Abóboras, morangas e abobrinhas: estratégias para coleta, conservação e uso. por Maria Aldete Justiniano da Fonseca Ferreira
As abóboras (C. moschata), morangas (C. maxima) e abobrinhas (C. pepo), espécies do gênero Cucurbita, da família Cucurbitaceae, são nativas das Américas e faziam parte da alimentação da civilização Olmeca, depois incorporadas pelas civilizações Asteca, Inca e Maia. Registros arqueológicos associam essas espécies ao homem há cerca de 10.000 anos. Várias espécies cultivadas e silvestres são fundamentais em muitos aspectos da vida e da dieta humana, tanto pela versatilidade culinária quanto pela riqueza em carotenos e vitaminas. As fibras também contêm bioflavonóides, bloqueadores dos receptores de hormônios estimulantes do câncer, e esteróis que são transformados em vitamina D no organismo, estimulando a diferenciação celular. A diversidade genética de Cucurbita existente nas Américas é ampla e os vegetais são encontrados em variadas cores, texturas, formas, tamanhos e sabores. No Brasil, espécies do gênero Cucurbita faziam parte da alimentação dos povos indígenas antes da sua colonização. A diversidade dessas espécies no Brasil é representada pelas inúmeras variedades tradicionais cultivadas pelos indígenas, quilombolas e agricultores de base familiar. Tais fatos reforçam a importância dos recursos genéticos do gênero Cucurbita para a agricultura e para a segurança alimentar. Diante do risco de erosão genética (perda das variedades tradicionais), faz-se necessário definir e priorizar novas áreas de coleta e estratégias de conservação e uso da diversidade genética existente no Brasil, delineando um panorama abrangente e atual sobre as áreas de ocorrência dessas espécies e reunindo informações sobre as coleções conservadas fora de suas comunidades naturais (ex situ) ou nas condições de conservação existentes na agricultura tradicional (on farm). O projeto “Diagnóstico participativo sobre a distribuição geográfica, condições de conservação e diversidade genética de Cucurbita spp.” teve como objetivos mapear a distribuição geográfica das variedades locais, possibilitando determinar as áreas prioritárias para a realização de novas coletas de germoplasma; diagnosticar e avaliar as condições de conservação on farm e ex situ das variedades locais; propor medidas efetivas de coleta de germoplasma em áreas ainda não contempladas, para resguardar a diversidade genética existente no país; recomendar estratégias de conservação on farm e ex situ da diversidade genética existente, como forma de minimizar os riscos de erosão genética; indicar mecanismos para ampliar o uso da variabilidade genética em programas de pré-melhoramento e melhoramento, inclusive pelas comunidades indígenas e pela agricultura familiar. O projeto teve a participação de seis Unidades da Embrapa: Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF), Agroindústria Tropical (Fortaleza, CE), Clima Temperado (Pelotas, RS), Hortaliças (Brasília, DF), Meio-Norte (Teresina, PI) e Semi-Árido (Petrolina, PE) e das seguintes instituições: Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). O suporte financeiro foi do Ministério do Meio Ambiente, MMA/Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (PROBIO) e do CNPq. Com o desenvolvimento do projeto foi verificado que nos herbários brasileiros são mantidas 41 exsicatas de Cucurbita, sendo duas de C. maxima, 11 de C. moschata, 18 de C. pepo e 20 de outras espécies ou de espécies não identificadas. Pela análise dos locais de coleta das exsicatas, verificou-se que espécies de Cucurbita ocorrem em todas as regiões brasileiras. Em termos de conservação ex situ, foi possível avaliar que nos bancos de germoplasma brasileiros são conservados 1.198 acessos, ou amostras, de C. maxima e 2.316 de C. moschata. Outras espécies cultivadas estão pouco representadas como C. pepo e C. ficifolia. É fundamental que outras espécies silvestres de interesse sejam introduzidas e conservadas nesses bancos, como fonte de resistência a fatores abióticos (seca, acidez no solo, etc) e bióticos (doenças e pragas). Outra conclusão importante lista os locais que devem ser priorizados para a coleta de germoplasma, de modo que a variabilidade genética existente no Brasil esteja, de fato, representada nas coleções ex situ. Foram definidas como áreas prioritárias todos os Estados das regiões Norte e Sul; no Centro-Oeste, o Mato Grosso do Sul e Mato Grosso; e no Sudeste todos os Estados, exceto Minas Gerais. Também foram considerados prioritários os Estados de Alagoas, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Sergipe, na região Nordeste. Quanto à conservação on farm, verificou-se que a espécie mais cultivada pela maioria dos agricultores é a C. moschata (variedades locais, conservadas há décadas, repassadas por parentes, amigos e vizinhos). Os produtores geralmente fazem a seleção de suas próprias sementes. Há uma tradição de manter as sementes misturadas, tanto de variedades diferentes quanto de outras cucurbitáceas, junto com cinza ou areia. A maioria planta para o consumo da própria família, vendendo os excedentes em feiras livres, mercados e barracas nas margens de estradas. Diagnosticou-se também que há uma grande variabilidade de padrões de fruto, quer em termos de tamanho, de formato, de frutos com “pescoço”, da textura e cor da casca e da polpa. Outra conclusão foi a ameaça de extinção a que estão sujeitas algumas variedades locais ou tradicionais. Para evitar essa erosão genética é fundamental realizar a coleta de germoplasma para conservação ex situ, em condições apropriadas. Outra estratégia seria a conservação e o uso sustentável da variabilidade genética, promovendo o desenvolvimento de pesquisas participativas junto aos produtores, orientando-os e capacitando-os na conservação das sementes, no sistema de produção e na agregação de valor aos seus produtos. Pode-se também, incluir atividades de melhoramento participativo, de forma a orientar o produtor rural sobre as formas de selecionar o material ao longo das gerações. Maria Aldete Justiniano da Fonseca Ferreira é Engenheira agrônoma pela UNEB e Doutora em Genética e Melhoramento de Plantas pela ESALQ/USP. Atualmente é Pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF) Contato: aldete@cenargen.embrapa.br ou Área de Comunicação Empresarial da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia – telefones (61) 3448-4769 / 3448-4770, e-mails: fernanda@cenargen.embrapa.br e mocoin@cenargen.embrapa.br.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): FERREIRA, M.A.J.F. Abóboras, morangas e abobrinhas: estratégias para coleta, conservação e uso. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_2/aboboras/Index.htm>. Acesso em: Publicado no Infobibos em 09/04/2007 |