A IMPORTAÇÃO E A QUARENTENA DE GERMOPLASMA VEGETAL NO BRASIL por Renato Ferraz de Arruda Veiga
O intercâmbio de germoplasma vem ocorrendo desde os primórdios da humanidade, sendo a atividade mais importante na implantação da agricultura. Neste contexto, a importação de germoplasma teve, e continua tendo, grande relevância para o país que, desde o seu descobrimento, vem recebendo germoplasma dos mais distantes países e, até mesmo antes disto, através de ações indígenas. No caso brasileiro, a base de toda nossa alimentação é feita de germoplasma exótico. Isto ocorre, pois, mesmo sendo um país de megabiodiversidade, nossos costumes alimentícios vêm dos costumes de nossos colonizadores, tornando-nos fortemente dependente de tais recursos fitogenéticos. O alicerce de qualquer trabalho de melhoramento genético está nos bancos de germoplasma, os quais disponibilizam os genes necessários para serem manipulados pelos melhoristas genéticos. Assim, tais bancos têm que ser enriquecidos constantemente com novos acessos, cujos genes farão parte de novas cultivares-elite lançadas pelos programas de pesquisa científica. A busca por material genético concentra-se particularmente nos centros de origem e/ou dispersão da espécie alvo, locais onde se encontra a maior diversidade. Contrapondo-se à necessidade de se introduzir, o máximo de possível de variabilidade genética, vem a obrigatoriedade moral e profissional de se evitar a introdução simultânea de pragas exóticas. São muitos os exemplos de prejuízos à agricultura causados pela introdução inadvertida de pragas exóticas, tais como: bicudo-do-algodoeiro, broca-da-haste-do-algodoeiro, broca-do-café, broca-do-eucalipto, cochonilha-parda, cochonilha-rosada, gorgulo-aquático-do-arroz, Fusarium moniliforme do arroz, mosca-branca, mosca-do-mediterrâneo, mosca-da-carambola, mosca-do-sorgo, lagarta-minadora-dos-citros, mosca-africana-do-figo, mariposa-oriental, percevejo-das-gramíneas, Podridão Rosada da batata, praga-da-mangueira, Potyviridae da Alstroemeria, Puccinia horiana do crisântemo, Sclerotinia sp. do rabanete, couve , repolho e salsa, traça-da-batata, traça-das-crucíferas, traça-da-maçã, Thrips palmi , Uromyces transversalis do gladíolo, vespa-da-madeira, entre outras.
De qualquer maneira, deve-se ter uma preocupação com aquelas pragas que estão prestes a entrar no país como a Erwinia amylovora nas rosáceas e o Globodera rostochiensis - nematóide do cisto da batata, dentre outras, inclusive novas estirpes de pragas que já ocorrem no país. A preocupação não se reserva à introdução de novas pragas, mas também, na introdução de novas espécies de plantas. Já foram comprovados prejuízos ao ecossistema, em diversos países, provocados por plantas exóticas que se tornam daninhas à agricultura ou à biodiversidade local, o que levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a criar, em 1997, o Programa Global de Espécies Invasoras. Aqui, torna-se necessária a realização de estudos de impacto ambiental, realizado por laboratórios credenciados; como exemplo, o laboratório da UNESP-Jaboticabal-SP (que realizava tal missão, hoje já não o faz mais). O termo quarentena originou-se do latim "quarantum", pois, a princípio, se considerava necessário um período de observações de 40 dias, para os casos de peste bubônica, cólera e febre amarela, no qual ocorria a detenção de navios oriundos de países com epidemias. Atualmente este termo refere-se a um período onde as plantas permanecem em observação fitossanitária, o qual pode variar segundo o ciclo do planta e/ou da praga quarentenária. Sua liberação somente ocorre posteriormente ao período no qual nenhuma praga tenha sido detectada, ou após ter sido limpo fitossanitariamente, já que são muitas as pragas ainda não detectadas no Brasil. Nosso país possui como quarentenários federais, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília-DF, somente para vegetais e o da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna-SP, para organismos úteis para controle biológico de pragas e outros; permitindo a existência de outros quarentenários oficiais nos diversos estados da união, tais como o do Instituto Agronômico, em Campinas-SP, para plantas diversas – inclusive transgênicas, e o da Copersucar, em Miracatú-SP específico para cultura da cana-de-açúcar. A Norma para cadastramento e credenciamento de Estações Quarentenárias para vegetais e organismos vivos, vem recebendo estudos de alteração, permanecendo três níveis para plantas (ex: no primeiro se encaixam o IAC e a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia – que trabalham com todo tipo de plantas; no segundo o da Copersucar – que trabalha somente com cana-de-açúcar e no terceiro, ainda não temos um exemplo para citar, mas se encaixariam os das empresas particulares); e dois para “agentes de controle biológico e outros fins científicos” (ex: no primeiro: o da Embrapa Meio Ambiente, no segundo: também não temos um exemplo a citar).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Veiga, R.F.A, Germek, E.B., Faria, J.T., Oliveria, W.R., Nucci,
T.A., Coelho, S.B.M. O sistema de introdução e quarentena de plantas
do Instituto Agronômico e os Procedimentos necessários ao
intercâmbio de germoplasma. Campinas, Instituto Agronômico,
Documentos IAC, 23:1992. 20pg. Vilela, E.F., Zucchi, R. A., Cantor, F. Histórico e impacto das pragas introduzidas no Brasil. Ribeirão Preto: Holos, 2001. 173p.
Renato Ferraz de Arruda Veiga
é Pesquisador Científico VI, Diretor do Jardim Botânico do Instituto
Agronômico - IAC e Presidente da Associação dos Amigos do Jardim
Botânico do IAC. Contato: veiga@iac.sp.gov.br
Para aprofundar conhecimento do assunto, o Instituto Agronômico - IAC, está oferecendo o Curso on-line de Introdução ao Manejo de Recursos Fitogenéticos, ministrado pelo Pesquisador Renato de Arruda Veiga
Visite o site da Associação dos Amigos do Jardim
Botânico do IAC
Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte Dados para citação bibliográfica(ABNT):
VEIGA, R. F. A. A
importação e a quarentena de germoplasma vegetal no
Brasil.
2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: Publicado no Infobibos em 05/03/2007 |