O MERCADO E A PARTICIPAÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS NO BRASIL
Marcela Carlota
Nery
O comércio internacional de sementes evoluiu ao longo dos anos, principalmente, a partir da década de 80 com a expansão das fronteiras agrícolas e preocupação com a melhoria da qualidade das sementes comercializadas. Em 2005 a comercialização de sementes alcançou cerca de US$5 milhões (Figura 1).
O mercado mundial de sementes é de cerca de US$30 bilhões por ano, sendo que o de hortaliças apresenta um faturamento aproximado de US$2,5 bilhões por ano, enquanto que o faturamento de sementes de milho e soja possui um faturamento de US$1 bilhão por ano (Figura 2 e 3). Apesar disto, este baixo valor do mercado tem um efeito multiplicador enorme e estas mesmas sementes quando transformadas em produto final representarão valores muito maiores nas gôndolas dos supermercados (Nascimento, 2005). O negócio mundial de sementes de hortaliças cresce de 7 a 9% ao ano. No Brasil o mercado de sementes atingiu US$70 milhões em 2005 (Figura 4) (Neto, 2005).
Os países, tradicionalmente, exportam pouca semente de hortaliças, apesar de possuírem sementes de alta qualidade e germoplasma adaptado para muitas regiões. Entretanto, nos últimos anos tem crescido a exportação de sementes, principalmente de forrageiras e hortaliças. Os países maiores exportadores de sementes de hortaliças são Estados Unidos, Holanda, França, seguida da Alemanha e Dinamarca (Tabela 1). O Brasil se encontra na 20ª posição no ranking mundial (ISF, 2004). As importações de sementes de hortaliças apresentam destacada atuação no setor sementeiro de comércio internacional, demonstrando que o Brasil ainda é deficitário tanto na produção como em pesquisas básicas e aplicadas que melhor viabilizem este setor na nossa produção nacional.
Em termos de importação, os Estados Unidos, França e México importam, principalmente, sementes de hortaliças e flores, segmento em que somente o Brasil importa mais de 47 milhões de dólares/ano (Tabela 2). Entretanto, esta quantia esta diminuindo com o avanço da ciência e com o desenvolvimento de tecnologias locais para substituir as importações (Barros, 2005). Os países maiores importadores de sementes de hortaliças são Holanda, França, México e Estados Unidos, seguida da Itália e Espanha. O Brasil se encontra na 24ª posição no ranking mundial (ISF, 2004).
Pela Figura 5 observa-se uma redução nas importações de sementes no Brasil ao longo dos anos, com conseqüente aumento nas exportações. A necessidade de importação vem diminuindo a cada ano devido a um projeto da ISLA de buscar a auto-suficiência. Com esse projeto, a expectativa é de que a participação da produção nacional e o número de cultivares produzidas no país continuem crescendo cada vez mais. Só devem continuar sendo importadas algumas cultivares que necessitam de certas condições climáticas não encontradas no Brasil.
Quando comparado com o mercado de sementes das grandes culturas, o segmento de hortaliças apresenta algumas particularidades. As vendas unitárias de sementes são pequenas comparadas com a soja ou arroz (por exemplo, o pedido mínimo da Isla Sementes é de R$ 60,00), no entanto a taxa de utilização de sementes compradas pelos agricultores é bem maior. Na cultura do feijão, por exemplo, apenas 18% das sementes utilizadas são compradas (o restante provém da reserva de grãos colhidos do ano anterior feito pelos agricultores). Nas hortaliças, este percentual está bem próximo dos 100% (Werner, 2005). No entanto, existe grandes dificuldades em se obter informações de mercado de sementes de hortaliças, devido a falta de organização do setor. Em geral, os dados estatísticos são pouco conhecidos e os que estão disponíveis nem sempre merecem grande credibilidade, pois se originam de levantamentos não tão apurados (Nascimento, 2005). A diversidade de espécies que compõem as hortaliças, por exemplo, é um fator complicador para a obtenção de dados corretos. Devemos também considerar que algumas espécies importante de hortaliças têm sua multiplicação por via vegetativa e não por sementes (Nascimento, 2005). Os países estão começando a associar-se à International Seed Federation (ISF) por meio de inúmeros laboratórios e associações, para melhor entenderem o mercado internacional de sementes (Tabela 3) (Barros, 2005).
Em um levantamento feito pela ABCSEM foi obtido para o mercado brasileiro de sementes de hortaliças no ano de 2002 o valor de R$ 180 milhões, e em 2003 um valor de R$ 226 milhões (Nascimento, 2005). Em 2005 as principais culturas comercializadas foram tomate com 53%, cebola com 31%, melão com 20% e Alface com 13% (ABRASEM, 2005). Um percentual elevado das sementes de hortaliças usadas no país são importadas e, em geral, as sementes importadas são de híbridos de alto valor unitário. Dados estatísticos indicam que as importações giram ao redor de 20 milhões de dólares por ano. Vale lembrar que estes valores são preços de importação (FOB) (Nascimento, 2005). O Brasil importou em 2005, principalmente, sementes de tomate, melão, melancia e cenoura (Tabela 4).
As importações de sementes de hortaliças ocorrem de forma regular, mas, foram limitadas nos últimos anos por restrições fitossanitárias que afetaram principalmente as sementes produzidas em países em que não havia antecedentes de importações. Ou seja, importações de sementes só poderiam ser realizadas de forma normal de países em que haviam sido importadas pelo menos 4 vezes a mesma espécie daquele país. Em não tendo havido histórico de 4 importações anteriores, a importação só era autorizada após a condução de ARP (Análise de Risco de Pragas), processo moroso e que tornava bastante complicada a importação destas sementes. Mais recentemente, estas exigências estão sendo flexibilizadas e tornado mais viável a importação de sementes de novas áreas de produção (Nascimento, 2005). Já as principais sementes de hortaliças exportadas pelo Brasil no ano de 2005 foram tomate, abóbora, brócolis e melão (Tabela 5).
Entre os Estados Unidos e o Brasil as sementes mais importadas foram em 2005 tomate, beterraba, pepino, melancia, alface e cebola (Figura 6). Com relação à exportação, as principais sementes de hortaliças exportadas foram pimenta, seguida do tomate, cenoura, melão e melancia (Figura 7) (USDA, 2005).
Com relação à importação de sementes de tomate, os Estados Unidos importa sementes principalmente da China, Holanda e França (Figura 8). E exporta um volume aproximado de US$25 milhões de sementes de tomate para o México (Figura 9). Desta forma, para melhor atender o mercado nacional e internacional de sementes, é preciso conhecer como ocorre a produção de sementes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS O agronegócio de hortaliças no Brasil é complexo e dinâmico, apresentando características bem peculiares. A sua importância relativa no mercado agrícola pode ser avaliada pelos dados apresentados nesta revisão, tanto em participação percentual como em valor econômico. Ao mesmo tempo, as novas demandas da sociedade e as inovações tecnológicas estão ampliando a oferta de hortaliças e criando novas oportunidades de negócios. O efeito benéfico de seu consumo no tratamento de inúmeras doenças e distúrbios de saúde tem aumentado o interesse em pesquisas, criando inclusive uma nova área de pesquisa e um novo ramo de negócios, onde se agregam conhecimentos de nutrição, farmácia e medicina. As perspectivas futuras são bastante estáveis, pela participação crescente do mercado internacional e expansão de oportunidades no mercado interno. Nesse particular, as redes institucionais, incluindo principalmente as empresas de auto-serviço de abastecimento apontam para maior aceleração da propensão ao consumo. A oferta de hortaliças com melhor padronização (aparência, tamanho, qualidade) e apresentação (embalagem), a produção de cultivares aptas para congelamento, e produtos já embalados e prontos para o preparo ou para o consumo (minimamente processados) parecem deter amplos horizontes de oportunidade no mercado. Às empresas de sementes de hortaliças cabe o desafio de gerar produtos e serviços que se adaptem a essas tendências e que satisfaçam os clientes dos diversos níveis da cadeia produtiva. Investir na produção própria de sementes de hortaliças significa desenvolver tecnologias para a produção de sementes de hortaliças em nossas condições, colocando assim o país na vanguarda em produção de sementes de hortaliças nas condições tropicais. Isso gera renda e emprego aos diversos segmentos (produtores, cooperados, revendedoras, laboratórios, etc), reduz a importação de sementes (o que reduz a dependência externa), minimiza o risco de entrada de patógenos por meio destas sementes importadas, e permite aos pequenos produtores a utilização de sementes de cultivares de polinização aberta pelas empresas nacionais de sementes. A maioria das multinacionais coloca no mercado interno híbridos (estes às vezes não adaptados) das diferentes espécies, com sementes de alto custo, muitas destas não acessíveis aos pequenos produtores de hortaliças. Outro ponto a ser destacado é que, com a criação destas cultivares adaptadas às condições tropicais e com a melhoria da tecnologia de produção de sementes de hortaliças no país, temos um grande potencial para exportação de sementes de hortaliças para outros países, principalmente para África e América Latina. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABCSEM. Associação Brasileira dos Comerciantes de Sementes e Mudas 2004. Disponível em: http://www.abcsem.org.br. Acesso em 31 de maio de 2006. BARROS, A. C. A. Produção de sementes na América do Sul. Seed News. maio/jun. 2005. NASCIMENTO, S. M. O MERCADO BRASILEIRO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS uma rápida visão. V Curso sobre tecnologia de produção de sementes de hortaliças. Brasília: Embrapa Hortaliças. nov. 2005. SNPC. SERVIÇO NACIONAL DE PROTEÇÃO DE CULTIVARES. Importações de sementes de hortaliças e exportações de sementes de hortaliças. Disponível em:http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/legislacao/outros/proIntelectual/ptoInt_proCultivares.php. Acesso em 31 de setembro de 2005. WERNER, T. D. Produção de sementes de hortaliças no rio grande do sul (Estudo de caso da ISLA Sementes Ltda.). V Curso sobre tecnologia de produção de sementes de hortaliças. Brasília: Embrapa Hortaliças. nov. 2005.
MARCELA CARLOTA NERY:
Engenheira
Agrônoma formada na Universidade Federal de Lavras (2004), Mestra em Agronomia/Fitotecnia
pela UFLA (2005) e atualmente Doutoranda em Agronomia/Fitotecnia, área de
concentração Produção e Tecnologia de Sementes na UFLA.
FERNANDA CARLOTA NERY:
Engenheira
Agrônoma formada na Universidade Federal de Lavras (2004), Mestra em
Agronomia/Fisiologia Vegetal pela UFLA (2006) e atualmente Doutoranda em
Agronomia/Fisiologia Vegetal na UFLA.
LUIZ ANTONIO AUGUSTO
GOMES:
Possui mestrado em Agronomia (Fitotecnia) pela
Universidade Federal de Lavras (1993) e doutorado em Agronomia (Genética
e Melhoramento de Plantas) pela Universidade Federal de Lavras (1999).
Atualmente é Professor adjunto da Universidade Federal de Lavras. Tem
experiência na área de Agronomia , com ênfase em Fitotecnia.
Reprodução autorizada desde que citadas a autoria e a fonte Dados para citação bibliográfica(ABNT):
NERY, M.C.; NERY, F.C.; GOMES, L.A.A.
O mercado e a participação
de sementes de hortaliças no Brasil.
2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_1/sementes/index.htm>.
Acesso em:
Publicado no Infobibos em 21/02/2007 |