Como minimizar o estresse hídrico na soja
A água é fator
fundamental na produção vegetal. Sua falta ou seu excesso afeta de
maneira decisiva o desenvolvimento das plantas. Qualquer cultura
utiliza grande volume de água, durante o seu desenvolvimento, e
grande parte deste somente passa pela planta e perde-se,
posteriormente, para a atmosfera pelo processo de transpiração.
As relações
planta-água de qualquer cultura agrícola são bastante complexas,
envolvendo aspetos de fisiologia vegetal, física de solo,
agrometeorologia e agronomia em geral. Porém, os dois fatores mais
importantes para o bom desenvolvimento vegetal são: a existência de
água disponível no solo para as plantas e a distribuição radicular
da cultura ao longo do perfil do solo.
A quantidade de
água disponível no solo para as plantas esta intimamente ligada à
quantidade e distribuição das chuvas e das propriedades do solo no
que se refere à retenção de água. Em Dourados, segundo dados da
estação meteorológica da Embrapa Agropecuária Oeste, nos
últimos três anos a média de precipitação foi de 1.300 mm/ano,
quantidade suficiente para o desenvolvimento das culturas durante o
ano. No entanto, a distribuição das chuvas tornou-se ultimamente um
sério problema. Nesta região, era comum a ocorrência de veranicos de
uma semana a dez dias, mas nos últimos anos estes têm ocorrido de
forma mais prolongada e se configurando não mais como veranicos, mas
sim como estiagem.
Como exemplo,
tem-se que em janeiro/fevereiro de 2004; fevereiro/março de 2005 e
janeiro de 2006 foram registrados de 35, 31 e 16 dias sem chuva,
respectivamente. A produtividade das culturas em geral e
principalmente da soja, que nesta época se encontrava na fase de
formação/enchimento de grãos, foi afetada de forma irreversível.
Esta queda na produtividade pode ser atribuída à baixa capacidade de
retenção de água no solo na camada de 0 a 20 cm, que nos solos
argilosos é em torno de 25 mm e nos de textura média a arenosos este
valor situa-se próximo de 15 mm. Considerando que a evaporação média
é em torno de 5 mm dia, teoricamente ter-se-ia água armazenada para
somente um período de três a cinco dias. Porém, o que se verifica
na prática é que a soja tem a capacidade de suportar em até 30% a
mais este limite, o que corresponde de oito a dez dias de seca sem
danos à produtividade.
Assim sendo,
garantir o bom desenvolvimento das raízes e, conseqüentemente,
aumentar a profundidade de exploração do solo pelas mesmas é
importante na medida em que se tem, por exemplo, uma cultura que se
desenvolve em um solo arenoso e que explore a camada de 0 a 20 cm e
com possibilidade de estar sendo prejudicada pela falta de água
depois de mais um menos oito dias sem chuvas. Se a mesma cultura
explorasse a camada de 0 a 40 cm, ela ainda suportaria o dobro de
dias sem chuvas.
A baixa
capacidade de retenção de água dos solos pode ser melhorada em
condições de agricultura extensiva, na medida em que se adote
sistemas melhorados de cultivos, a exemplo do Plantio Direto. Neste
sistema, o solo está sempre coberto por palha, o que contribui para
a diminuição da evaporação e da temperatura do solo e, ao mesmo
tempo, ocorre aumento na matéria orgânica favorecendo o
armazenamento de água no solo.
Por outro lado,
deve-se considerar que a quantidade de água retida no solo é tanto
maior quanto mais profunda a camada considerada. Assim, uma forma de
aumentar a disponibilidade de água para as plantas é procurar
conduzir o sistema radicular para estas camadas. Para um bom
desenvolvimento e aprofundamento das raízes, é preciso que o solo
não tenha impedimentos físicos e ou químicos que dificultem o
crescimento em profundidade.
Para solucionar
tais problemas pode-se lançar mão de diferentes procedimentos ou
práticas. Nesse sentido, a subsolagem, para o impedimento físico,
aliado à fosfatagem, à calagem e à gessagem, quando feitas
corretamente no que diz respeito à profundidade de trabalho,
incorporação e doses adequadas, tem efeitos positivos no
aprofundamento do sistema radicular.
Para que a
subsolagem seja eficiente é necessário identificar a que
profundidade encontra-se a camada compactada e ajustar o subsolador
e a potência do trator para um bom trabalho na descompactação. Às
vezes por não ter o equipamento adequado para atingir a profundidade
ideal, uma vez que o trator não tem potência para trabalhar na
profundidade necessária, tende-se a trabalhar o solo mais
superficialmente, não atacando diretamente o problema e,
conseqüentemente, não se tem o beneficio esperado no desenvolvimento
de raízes.
A compactação
também é responsável pela subutilização dos fertilizantes pelas
plantas. Trabalhos realizados para avaliar a absorção de nutrientes
pelas raízes em diferentes níveis de compactação evidenciaram que,
na medida que a densidade aumentou de 1,03 g cm-3
(ausência de compactação) para 1,72 g cm-3 (extremamente
compactado), a absorção de nitrogênio, fósforo potássio, cálcio e
magnésio diminuíram em torno de 45%.
O produtor,
visando garantir a produtividade, investe ao redor de 20% do custo
de produção no item adubação. Porém, em muitos casos, por problemas
de compactação do solo, as raízes terão seu desenvolvimento
comprometido e conseqüentemente a absorção de água e nutrientes pela
planta estará comprometida. Com certeza os investimentos em
fertilizantes não trarão o retorno esperado. Nestes casos, o que
ocorre é somente a majoração nos custos de produção, já que o
aumento em produtividade não se concretiza.
Com relação à
calagem, deve-se atentar para a distribuição, procurando fazer com
que esta seja a mais uniforme possível, isto é, evitar a
sobreposição das faixas de distribuição, pois a ação neutralizadora
do calcário sobre o solo se propaga a pequenas distâncias, tanto no
sentido vertical como no horizontal. Quando a distribuição for
desuniforme sobre a superfície do solo, a incorporação não corrigirá
este defeito. Este problema agrava-se na medida em que a
incorporação for também deficiente.
Os cuidados na
incorporação devem ser no sentido de que a dose a ser aplicada é
calculada para ser incorporada à profundidade de 20 cm. Portanto,
deve-se utilizar os arados de discos ou, quando a profundidade for
maior, lançar mão do arado de aivecas. Com incorporações rasas, com
grades, pode ocorrer o que se denomina de supercalagem, uma vez que
a quantidade que teria que ser incorporada a 20 cm efetivamente é
feita em menor profundidade, elevando em muito o pH dessa camada e
conseqüentemente diminuindo a absorção dos nutrientes, ocorrendo a
deficiência de macro e micronutrientes. Além disso, a calagem em
excesso superficial resseca o solo, tornando as plantas mais
vulneráveis ao veranico, limitando o desenvolvimento de raízes, com
reflexos na produção.
Além do calcário,
o gesso agrícola constitui uma importante fonte no fornecimento de
cálcio e enxofre às plantas. Este elemento é de importância
fundamental ao desenvolvimento das raízes, uma vez que as plantas
necessitam de cálcio no próprio ambiente de absorção de água e
nutrientes (solo) para a sua sobrevivência. Isto porque as plantas
não translocam o elemento, pelo floema até as raízes. Deve-se
registrar que o gesso não apresenta efeito corretivo da acidez, o
seu uso melhora somente o ambiente radicular da planta e deve ser
feito com base no conhecimento das características químicas e
físicas do solo.
A dose de gesso a
ser utilizada está relacionada com o teor de argila do solo, sendo
que para solos arenosos, com teor de argila menor que 150 g kg-1
a dose é de 0,5 t ha-1; com o teor variando de 150 a 350
g kg-1 a dose será de 1,0 t ha-1, para os
argilosos com teores de argila entre 360 e 600 e maior que 600 g kg-1
sugere-se doses de 1,5 e 2,0 t ha-1, respectivamente. Se
o objetivo for apenas como fonte de enxofre utilizar 0,2 t ha-1. A ocorrência de períodos de seca, que de uma maneira ou de outra causa impactos diferenciados na produtividade da soja, evidencia cada vez mais a necessidade de um sistema radicular mais profundo na tentativa de diminuir os riscos da produção agrícola. Portanto, a adoção das práticas agrícolas mencionadas anteriormente poderá ter como resultado sistemas radiculares mais desenvolvidos e mais eficientes em buscar água em profundidade no solo.
Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte Dados para citação bibliográfica(ABNT):
STAUT, L.A.
Como minimizar o estresse hídrico na
soja.
2006. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2006_3/soja/index.htm>.
Acesso em:
Publicado no Infobibos em 13/11/2006 |