ASPECTOS TÉCNICOS DO CULTIVO DA NESPEREIRA

Rafael Pio
Edvan Alves Chagas
Wilson Barbosa
Fernando Antonio Campo Dall'Orto

          A nêspera (Eriobotrya japonica Lindl.), fruta tipo pomo como a maçã, pêra e marmelo, pertencente à família Rosaceae, sendo amplamente distribuída nas regiões subtropical do globo. A sua exploração racional, com real importância econômica, limita-se a alguns países, como Japão, Espanha, Israel e Brasil. Sua origem é asiática, com referência a Japão, China e Índia.  Sem desbaste, é uma fruta pequena, de cor amarela e casca aveludada, de modo errôneo chamada popularmente de ameixa-amarela ou ameixa-japonesa. É uma fruta rica em vitamina C e sais minerais, como o cálcio e o fósforo. A nêspera é consumida ao natural ou em salada de frutas e também se presta à produção de excelente compota, atividade essa ainda bem pouco explorada.

          No Estado de São Paulo, iniciou-se o cultivo econômico na década de 40, com interesse crescente entre os fruticultores, chegando à cerca de 200 mil plantas em 1985, principalmente nas regiões produtoras de Mogi das Cruzes e Atibaia.

Clima e Solo

A nespereira se desenvolve bem em regiões onde a temperatura média anual está acima de 15ºC, não sujeitas a temperaturas abaixo de 3ºC, condições que ocasiona a morte dos frutos novos. No Estado de São Paulo, a quantidade total de água que a planta necessita durante o ano é, geralmente, satisfeita com as chuvas e pela utilização de cobertura morta.

As raízes da nespereira são profundas, podendo, entretanto a planta tombar sob a ação de ventos fortes, se o porta-enxerto for o marmeleiro, de raízes mais superficiais. Os ramos são resistentes, não havendo perigo da quebra pelo vento, mas os frutos podem ser prejudicados pela fricção contra as folhas e ramos vizinhos. Assim, recomenda-se a instalação do pomar nas faces menos batidas pelos ventos, ou pela conveniência de utilização de quebra-ventos.

Cultivares

Mizuho, Precoce de Itaquera, Precoce de Campinas (IAC 165-31), Parmogi (IAC 266-17), Nectar de Cristal (IAC 866-7), Centenária (IAC 1567-420), Mizumo (IAC 1567-411) e Mizauto (IAC 167-4).

Centenária
(IAC 1567-420)

Mizauto
(IAC 167-4)

Mizumo
(IAC 1567-411)

Nectar de Cristal
(IAC 866-7)

Figura 1. Figura ilustrativa de algumas variedades de nespereira desenvolvidas no Instituto Agronômico/IAC.

 

Produção de mudas

As mudas devem ser produzidas em recipientes, sendo as sementes extraídas de frutos maduros, secas à sombra e semeadas em cerca de uma semana, garantindo assim elevada germinação. As mudas são enxertadas sobre pés francos de porta-enxertos oriundos de sementes da própria nespereira, de qualquer cultivar, uma vez que ainda não existe porta-enxerto específico. O ponto de enxertia ocorre após 8 a 12 meses da semeadura, onde o porta-enxerto encontra-se com 1 cm de diâmetro na região de enxertia (30 a 40cm de altura). A enxertia se faz em qualquer época do ano, por processo de garfagem, preferivelmente do tipo “inglês simples” e cobertura com saco plástico enrolado ao garfo (enxerto). É importante que cerca de três a quatro folhas sadias do porta-enxerto sejam deixadas abaixo da parte enxertada, o que garante o melhor pegamento e mesmo o desenvolvimento das mudas enxertadas.

Há perspectiva promissora de cultivo de nespereiras enxertadas sobre marmeleiros, o que propicia plantas de menor crescimento que possibilita o espaçamento adensado e originando pomar de porte mais compacto.

Espaçamento

Os espaçamentos requeridos para a nespereira são 8 x 4 m a 8 x 6 m (plantio convencional; nespereira/nespereira) e 4 x 2 m a 5 x 3 m (plantio adensado: nespereira/marmeleiro). As quantidades de mudas necessárias são: 207 a 312 e 666 a 1.250/ha, de acordo com o espaçamento.

Plantio

De acordo com a análise de solo, aplicar o calcário para elevar a saturação por bases a 70%. Aplicar o corretivo em área total, antes do plantio ou mesmo durante a exploração do pomar, incorporando-o mediante aração e/ou gradagem.

O plantio das mudas deve ser realizado no período quente e chuvoso de cada região. Para o Estado de São Paulo, recomenda-se o plantio a partir de outubro. As covas devem ter dimensões de 60x60x60cm. A primeira camada de solo (até os 30 cm iniciais), é separada do subsolo (demais 30 cm) e misturada com 2Kg de esterco de galinha ou 10Kg de esterco de curral curtido, 1Kg de calcário, 160g de P2O5 e 60g de K2O. Essa mistura é colocada no fundo da cova, completando-se o que faltar com a terra provinda da raspagem superficial do terreno. A do subsolo é utilizada para a construção da bacia ao redor da muda, após o plantio.

Adubação

Plantio: Em cobertura, a partir da brotação das mudas, aplicar ao redor da planta, a cada dois meses, 60g de N, em quatro parcelas de 15g.

Formação: Para plantio convencional, no pomar em formação, em função do resultado de análise de solo e idade da planta, aplicar 60 a 120g planta-1 de cada um dos nutrientes: N, P2O5 e K2O, sendo a dose de N dividida em quatro parcelas, de dois em dois meses, a partir do início da brotação.

Produção: No pomar adulto convencional, a partir do 7º ano, em função do resultado da análise de solo e da meta de produtividade (8 a 12 t ha-1), aplicar, anualmente, 3 t ha-1 de esterco de galinha ou 15t ha-1 de esterco de curral, bem curtido e 60 a 120 kg ha-1 de N, 20 a 90 kg ha-1 de P2O5 e 20 a 100 kg ha-1 K2O. Após a colheita distribuir esterco, fósforo e potássio, na dosagem anual, em coroa larga, acompanhando a projeção da copa no solo. Aplicar o nitrogênio em quatro parcelas, em cobertura, de dois em dois meses, a partir do início da brotação. Para plantios adensados, aplicar os adubos, no pomar em formação e no adulto, de modo similar aos plantios convencionais, reduzindo as doses proporcionalmente à área ocupada por planta.

Tratos culturais

As principais técnicas culturais empregadas na cultura da nespereira são: capinas, podas de formação e de limpeza, desbaste e ensacamento dos frutos. O desbaste dos frutos e a proteção dos remanescentes, três a cinco por cacho, com folhas duplas de papel são operações indispensáveis para a obtenção de produto comercializável. O ensacamento com papel opaco, além de proteger as frutas contra as pragas, controla a incidência de “manchas-arroxeadas”, o que deprecia amplamente os frutos para o comércio, especialmente no cultivar Mizuho, o mais suscetível a esse distúrbio genético-fisiológico.

Principais pragas e doenças

As principais pragas que atacam as nespereiras são os pulgões, mosca-das-frutas e a mariposa oriental. Como controle, é indispensável o ensacamento dos frutos. No caso das doenças, apenas há maiores preocupações com a entomosporiose, em plantas jovens e a antracnose, eventualmente em plantas adultas. Como medida de controle, devem-se realizar pulverizações com produtos a base de cobre, sempre rotacionando o princípio ativo do produto comercial a cada aplicação, para assim evitar-se possíveis resistências dessas enfermidades.

Colheita

A época de maturação dos frutos da nespereira se estende de maio a outubro, quando há escassez de outras frutas estacionais no mercado. O período longo da safra provém do fato de a nespereira ter o hábito de florescer por etapas, num ciclo também bastante amplo. Essa é a razão pela qual a produção das nêsperas são muito menos afetadas que a das outras culturas, nos anos em que ocorrem intempéries, como geadas e secas prolongadas. As safras comerciais iniciam-se a partir do 2º ano de instalação do pomar. A colheita é manual, mediante a coleta das pencas ensacadas com os frutos já maduros.

Produtividade

A produtividade média dos cultivares de nespereira é de 10 a 20 t ha-1 de frutos, em pomares adultos racionalmente conduzidos e de acordo com o espaçamento.

Considerações finais

A cultura da nespereira prescinde da utilização sistemática de defensivos; daí torna-se atraente como uma fruticultura alternativa para a produção intensiva e mais natural dos frutos. Dentre os cultivares estudados no IAC, o Precoce de Campinas sobressaiu-se como o mais produtivo, tanto enxertado sobre a nespereira, quanto sobre o marmeleiro. Neste caso, o marmeleiro comum – cultivar Portugal e mais ainda o Provence, têm servido como excelente porta-enxerto.

Bibliografias Consultadas

BARBOSA, W.; POMMER, C.V.; RIBEIRO, M.D.; VEIGA, R.F.A. & COSTA, A.A. Distribuição geográfica e diversidade varietal de frutíferas e nozes de clima temperado no Estado de São Paulo. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.25, n.2, p.341-344, 2003.

CAMPO-DALL'ORTO, F.A.; OJIMA, M.; BARBOSA, W.; SANTOS, R.R.; MARTINS, F.P. & SABINO, J.C. Nespereiras enxertadas em marmeleiro: nova opção de produção frutífera sob elevado adensamento de plantio. O Agronômico, Campinas, 42(1):17-27, 1990.

OJIMA, M.; CAMPO DALL'ORTO, F. A.; BARBOSA, W.; MARTINS, F, P. & SANTOS, R. R. Cultura da nespereira. Campinas, Instituto Agronômico, 1999. (Boletim técnico, 815) 36p.

OJIMA, M.; CAMPO DALL'ORTO, F.A.; BARBOSA, W. & RAIJ, B. van. Frutas de Clima Temperado: I. Ameixa, nêspera, pêssego, nectarina e damasco-japonês (umê). In: RECOMENDAÇÕES DE ADUBAÇÃO E CALAGEM PARA O ESTADO DE SÃO PAULO. Campinas, Instituto Agronômico, 1996. (Boletim, 100) p. 137-138.

OJIMA, M.; CAMPO DALL'ORTO, F.A.; BARBOSA, W.; RIGITANO, O.; MARTINS, F.P.; SANTOS, R.R.; CASTRO, J.L. & SABINO, J.C. Pêssego, nectarina, ameixa, caqui, nêspera, nogueira-macadâmia, figo e pecã. In: INSTRUÇÕES AGRICOLAS PARA AS PRINCIPAIS CULTURAS ECONÔMICAS. Campinas, Instituto Agronômico, 1998. (Boletim, 200).


RAFAEL PIO, Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal de Lavras (2001), mestrado em Agronomia (Fitotecnia) pela Universidade Federal de Lavras (2002) e doutorado em Fitotecnia pela Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (2005). Atualmente é professor da Universidade do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fruticultura de clima temperado, atuando principalmente nos seguintes temas: produção de mudas, manejo cultural e melhoramento genético de frutas de clima temperado com baixa exigência ao frio. É especialista com as seguintes frutas: marmelo, nêspera e figo.
Contato:
rafaelpio@unioeste.br

EDVAN ALVES CHAGAS, Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Pelotas (2000), Mestrado em Agronomia (Fitotecnia) pela Universidade Federal de Lavras (2003) e Doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Estadual Paulista/FCAV/UNESP (2005). Atualmente é pesquisador científico do Instituto Agronômico de Campinas. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fruticultura, atuando principalmente nos seguintes temas: Manejo, Propagação e Melhoramento de Fruteiras de Clima Temperado e Técnicas Biotecnológicas aplicadas ao Melhoramento de Fruteiras.
Contato: echagas@iac.sp.gov.br

FERNANDO ANTONIO CAMPO DALL`ORTO, Eng. Agrônomo formado pela ESALQ/USP e com Mestrado em Energia Nuclear na Agricultura, em 1982 (CENA). Iniciou suas atividades de pesquisa no Estado de São Paulo em 23 de agosto de 1973 e, atualmente, já há quinze anos, ocupa o cargo de Pesquisador Científico Nível VI, do Instituto Agronômico (IAC). Publicou inúmeros artigos técnicos e científicos em periódicos especializados, livros e capítulos de livros,  Boletins Técnicos, Circulares e na Série Documentos do IAC. Em suas atividades profissionais interagiu com inúmeros pesquisadores e outros colaboradores em autoria ou co-autoria de inúmeros trabalhos científicos, no lançamento comercial de inúmeros cultivares frutíferos e divulgando uma série de novas técnicas frutíferas. É bolsista produtividade do CNPq e atua na área de manejo e melhoramento de plantas frutíferas.

WILSON BARBOSA, Biólogo, concluiu o mestrado em Agronomia pela Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) em 1989. Atualmente é Pesquisador Científico VI, do Instituto Agronômico (IAC), órgão de pesquisa da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Publicou inúmeros artigos técnicos e científicos em periódicos especializados, livros e capítulos de livros,  Boletins Técnicos, Circulares e na Série Documentos do IAC. Em suas atividades profissionais interagiu com inúmeros pesquisadores e outros colaboradores em autoria ou co-autoria de inúmeros trabalhos científicos, no lançamento comercial de inúmeras cultivares frutíferas e divulgando uma série de novas técnicas frutíferas. É pesquisador produtividade do CNPq e já recebeu 2 prêmios na área de pesquisa e desenvolvimento agrícola. Atua na área de Agronomia, com ênfase em Manejo e Uso de Recursos Genéticos de Frutíferas.
Contato:wbarbosa@iac.sp.gov.br


 

Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

PIO, R.; CHAGAS, E.A.; BARBOSA, W.; DALL `ORTO, F.A.C.. Aspectos técnicos do cultivo da nespereira. 2006. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2006_3/nespereira/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em   20/11/2006