Mentha arvensis L.

André May

Andrea Rocha Almeida de Moraes

Odair Alves Bovi

Nilson Borlina Maia

Mariane Quaglia Pinheiro

A Mentha arvensis L., subespécie haplocalyx Briquet, forma piperascens Malinvaud é conhecida também como hortelã pimenta, menta japonesa, hortelã, hortelã-doce, pimenta japonesa, vick, hortelã do Brasil (Brasil), menthe type japon (França), japonese peppermint (EUA), pfefferminze (Alemanha), menta (Itália). É uma planta aromática pertencente à família Labiatae e ao gênero botânico Mentha, originária do sul da China, comumente produtora de óleo essencial com alto teor de mentol cristalizável e alto valor econômico (MOTA & RODRIGUES, 2001; BRILHO, 1963b; SANTOS, 1965a; HERBOTECNIA, 2007; OKA & ROPERTO, 2007).

O gênero Mentha é originário da América do Norte, da Ásia e da Europa. De suas origens relativamente frias, a menta se disseminou pelo globo, sofrendo hibridações naturais, mutações e variações, dando oportunidade do surgimento de numerosas espécies,acabando assim por dificultar a correta identificação das inúmeras variedades e espécies, mesmo por especialistas (BRILHO, 1963c).

Planta utilizada desde a antiguidade, pelos egípcios, hebreus, gregos, medievais, romanos e americanos, com sua origem confundida com os mitos. Ela aparece em todas as listas de ervas da antiguidade: na Bíblia aparece como dízimo; os árabes regavam as mesas de banquete com menta antes das festas e limpavam o chão com a erva para estimular o apetite dos convidados (OKA & ROPERTO, 2007).

A importância industrial da hortelã pimenta reside no óleo essencial, extraído por destilação a vapor, em destiladores específicos. O mentol, de largo emprego na indústria alimentícia e farmacêutica, é cristalizado com o resfriamento do óleo bruto. O subproduto do processo é o óleo desmentolado, também de larga faixa de aplicação nas indústrias de aromas.

É o teor de mentol (tanto no óleo bruto como no desmentolado) que determina o valor do óleo essencial da menta brasileira. Segundo BRILHO (1963b) e ENGLER (1964), os óleos apresentam teor de mentol entre 62,5 a 88,9%, sendo a média de 70% a mais comercializada.

O óleo essencial da hortelã pimenta é concentrado nas células oleríferas distribuídas pelas folhas e conjuntos florais da planta (toda parte aérea da planta), das quais é extraído na proporção de 1 kg de essência para cada 100 kg de material submetido à destilação (BRILHO, 1963c).

Desde que produzido dentro dos padrões exigidos tem sua comercialização garantida, sendo adquirido pelas indústrias de desdobramento e posteriormente exportado para o mundo todo (BRILHO, 1963b).

Por volta de 1925, a menta japonesa foi trazida para o Brasil por colonizadores japoneses, que levaram a planta para a região de Presidente Prudente, no Estado de São Paulo, posteriormente atingindo grande parte da região norte do Paraná, se constituindo em uma das grandes riquezas agro-industriais brasileiras (BRILHO, 1963a e c.; MAIA, 1998).

No Brasil a hortelã pimenta foi intensamente cultivada entre os anos de 1963 e 1975, quando o país se tornou o maior produtor mundial. Devido aos métodos de cultivo embasados na fertilidade inicial dos solos virgens, recém desmatados, seu cultivo começou a entrar em declínio à medida que as terras das fronteiras agrícolas do Oeste de São Paulo e Norte do Paraná perderam suas cinzas remanescentes de queimadas da floresta original (MAIA, 1994).

Dois países destacaram-se na sucessão do Brasil como principais fornecedores mundiais de hortelã: China e Paraguai, havendo dúvidas se o primeiro permaneceria na posição devido às políticas internas de produção então adotadas (KIEFER, 1986).

Atualmente os maiores produtores mundiais de menta são: Brasil, Japão e China (HERBOTECNIA, 2007).

CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS

A M. arvensis L. é uma planta herbácea, estolonífera, semi-perene, de caule quadrangular, ramificados podendo atingir até 90 cm de altura. Suas folhas são grandes, opostas, ovaladas e largas, pubescentes, com limbo mais ou menos plano e bordas serradas. A inflorescência é em espiga terminal e de flores violáceas. Seu sistema radicular é formado por numerosos "rizomas" que se espalham pela camada superficial do solo, emitindo raízes e novos rizomas, dos quais brotam novas plantas. Esses rizomas são quadrangulares, vigorosos e frágeis (MOTA &RODRIGUES, 2001; HERBOTECNIA, 2007).

Através dessa abundante perfilhação, a planta em pouco tempo passa a ocupar vasta área de terreno ao seu redor. Estas características fazem com que a hortelã se apresente altamente exigente as questões de solo e clima, com especial referência à fertilidade do solo, ao suprimento de água, a concorrência de plantas daninhas, não resistindo à seca intensa, a geada prolongada e ao excesso de umidade (BRILHO, 1963a).

CONSTITUINTES QUÍMICOS

O aspecto do óleo essencial de menta é o de uma substância líquida, pouco densa e brilhante que vai do incolor ao amarelo pálido, de odor muito característico e refrescante, com um "que" picante, a mentol (BRILHO, 1963a).

A cotação do óleo é baseada nos teores dos diversos componentes químico-orgânicos encontrados em seu óleo, tais como: mentol (principal constituinte), mentona, iso-mentonas, piperitona, cariofileno, pinenos, furfurol, limoneno, canfeno, acetato de mentilo, valerianato de mentilo, piperitona, alcohol etílico, etc (BRILHO, 1963b; HERBOTECNIA, 2007).

O óleo essencial de hortelã pimenta possui propriedades levemente corrosivas, atacando metais comuns como ferro e cobre. Desse modo, todos os equipamentos de destilaria que entrarem em contato direto com o óleo da hortelã devem ser constituídos preferencialmente de aço inoxidável (BRILHO, 1963b).

A precisão empregada durante a destilação faz com que tais componente sejam obtidos em porcentagens elevadas e sem mostras de decomposição, caso contrário, torna-se o óleo totalmente destituído de qualquer valor. A operação de destilação do material murcho demanda 1 hora, empregando-se o sistema de arrastamento pelo vapor (BRILHO, 1963b).

O mentol é separado do óleo essencial da menta seguindo um processo cujos estágios podem ser assim descritos (HERBOTECNIA, 2007):

* Clarificação do óleo por filtração, centrifugação ou retificação em destiladores a vácuo.

* Formação de cristais por resfriamento lento ou contínuo.

* Separação dos cristais de mentol formados do óleo desmentalizado, por decantação e centrifugação.

* Lavagem e secagem dos cristais.

CULTIVARES

Existem diversas variedades de menta. A Akamaru era considerada a melhor pela sua maior riqueza em óleo essencial e mentol. Além dela, eram importantes também as variedades: Aomaru. Akayanagi e Aoyanagi. Esta última é de crescimento mais vigoroso, mais rústico e produz maior massa de folhas, sendo porém a menos produtiva em termos de óleo (BRILHO, 1963b).

No Brasil, para a espécie M. arvensis L., a principal cultivar utilizada é a IAC -701, descrita por LIMA & MOLLAN (1952), derivada de valioso clone criado pelo IAC e a mais recomendada para a exploração industrial (BRILHO, 1963b).

O clone 701 destacou-se pela rusticidade, resistência à seca e ao acamamento. Era pouco suscetível ao ataque da ferrugem, embora não lhe fosse imune; as pequenas pústulas que se formavam sobre as folhas não chegavam a crestá-las e destruí-las, como acontecia à menta original. A planta possuía boa capacidade de perfilhamento, formando grandes touceiras, providas de volumosa massa de rizomas. As touceiras emitiam hastes fortes e eretas, bem providas de folhas, oval-acuminadas, de margens serrilhadas, bastante pilosas, avermelhadas, exalando odor mentolado, ativo e agradável. As plantas floresciam uniformemente, em períodos definidos, indicativos da oportunidade das colheitas (SANTOS, 1965a).

CLIMA E SOLO

O clima e o solo apresentam influência direta sobre a planta, atuando na formação do óleo e seus componentes. O solo para a hortelã pimenta devem ser terras de naturezas arenosa, férteis, permeáveis, frescas, ricas em matéria orgânica, protegido de ventos frios e de geadas. Os solos orgânicos, comumente encontrados nas derrubadas de matas, são os que melhor recebem a hortelã. Já os muito argilosos e compactos, não são indicados para a cultura, salvo se tiverem suas propriedades físicas melhoradas mediante a incorporação maciça de adubos orgânicos. MAIA e FURLANI (1996) recomendam calagem com calcário para elevar a saturação por bases a 70% da capacidade de troca catiônica (CTC). As relações de nutrientes disponíveis para a planta são importantes tanto para o desenvolvimento vegetativo da planta, quanto para a qualidade do óleo essencial. Segundo MAIA (1994) as proporções de limoneno, mentona, mentol e metil acetato do óleo essencial da M. arvensis são alteradas pelas condições de nutrição da planta.

Sendo uma planta herbácea, produtora de grande massa de folhas e de raízes pouco profundas, a hortelã revela grande necessidade de um bom suprimento de água e de elementos nutritivos (BRILHO, 1963b).

Durante os meses de inverno, a planta não cresce, mesmo havendo água em abundancia. Em solos profundos e enxutos, além das hastes, ocorre secamento também dos rizomas superficiais, ficando conservados apenas os rizomas encontrados em camadas mais frescas do solo. De setembro em diante, com temperaturas mais elevadas e dias mais longos, a vegetação se intensifica, as hastes da hortelã crescem eretas para depois de 3 a 4 meses atingirem o máximo da altura e iniciarem o florescimento. Se cortadas nessa época, elas rebrotam em seguida, crescendo novamente, para que dentro de outros 3 a 4 meses ocorra um segundo florescimento (LIMA, 1953).

CZEPAK (1995) estudando a produção de óleo bruto e mentol cristalizável em diferentes freqüências de colheita de M. arvensis L. observou que a temperatura, a radiação solar e a insolação exercem um efeito positivo no crescimento, desenvolvimento e na produção de óleo bruto e mentol cristalizável.

Durante os meses de verão, o desenvolvimento da hortelã fica dependente de chuvas ou de irrigações. Dos elementos climáticos, é a chuva o mais importante. A menta não sobrevive sem água e perece com o excesso dela. A falta de chuva deve ser compensada com a irrigação. O excesso de água pode ser amenizado com o plantio em terrenos bastante permeáveis (BRILHO, 1963b).

Quanto à temperatura, a planta suporta de 5 a 40ºC, sendo a temperatura ideal entre 18-24ºC para seu franco desenvolvimento. A planta não suporta o calor, a geada e o frio desde que exagerados e prolongados (BRILHO, 1963b).

PROPAGAÇÃO E PLANTIO

A primeira etapa da cultura da hortelã pimenta compreende a produção de mudas que é realizada em viveiro, os quais constituídos de canteiros localizados em terrenos drenados, batidos de sol e próximos de suprimento de água para irrigação, quando necessário (BRILHO, 1963b).

A condição fundamental para se obter uma boa produção de mudas sadia é proporcionar as plantas à possibilidade de obtenção fácil e abundante de elementos nutritivos, com conseqüente crescimento rápido e vigoroso. Para tanto, são necessárias duas operações principais no preparo do viveiro: a estercação e a adubação mineral (BRILHO, 1963d).

Antes de se realizar o plantio no canteiro, este necessita de perfeito preparo, com a aplicação de grande quantidade de esterco curtido além de 100 gramas de Superfosfato e 30 gramas de cloreto de potássio por cada metro quadrado (BRILHO, 1963b).

A planta é multiplicada a partir de pedaços de seus rizomas, os quais são cortados em hastes de mais ou menos 7 cm, ou seja, de modo que cada pedaço contenha duas gemas ou olhos. Feita essa operação, procede-se desinfecção dos rizomas por meio de um banho em solução fungicida (calda bordalesa, por exemplo). Para tanto, os rizomas são colocados dentro de um saco de estopa e mergulhados por alguns instantes em uma tina contendo a solução fungicida. Esta solução é preparada com o emprego de fungicidas comerciais comuns, na proporção indicada para cada produto (BRILHO, 1963d).

Após o preparo dos canteiros e a desinfecção dos rizomas, procede-se então o enterrio do material de propagação em sulcos rasos, espaçados entre si 10 cm e em linha corrida. Após o enterrio, os rizomas são cobertos com uma camada de esterco bem curtido e regados com água limpa (BRILHO, 1963b).

Complementando a adubação mineral, a cada 10 dias deve ser realizada uma rega com solução a 1/1000 de adubo nitrogenado (salitre do Chile, sulfato de amônia, ou nitrocálcio). Normalmente, os rizomas devem ser encanteirados por volta de julho-agosto para que em setembro-outubro (primavera) as mudas já estejam prontas para serem transplantadas em local definitivo (BRILHO, 1963b).

Para o cálculo da quantidade de rizoma necessário, pode-se dizer, em média, que 130 kg de rizoma produzem em 2 meses de encanteiramento, mudas suficientes para o plantio de 1 hectare. Para o caso de produção direta em local definitivo, sem a produção das mudas em viveiro, a necessidade de rizoma é na ordem de 500 kg/ha. Quando as mudas produzidas em canteiros atingirem de 10 a 15 cm de altura (o que demanda 50 a 60 dias), estarão prontas para serem transplantadas no local definitivo. Para a operação de transplante, são preferíveis os dias encobertos, com garoa e com terreno fresco e úmido (BRILHO, 1963b).

No local definitivo, deve-se corrigir o índice de saturação por bases para 70% (FAHL et al., 1998). O espaçamento normalmente utilizado deve ser de 60 a 90 cm entre linhas e 20 a 35 cm entre plantas (distância medida de meio a meio dos rizomas) (LIMA, 1953).

Ao receber as mudas de transplante, o campo de cultura deve estar previamente preparado, ou seja, perfeitamente arado, gradeado e adubado. A adubação principal é a orgânica, quando os componentes orgânicos devem ser incorporados ao solo em grandes quantidades (ao redor de 30 a 40 ton/ha de esterco de curral curtido) (BRILHO, 1963b; FAHL et al., 1998).

A complementação mineral, vai variar com cada tipo de solo, entretanto, a média de recomendações, segundo FAHL et al. (1998), são:

- No plantio: - 20 kg/ha de N;

- 40 a 120 kg/ha de P2O5;

- 30 a 90 kg/ha de K2O.

- Em cobertura: - 30 kg/ha de N (30 dias depois do plantio);

- Após cada corte: - aplicar 30 kg/ha N e 30 kg/ha de K2O, devolvendo a rama destilada ao campo.

Segundo MAIA (1994), entre todos os nutrientes, o nitrogênio é o que apresenta a maior resposta sobre a produção de massa verde de menta. Isso se deve a uma somatória de fatores fisiológicos, que interagem com o nitrogênio e contribuem para que a planta sintetize mais açúcares, aminoácidos e ácidos nucléicos, resultando em uma maior massa total da planta. Porém, alerta que grande disponibilidade de nitrogênio, sem a devida correção de outros nutrientes, como o magnésio, resultam numa diminuição do teor de óleo essencial na massa de folhas e do teor de mentol e outros componentes do óleo. Além disso, o nitrogênio para a cultura da menta ajuda no seu desenvolvimento e dá resistência ao frio e as doenças (BRILHO, 1963b).

Plantas de menta cultivadas em um meio pobre em fósforo, são caracterizadas por terem um desenvolvimento alterado, tendo menos folhas, menor área foliar, menor massa de matéria seca e verde. A deficiência de fósforo acarreta folhas velhas mais verdes, que se tornam avermelhas e com hastes mais lenhosas, sendo que a altura da planta não chega a ser alterada (SINGH & SINGH, 1968).

O potássio apresenta influência significativa sobre desenvolvimento da planta e no teor do óleo essencial (MAIA, 1994).

SINHA & SINGH (1984) observaram que o teor de óleo essencial em plantas deficientes em potássio foi mais alto, porém seu efeito na redução da área foliar foi muito grande, o que reduziu consideravelmente a produção de óleo por planta e por área cultivada. Além disso, o potássio é importante por atuar na formação dos "ésteres" que conferem o aroma ao óleo (BRILHO, 1963b). MAIA (1998) observou aumentos do teor de mentol em plantas cultivadas em solução nutritiva com pouco fósforo.

TRATOS CULTURAIS

Como trato cultural no viveiro, devem-se observar as condições sanitárias das mudas, prevendo uma infestação de doenças, ataque de insetos e presença de ervas daninhas. É necessário que os campos de produção de hortelã estejam completamente livres de plantas daninhas, pois além de serem problemáticas por prejudicar a qualidade do óleo essencial quando colhidas e destiladas junto com a hortelã, elas acabam por concorrer com a cultura na absorção de nutrientes do solo e, acabam por "sufocar" a hortelã, fazendo-a perder folhas (BRILHO, 1963b).

A cultura da hortelã é tão sensível à falta de luminosidade e a um excesso de vegetação na área de cultivo, que ela própria pode vir a sofrer danos com sua vegetação excessiva. Desse modo, no caso da hortelã vir a se desenvolver em demasia, há a necessidade de se realizar a abertura de áreas com enxada, para se ter áreas de ventilação, de modo a se impedir a perda de folhas (BRILHO, 1963b).

DOENÇAS

Uma possível quebra no rendimento da hortelã pimenta não deve ser atribuída somente à variedade ou a espécie em exploração. A ocorrência de doenças como a ferrugem, o bolor branco e de insetos sugadores, ou de insetos que recortam as folhas, ou mesmo o excesso de plantas daninhas, provocam o abalo no estado sanitário da planta, cuja primeira conseqüência será a queda das folhas e portanto na produtividade (BRILHO, 1963b).

A melhor maneira de combater problemas fitossanitários na hortelã é pelo controle preventivo, posto que, mesmo sendo eficaz o controle direto no momento da ocorrência da praga ou doença, até que este seja completamente eliminado, grande parte da cultura já estará prejudicada e perdida (BRILHO, 1963b).

Assim, destacamos abaixo, as principais doenças encontradas na cultura da hortelã pimenta:

Ferrugem

Causada pelo fungo Puccinia menthae Pers. que ataca as folhas da hortelã, podendo destruí-las totalmente. A ferrugem se propaga rapidamente, mesmo a distâncias relativamente longas porque seus esporos podem ser transportados pelo vento. Seus esporos então germinam sobre as folhas, introduzindo pelos estômatos seus micélios, que irão atacar os tecidos da planta. Em seguida, surgem pequenas lesões (pústulas) na parte inferior das folhas. Estas pústulas, cuja coloração é de canela ou ferrugem, se alastram e provocam o crestamento de parte da folha ou mesmo da folha inteira, acabando por derrubar a folha no solo (SANTOS, 1965b). O ataque mais severo normalmente ocorre nos meses mais frios e secos do outono e começo do inverno, desse modo, maiores observações devem ser realizadas nesse período para se evitar a infestação da doença na área.

Se as condições climáticas forem favoráveis, a doença se alastrará com grande rapidez, afetando culturas inteiras, reduzindo a produção de toda uma região, com sensíveis prejuízos aos agricultores (SANTOS, 1965b).

Combate-se a ferrugem com pulverizações com fungicidas, em caráter preventivo, desde a fase dos canteiros, prolongando-se durante todo o ciclo vegetativo da cultura (SANTOS, 1965b).

Recomendam-se pulverizações com fungicidas a cada 10 ou 15 dias. No caso de ataque efetivo, devem-se realizar pulverizações a cada 8 dias e também realizar o corte e a queima de todas as hastes e folhas atacadas, inclusive as que se acharem sobre o chão. Os fungicidas utilizados devem ser específicos para controle desse fungo, tomando-se o cuidado de dirigir o jato também para a parte inferior das folhas da hortelã (BRILHO, 1963b).

Bolor Branco das raízes ou Murcha

Causado pelo fungo Sclerotium rolfsii que ataca as raízes da hortelã, provocando a queda de folhas e morte da planta, essa doença aparece em manchas na cultura. As plantas murcham e em pouco tempo morrem devido ao ataque do fungo que afeta os rizomas e as raízes da menta (BRILHO, 1963b).

Arrancando-se as plantas mortas, constata-se que os rizomas se acham cobertos por uma camada branca de bolor, cuja disseminação é fácil, podendo atingir todo o campo. As áreas muito infestadas de bolor branco devem ser evitadas para o plantio da menta (BRILHO, 1963b).

Essa doença ocorre com maior freqüência nos canteiros de produção de mudas, daí a necessidade de desinfecção dos rizomas com banho de fungicida antes do plantio (calda bordalesa ou cúprica) (BRILHO, 1963b).

Como controle, se o terreno permitir, deve-se efetuar arações profundas, repetidamente, durante a fase seca, o que concorre para desinfetar o terreno. Deve-se também procurar realizar rotações de cultura com plantas não suscetíveis ao ataque do bolor branco (como por exemplo o milho ou outras gramíneas). Recomenda-se arrancar e queimar as plantas de reboleiras atacadas e aplicar no local uma boa quantidade de cal, a título de desinfecção (SANTOS, 1965b).

Murcha de Verticillium

Também chamada de verticiliose, essa doença é causada pelo fungo Verticillium albo-atrum var. manthae. Ela acarreta graves prejuízos aos produtores de menta, chegando a infestar áreas inteiras de terrenos, que se tornam imprestáveis a essa cultura (BRILHO, 1963b).

A defesa contra essa murcha é muito difícil. As únicas medidas indicadas são a rotação de culturas realizada a longo prazo e a criação, por seleção, de variedades resistentes ao fungo (SANTOS, 1965b).

PRAGAS

A presença de insetos sugadores na cultura também pode determinar prejuízos, com o aparecimento de pequenos pontos cloróticos, formação de perfurações, ocasionando o debilitamento da folha, que pode cair. O controle de insetos picadores-sugadores deve ser realizado com o uso de inseticidas fosfatados não sistêmicos (BRILHO, 1965).

COLHEITA

Não havendo falta de chuvas depois de 3 a 4 meses de crescimento, a menta inicia seu florescimento, atingindo o ponto de colheita que é quando o florescimento se tenha generalizado (BRILHO, 1963b). O momento o mais apropriado de fazê-lo é quando 50% ou mais das plantas estão em florescimento. Para o Estado de São Paulo e Norte do Paraná a colheita, normalmente é realizada nos meses de novembro a janeiro, abril a maio e julho a agosto (FAHL et al., 1998).

Nessa época a hortelã apresenta sua maior riqueza e sua maior porcentagem desse óleo, além de que nesse período, o óleo é mais rico em mentol livre cristalizável (melhor qualidade). Se a colheita for retardada, a safra sofrerá tanto em rendimento quanto na própria qualidade (LIMA, 1953).

Dependendo das condições de cada cultura, a colheita pode ser manual ou mecânica. No caso de colheita manual, são utilizadas: a enxada afiada, a alfange ou foices. Durante essa operação, a planta é cortada rente ao solo, evitando-se os cortes do mato juntamente com a hortelã e o acúmulo de detritos em mistura as ramas colhidas para se preservar a qualidade do óleo. No caso de colheita mecânica, qualquer implemento que corte a massa verde sem picá-la ou soprá-la, pode ser utilizado (BRILHO, 1963b).

A colheita deve ser realizada em dias secos, no período da manhã, para que o material colhido não receba insolação forte, o que ocasionaria a volatilização dos compostos do óleo, ainda no campo. Além disso, não é indicado colheita de plantas úmidas, tendo em vista a possibilidade de ocorrência de fermentações, altamente prejudiciais à qualidade do óleo, além de que a quantidade de essência obtida de plantas nessas condições ser bem menor que em plantas colhidas secas (BRILHO, 1963b; HERBOTECNIA, 2007).

Depois de colhidas, as ramas devem ser bem espalhadas, em camadas finas, sobre o terreno, para sofrerem o processo de "murcha", perdendo assim o excesso de água acumulada, e em seguida, devem ser transportadas para a sombra ou para o destilador. Em certas regiões esse processo de murcha pode levar até 12 horas, o que acaba sendo até perigoso por poder ocasionar possível fermentação. Após esse murchamento a hortelã estará pronta para ser destilada. Não é recomendável deixar as ramas ao sol por período de tempo muito longo porque pode estragar, prejudicando a produção do óleo (LIMA, 1953).

Dentre os vários sistemas de colheita recomendados, LIMA (1953) sugere como melhor a colheita e o transporte imediato para um galpão, onde em camadas pouco espessas, ficará secando por 2 ou 3 semanas, sendo reviradas todos os dias para apressar e igualar a seca. Parte da menta é destilada logo após a colheita e outra parte podem vir a esperar, não raro, vários dias para serem destiladas.

Após a primeira colheita ocorre um perfilhamento abundante da planta o que propicia novos corte dentro de 60 e 90 dias após o primeiro, por ocasião do florescimento. Após o segundo corte, portanto, ocorre uma nova brotação e um novo florescimento, surgindo assim um terceiro corte. Eventualmente pode ocorrer até um quarto corte dentro de um mesmo ano agrícola. Em geral, o primeiro corte é realizado entre dezembro e fevereiro, e um segundo corte menor entre março a maio (BRILHO, 1963b).

CZEPAK (1995) estudando a produção de óleo bruto e mentol cristalizável em diferentes freqüências de colheita (aos 60, 70, 80, pleno florescimento, 90, 100, 110 e 120 dias) de M. arvensis L. observou que intervalos entre colheitas de 60, 70 e 90 dias apresentaram os maiores volumes de óleo bruto e mentol cristalizável ao longo de um ano de colheitas, além de que os teores de mentol não foram afetados pelas diferentes freqüências de colheitas.

Uma mesma cultura de hortelã pimenta pode se manter produtiva por até 5 anos, variando esse tempo em função do: clima, solo, tratos culturais, pragas, doenças, entre outros fatores. Em regiões de clima frio, como no Japão, as melhores colheitas são obtidas no segundo ano. No terceiro e quarto ano, ainda são efetuadas boas safras e no geral, no quarto ou quinto ano, a cultura é destruída, aproveitando-se os melhores rizomas para uma nova plantação. Mas aqui no Brasil a tendência tem sido a de renovação depois do primeiro ou segundo ano principalmente pela dificuldade que há em se controlar as doenças depois do primeiro ano (LIMA, 1953; HERBOTECNIA, 2007).

RENDIMENTO

Normalmente o rendimento médio de matéria verde da menta é de 20 a 30 mil kg/ha/ano. Para obtenção da essência, o rendimento médio encontrado é de 0,3 a 0,5% sobre matéria fresca, e de 1,0 a 3,0% sobre a matéria seca (HERBOTECNIA, 2007).

Em condições normais, a hortelã pimenta produz na destilação em média 1% em óleo do peso do material destilado. Desse modo, 13 toneladas de rama murcha por hectare, com um rendimento médio de 1% em óleo essencial, fornecerão em média, 130 kg de essência/ha/ano (BRILHO, 1963a e b).

Com relação ao mentol obtido, tem-se observado um rendimento médio de 30 a 50 kg/ha/ano de um mentol com 75 a 85% de pureza (HERBOTECNIA, 2007).

USOS

A planta é utilizada como matéria-prima para obtenção da essência da menta; a essência é utilizada como matéria-prima para obtenção do mentol; e o mentol tem sido usado como medicinal, na forma de anestésicos locais, como alívio para dores de cabeça, como anti-séptico das vias respiratórias, entre outros. Na área de cosmético, são utilizados como refrescantes ou para melhorar o sistema paladar-olfato em cremes de barbear, pastas de dentes, etc. Na alimentação é muito utilizado como aromatizante de bolos, doces, balas, bebidas, gomas de mascar; e na indústria de tabaco é utilizado para aromatização e "refrescamento" de diversos tipos de cigarros. (BRILHO, 1963b; HERBOTECNIA, 2007).

Todas as hortelãs encerram em suas folhas vitaminas A, B e C, minerais (cálcio, fósforo, ferro e potássio);exercem ação tônica e estimulante sobre o aparelho digestivo, além de ser ligeiramente vermífugo (lombriga e oxiúros), calmante, é também um bom chá para gripes e resfriados. Combate cólicas e gases, aumenta produção e circulação da bílis, favorece expulsão dos catarros e impede a formação de mais muco (OKA & ROPERTO, 2007).

COMERCIALIZAÇÃO

A comercialização do óleo essencial bruto de hortelã pimenta está restrita as transações internas pois é proibida a exportação da essência crua ou mesmo do óleo desmentolado que apresente um teor residual em mentol acima de determinado limite. O mentol contido nas parcelas do óleo desmentolado, presente em quantidades próximas a 45%, não é extraído pelo processo de cristalização livre, como o contido no óleo bruto, mas sim por outros processos industriais (BRILHO, 1966).

Dessa forma, a essência de hortelã pimenta encontrada nas células oleríferas distribuídas pelas folhas e flores da planta, desde que extraída dentro dos padrões técnicos exigidos, tem sua comercialização assegurada junto às firmas de desdobramento nacionais, sendo a seguir, os subprodutos exportados para todo o mundo. Os EUA se apresentam como o maior comprador de mentol cristalizado brasileiro (BRILHO, 1966).

A avaliação da riqueza em mentol do óleo é feita praticamente baseando-se na sua maneira de congelar e cristalizar quando submetida a temperaturas inferiores à 15ºC. Assim, por exemplo, um óleo contendo cerca de 80% de mentol, quando submetido a -10ºC dá uma massa congelada que é uma mistura de pequenos cristais de mentol e óleo. Um outro óleo, contendo 40% de mentol, posto na mesma temperatura, produz menor quantidade de cristais, porém estes bem maiores e facilmente separáveis do óleo. Assim, usando a ação do frio sobre a essência, o comprador calcula sua porcentagem me mentol de acordo com o processo verificado exatamente no laboratório (LIMA, 1953).

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
 

BRILHO, R. C. A cultura da hortelã pimenta. Manual Técnico do Engenheiro Agrônomo. Instituto Agronômico de Campinas, Campinas, SP, 1963a, 13p.

BRILHO, R. C. A cultura da hortelã pimenta e a extração de seu

BRILHO, R. C. Hortelã pimenta. Instituto Agronômico de Campinas, Campinas, SP, 1963c, 6p.

BRILHO, R. C. Viveiro de mudas de hortelã. Instituto Agronômico de Campinas, Campinas, SP, 1963d, 6p.

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André May possui graduação em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (1997), mestrado em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2001) e doutorado em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2006). Atualmente é Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas. Tem experiência na área de Agronomia , com ênfase em Fitotecnia. Atuando principalmente nos seguintes temas: Allium cepa, cebola, população, nutrição.
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Contato:
amay@iac.sp.gov.br

 

Andrea Rocha Almeida de Moraes possui graduação em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1998) e mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical pelo Instituto Agronômico de Campinas (2004). Atualmente é Engenheira Agrônoma e estagiária do Centro de Horticultura do Instituto Agronômico de Campinas. Tem experiência na área de Agronomia , com ênfase em Fitotecnia. Atuando principalmente nos seguintes temas: resistência de plantas a insetos, Cultivares de amendoim, Enneothrips flavens.
Contato:
andreamoraes@gmail.com

 

Odair Alves Bovi possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo (1972) , mestrado em Agronomy pela University of Florida (1981) e doutorado em Agronomy pela University of Florida (1983). Atualmente é Pesquisador Científico VI do Instituto Agronômico de Campinas. Tem experiência na área de Agronomia , com ênfase em Fitotecnia. Atua principalmente nos seguintes temas: fotossíntese, balanço de carbono, fisiologia da produção.
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Contato:
obovi@iac.sp.gov.br

 

Nilson Borlina Maia possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo (1981), especialização em Curso de Especialização em Cultura de Cana de Açúcar pela Cooperativa Central dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (1982), mestrado em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas) [Esalq] pela Universidade de São Paulo (1994) e doutorado em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas) [Esalq] pela Universidade de São Paulo (1998). Atualmente é Pesquisador Científico IV do Instituto Agronômico de Campinas. Tem experiência na área de Agronomia , com ênfase em Fitotecnia. Atuando principalmente nos seguintes temas: Menta, qualidade, hidroponia, óleo essencial, mentol e nutrição de planta.
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Contato: nilson@iac.sp.gov.br

 

Mariane Quaglia Pinheiro é estagiária do Centro de Horticultura do Instituto Agronômico - IAC, Campinas,SP. Bolsista de Iniciação Científica do CNPq.

Contato: marianeqp@gmail.com

 



Reprodução autorizada desde que citado os autores e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

MAY, A.; MORAES, A.R.A. de; BOVI, O.A.; MAIA, N.B.; PINHEIRO, M.Q. Mentha arvensis L.. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_1/menta/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 11/02/2007

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