulo. O café veio para a região de Ribeirão Preto junto com os fluminenses fugindo da crise no Vale do Paraíba e foram doações de terra de 6 dessas famílias que possibilitaram a construção da Paróquia de São Sebastião, que deu origem à cidade. O café trouxe riqueza e desenvolvimento para a região e com a construção da ferrovia da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro, Ribeirão Preto tornou-se a maior produtora mundial. Também colaborou com a modernização dos portos do Rio de Janeiro e de Santos e foi importante para os processos imigratórios, principalmente da Itália, cujos imigrantes eram a principal mão-de-obra empregada. Foi o primeiro produto de exportação controlado por brasileiros, possibilitando o acúmulo de divisas no país. Contudo, o crack da bolsa de Nova York em 1929, aliado à crise de superprodução, forçou a queda dos preços até um pouco mais do que a metade e se mantiveram baixos até 1947. Após a recuperação, o café retomou sua importância na pauta de exportações brasileiras e até hoje o país se mantém como maior produtor mundial, sendo responsável por 30% do mercado internacional de café. Com relação às exportações, Itália e Alemanha estão bem à frente, sendo a Alemanha a maior importadora de café verde do Brasil. Ela compra o melhor café do mundo, agrega valor e exporta para vários países. No Brasil são produzidas duas espécies que mais se destacam quanto ao valor comercial, Coffea arábica (café arábica) e Coffea canéfora (café robusta). Cerca de 75% do café comercializado no mundo é do tipo arábica e 25% do tipo robusta. A diferença crucial entre as duas espécies se revela nas propriedades sensoriais dos cafés torrados. O café arábica resulta em uma bebida de qualidade superior, com aroma e sabor mais intensos, amargor e acidez balanceados e, o café robusta é sensivelmente mais amargo, com notas que lembram cereais, sendo mais indicado para a produção de café solúvel e podendo também ser utilizado na formação de blends com o café arábica. O café deve passar pelo processo de torração para adquirir sabor e aroma característicos. Durante a torração ocorrem alterações químicas e físicas na estrutura do grão de café. O café torrado e moído é matéria-prima para uma das bebidas mais apreciadas no mundo. No Brasil, existem iniciativas do Sindicato da Indústria de Café do Estado de São Paulo em convênio com a Agência de Promoção de Exportações para ampliar as vendas de café torrado e moído, com maior valor agregado, visando melhorar a remuneração do setor no país. Em 2006 o valor das vendas de café torrado e moído foi de US$24,47 milhões representando um aumento de 46% em relação ao ano anterior e 504% em relação ao início desse movimento. O café industrializado brasileiro é de alta qualidade e suas exportações têm mostrado bom desempenho para países que pagam maior valor unitário. Iniciativas para aumentar o consumo interno também são bem vistas para redução dos excedentes e, conseqüente melhoria nas condições de remuneração dos produtores. Levando-se em consideração o volume total, o Brasil é o segundo maior consumidor de café do mundo, estando atrás apenas dos EUA, mas em consumo per capta o Brasil ocupa posição intermediária. Em pesquisa encomendada pela ABIC em 2004, foi constatado que mais de 90% dos entrevistados consomem café, sendo que 78% consomem diariamente. O consumo de café coado/filtrado é de 93%, seguido pelo solúvel (15%), capuccino (11%), espresso (8%) e descafeinado (1%). Entre as razões para o consumo de café encontra-se o hábito, a tradição familiar, a influência de outras pessoas, o sabor, por ser estimulante e apresentar odor e sabor agradáveis. Para os 8% que não consomem café, os principais motivos são a crença de que o café faz mal a saúde, o gosto amargo e forte sabor residual. Estudos recentes revelam que consumo diário e moderado de café (até 4 xícaras) torna o cérebro mais atento e capaz de suas atividades intelectuais, diminui a incidência de apatia e depressão e estimula a memória. A cafeína estimula a vigília, a atenção, a concentração e a capacidade intelectual e os ácidos clorogênicos modulam o estado de humor. Para atrair novos consumidores é necessário garantir um café de qualidade sem impurezas, com características sensoriais desejadas, investir em novos produtos à base de café mais fáceis de consumir e preparar e marketing.
Para a Associação
Brasileira da Indústria de Café, em 2007 a safra brasileira deve ser
pequena e o consumo interno deve aumentar para 17,4 milhões de
sacas, o que corresponde a 52% da safra a ser colhida. Portanto, com
uma menor oferta e maior demanda estima-se que os preços aumentem o
que deve ser positivo para o setor.
Carla Léa de Camargo Vianna Cruz
concluiu o mestrado em Tecnologia de Alimentos pela Universidade
Estadual de Campinas em 2002. Cursa doutorado em Tecnologia de
Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas desde 2003.
Atualmente é Pesquisadora Científica da Agência Paulista de
Tecnologia dos Agronegócios - APTA Centro Leste. Atua na área de
Ciência e Tecnologia de Alimentos, com ênfase em Tecnologia de
Alimentos.
Isabel Fernandes Pinto Viegas
possui graduação em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (1999) e mestrado em Economia pela
Universidade de São Paulo (2003). Atualmente é Pesquisador
Científico I da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios -
APTA Centro Leste. Tem
experiência na área de Economia , com ênfase em Economia
Internacional. Atuando principalmente nos seguintes temas: economia
internacional, barreiras às exportações, protecionismo, agronegócio.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): CRUZ, C.L.C.V.; PINTO VIEGAS, I.F. Café: do sabor ao valor. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_2/cafe/Index.htm>. Acesso em: Publicado no Infobibos em 16/04/2007 |