CARACTERIZAÇÕES MACROCLIMÁTICAS, AGROMETEOROLÓGICAS E RESTRIÇÕES AMBIENTAIS PARA O CULTIVO DE MILHO EM REGIÕES TROPICAIS BAIXAS*
(A
grometeorological monitoring system to mitigate the negative effects of climate variability)

Orivaldo Brunini
Pedro L.G. Abramides
Andrew P.C. Brunini
João P. Carvalho

1 -INTRODUÇÃO

          A definição de regiões adaptadas ao desenvolvimento de qualquer cultura, e do milho em especial, necessita de uma análise tanto das exigências climáticas da cultura, assim como dos parâmetros meteorológicos disponíveis ou quantificação climática da região, além das exigências bioclimáticas da cultura, e as restrições agrometeorológicas associadas à exploração agrícola em função da clima.

          Um dos principais objetivos da Agroclimatologia é avaliar a aptidão agrícola das diferentes regiões climáticas existentes no globo terrestre. Essa aptidão agrícola é determinada em função das necessidades climáticas da cultura em estudo e da potencialidade da região onde tal cultura será introduzida. Porém, se tal cultura já é cultivado em determinada região, os estudos agroclimáticos visam a determinar qual a melhor época de plantio, de modo que a referida cultura não seja prejudicada por condições adversas.

          Para a determinação dos requerimentos climáticos de um vegetal, há necessidade de que os estudos agroclimáticos sejam feitos juntamente com os estudos fenológicos, sendo que o último relaciona o fenômeno periódico da vida da planta com uma série de estimativas quantitativas dos elementos ambientais. Desta maneira, uma nova disciplina fica sendo caracterizada, ou seja a “Bioclimatologia”, que nada mais é do que estudos quantitativos e qualitativos da ação dos elementos ambientais sobre o desenvolvimento vegetal. Em estudos de bioclimatologia agrícola, dois termos são comumente empregados:

Estádio – usualmente usado para indicar um ponto particular no desenvolvimento biológico.

Fase – indica o período entre um estádio específico para outro.

          Devido ao grande número de fatores e a complexidade das interações envolvidas em qualquer estudo planta-clima, a maioria dos estudos fenológicos tem sido conduzidos pela comparação do desenvolvimento do vegetal com um simples elemento ambiental, e na maioria das vezes usando-se a temperatura média do ar.

          A temperatura na qual a maioria dos processos fisiológicos ocorre, varia de aproximadamente 0 a 47ºC (Wang, 1960). Os efeitos da temperatura sobre a vida individual e sobre os processos de desenvolvimento de um vegetal, devem ser muito bem estudados e analisados para que o efeito da temperatura sobre as comunidades vegetais como um todo possam ser melhor interpretadas. Os métodos que se baseiam somente na temperatura do ar para a análise do desenvolvimento vegetal, pressupõem uma linearidade entre temperatura e desenvolvimento, porém, isto não é totalmente correto pois sabe-se que limites existem além dos quais o desenvolvimento da planta é prejudicado devido a temperaturas muito elevadas ou muito baixas. Para a cultura do milho, Pascale (1953), observou que essa cultura floresce e amadurece mais rapidamente quanto as temperaturas médias do ar situam-se em torno de 25ºC, ocorrendo um retardamento cada vez maior à medida que se diminui essa temperatura; chegando a concluir que não é possível o cultivo de tal cultura quando a temperatura média do verão é inferior a 19ºC, ou quando a temperatura média noturna dessa estação é inferior a 13ºC. O que já não pode ser mais considerada como verdadeira (esta afirmação) em função de híbridos e variedades desenvolvidos que se adaptam aos tipos climáticos temperados ou sub-tropicais de altitude.

2. MÉTODOS DE ESTUDOS DAS INTERAÇÕES CLIMA-PLANTA

          Os estudos das interações clima-planta iniciaram-se há 276 anos, quando Reaumur, R.A.F. (1730), construiu a sua escala termométrica. Embora tal escala tenha caído em desuso, Reaumur, somou as temperaturas médias diárias dos meses de abril, maio e junho, em sua localidade e observou que essa soma era praticamente um valor constante, para o desenvolvimento de qualquer planta de ano para ano. Esta somatória de temperatura, ele publicou em 1735, e foi conhecida como a constante Reaumur de fenologia. Ele assumiu que está constante termométrica expressava a quantidade de energia necessária para que uma determinada planta atingisse um certo estágio de maturidade. Esse trabalho de Reamur, deu origem ao conhecido sistema de umidades térmicas ou graus-dia, usado atualmente.

          O conceito de graus-dia ou de umidades térmicas, assume que uma temperatura existe (temperatura base), abaixo da qual a planta não se desenvolve, e se o fizer é em quantidade muito reduzida; além disso pressupõe uma relação completamente linear entre acréscimo de temperatura e desenvolvimento vegetal. Cada espécie vegetal ou variedade possui uma temperatura base, e esse valor pode variar em função da idade da planta. Várias fórmulas ou expressões tem sido sugeridas para o cálculo dos graus-dia ou unidades térmicas, necessárias para que um vegetal atinja um certo estágio ou seu ciclo de desenvolvimento (Brown, 1970; Arnold, 1959, Berlato e Sutili, 1976).

          De uma maneira, o total de graus-dia, ou unidades térmicas é calculada de acordo com a expressão

df
G.D  = (Ti – tb) ...........
i=di

          onde:
G.D = graus-dia
di = início da fase em estudo (data)
df = final da fase em estudo (data)
Ti = temperatura média diária (oC)
tb = temperatura base da fase em estudo (oC)

          Esta teoria também assume que temperaturas diurnas e noturnas são de igual importância para o crescimento e desenvolvimento da planta, e que a influência dos outros elementos tais como: fotoperiodismo e umidade do solo são desprezíveis quando comparados a temperatura. Mesmo considerando estas restrições, tal metodologia permitiu determinar com boa precisão a temperatura base ou mesmo a duração das fases fenológicas de vários vegetais, (Brown, 1970; Brunini et al, 1976; Brunini et al 1992; Barbano et al 2001).

          Um dos aspectos principais no sistema de unidades térmicas é a determinação da temperatura base (tb). O método mais conhecido é o da menor variabilidade (Arnold, 1959) e que basicamente consiste no seguinte:

          Numa série pré-determinada que corresponder ao menor valor do desvio-padrão em dias é considerada a temperatura-base do vegetal em estudo. A expressão utilizada é a seguinte:

Sd = (Sdd) /(x - tb)

          onde:
           
Sd  = desvio-padrão em dias para série de experimentos
           
Sdd  = desvio-padrão em graus-dia para toda a série de plantio para cada valor de temperatura-base
          
 x  = temperatura média para toda série de plantio
           
tb = temperatura base

          A figura 1 demonstra esta determinação para a cultura do milho na fase emergência florescente. Uma outra maneira de determinar a temperatura base é pela análise do desenvolvimento relativo em função da temperatura do ar (Brunini et al, 1976) como descrito pela relação e indicado na figura 2.
 

DRT  =  100
     NT

          onde:
             DRT = desenvolvimento relativo à temperatura média do ar (T)
            
100 = valor arbitrário de ponderação
            
NT = ciclo da cultura à temperatura média (T)

          A extrapolação da porção linear indica o desenvolvimento relativo zero, que corresponde à temperatura base.

          Diversos outros métodos poderiam ser descritos nesta análise, mas como a grande maioria, se não a totalidade dos cultivares de milho, cultivados na região tropical do Brasil, não são fortemente influenciados pelo fotoperíodo, os métodos baseados em soma térmica permitem esta análise.
 

Figura 1 – Estimativa da temperatura base de cultivar de milho na fase emergência ao florescimento masculino.

Figura 2 – Relação entre razão de desenvolvimento  da cultura e temperatura média do ar.

          A figura 2 indica de maneira generalizada o desenvolvimento de uma cultura em função da temperatura do ar. Observa-se que pela extrapolação a temperatura base seria 10ºC.

          Existem limites (thresholds) de temperatura do ar que afetam o desenvolvimento vegetal, limites estes mínimos, além dos quais o desenvolvimento é afetado, e o grau de efeito depende do quanto se desvia destes limites. Além disto, existe um valor de temperatura, situado entre estes dois extremos no qual o vegetal tem o melhor desenvolvimento (Figura 3).

Figura 3 – Relação entre ciclo evolutivo da cultura e limites térmicos adequados ao desenvolvimento.

3. EXIGÊNCIAS CLIMÁTICAS DA CULTURA DO MILHO

          No caso da cultura do milho, embora seja uma cultura C4, ela sofre influência marcante da temperatura do ar tanto diurna como noturna, sendo que esta última , tem efeito decisivo no metabolismo e respiração noturna.

          O milho é uma cultura de ampla dispersão geográfica, sendo cultivado desde latitudes de 40ºN até a Patagônia. Em vista de sua grande variabilidade genética e dos intensos trabalhos de melhoramento vegetal, o milho é uma cultura que apresenta uma das maiores dinamicidades nos estudos de obtenção de novas variedades, linhagens e mesmo híbridos. Esta manipulação genética permitiu a substituição das variedades e híbridos de porte alto e ciclo longo por híbridos e variedades de porte baixo e de ciclo até super-precoce considerando-se principalmente o período desde a germinação até o florescimento masculino.

          Brown, (1970), propôs um sistema para relacionar a taxa diária de desenvolvimento do milho com as temperaturas diurnas e noturnas. As expressões utilizadas pelo referido autor são:

Ymin = 1,8 (Tmin – 4,4)

Ymax = 3,33 (Tmax – 10,0)2
          onde:
            
Ymin e Ymax = taxas de desenvolvimento
            
Tmin e Tmax = temperaturas noturnas e diurnas

          Estes valores foram obtidos em locais de alta latitude. No caso de regiões de baixas latitudes e baixas altitudes os valores são ligeiramente diferentes, e a figura 4 apresenta a relação entre temperatura média do ar e duração do ciclo fenológico emergência a florescimento masculino (Figura 4a) e emergência a maturação fisiológica (Figura 4b). Observa-se de maneira incisiva o efeito da temperatura do ar no ciclo desta cultura. Através do sistema de unidades térmicas foi determinada a temperatura base e os graus-dia necessários para completar o ciclo ou as respectivas fases fenológicas (Brunini et al, 1985), como apresentado na tabela 1.

 

Figura 4 – Relação entre a duração em dias do ciclo fenológico emergência ao florescimento masculino (a) e emergência a maturação fisiológica (b) com a temperatura media do ar para cultivares de milho.

 

Tabela 1. Temperatura base, e acúmulo térmico médio para completar diferentes períodos fenológicos de diversos cultivares de milho.

Cultivar Fases Fenológicas (1)
Flor. Masc. Flor. Fem. Maturação Form. Esp.
Tb Ac. Térm. Tb Ac. Térm. Tb Ac. Térm. Tb Ac. Térm.
Cargill 805 8 774 8 831 8 1140 10 818
Cargill 8 747 8 793 10 1075 10 806
BR 201 8 820 8 897 10 1190 10 888
Agroceres 612 8 824 8 903 10 1200 10 875
Germinal 85 10 745 10 819 - - 10 936
Pioneer 3041 8 832 8 910 10 1167 10 907
Colorado 819 8 852 8 924 8 1380 10 932
XL 370 10 746 10 809 - - 8 1003
(1) desde emergência até início do florescimento masculino, florescimento feminino, maturação e formação de espigas

 

          Considerando-se por exemplo, temperaturas médias diárias de 25 e 20ºC e os sub-períodos germinação-florescimento masculino, e germinação-início de maturação, para dois híbridos de ciclo distintos (super-precoce e normal) a duração aproximadamente destes sub-períodos é apresentada na tabela 2.

 

Tabela 2. Duração aproximada, em dias, dos sub-períodos: germinação-início florescimento masculino, e germinação-início de maturação para híbridos de milho superprecoce e normal em função da temperatura média do ar.

TEMPERATURA MÉDIA DURAÇÃO DOS SUB-PERÍODOS
GERMIN. FL. MASCULINO GERMIN. FL. MATURAÇÃO
S. PRECOCE NORMAL S. PRECOCE NORMAL
20ºC 63 71 90 115
25ºC 44 50 63 81

          Com relação ao consumo hídrico Brunini et al. (1976); Brunini, (1987; 1989) determinaram as necessidades hídricas desta cultura estabelecendo o coeficiente de cultura e a fração P como indicados nas tabelas 3 e 4.

 

Tabela 3 – Variação do coeficiente de cultura (Kc) para dois cultivares de milho em função dos dias após a emergência (DAE)

DAE TIPO DE CULTURA
Super Precoce Fase Tardio Fase
1-20 0,6 1 0,55 A
20-40 0,95 2 0,85 B
40-60 1,25 3 1,20 C
60-80 1,33 4 1,40 D
80-100 0,80 5 1,30 E
100-120 0,60 6 1,15 F
120-140 1,00 G

          Sendo que as fases significam:

          Cultivar Precoce:
                       Fase 1 - Emergência até 30% cobertura do solo.
                       Fase 2 – 30% cobertura do solo até 100% cobertura solo.
                       Fase 3 – IAF máximo e início pendoamento.
                       Fase 4 – Florescimento até formação de grãos.
                       Fase 5 – Final da formação espigas até início da maturação.
                       Fase 6 – Início maturação à maturação final.

          Cultivar Tardio:
                       Fase A – Emergência até 20% cobertura solo.
                       Fase B – Desde 20% cobertura solo até 100% cobertura solo.
                       Fase C – Desde 100% cobertura solo até IAF máximo.
                       Fase D – Desde máximo IAF até início pendoamento.
                       Fase E – Início florescimento até formação de grãos.
                       Fase F – Formação de espigas até inicio da maturação.
                       Fase G – Início da maturação à formação final

          Contudo, deve-se considerar até que ponto a água disponível no solo pode ser removida sem que isto afete a evapotranspiração máxima (ETM). O ponto onde isto ocorre é chamado de fração P, e está diretamente relacionado à evapotranspiração potencial (Brunini, 1989).

 

Tabela 4 - Fração P para a cultura do milho em função da evapotranspiração potencial (ETP) (Brunini, 1984).

Evapotranspiração Potencial
mm.dia-1

Valor de P 2 3 4 5 6 7
0,80 0,70 0,59 0,45 0,30 0,20

 

4. CARACTERÍSTICAS CLIMÁTICAS DAS REGIÕES

          Para verificar a adaptabilidade de qualquer cultura e do milho em especial, o primeiro aspecto é a caracterização macroclimática das regiões em estudo.

          No presente trabalho são enfocadas as regiões Centro-Sul (região 1) e a região delimitada por Piauí-Maranhão e Tocantins (região 2).

          Os mapas climáticos apresentados foram baseados nos arquivos de dados meteorológicos existentes no CIIAGRO/IAC, assim como do INMET.

          Como exemplo destas características são apresentados os mapas de temperatura média anual das regiões 1 e 2 (Figura 5). Observa-se as distintas características térmicas que viabilizam a exploração econômica do milho, sendo isto corroborado pelos mapas de deficiência hídrica anual (Figura 6). Contudo estas análises podem levar a conclusões errôneas, pois não caracterizam a oscilação temporal ou sazonalidade de temperatura do ar, assim como a sua amplitude térmica. Esta variação sazonal da temperatura do ar, ou seja, a sua flutuação ao longo do ano, assim como a amplitude térmica é apresentada para distintas localidades destas duas regiões nas figuras 7 e 8. No caso da figura 7, são representadas localidades do Paraná e São Paulo, indicando que nestes Estados os efeitos negativos de altas temperaturas noturnas podem ser minimizados em função da época de plantio. Já para a região 2 (MA-PI-TO), os valores elevados de temperaturas noturnas como indicados pelos valores de temperatura mínima do ar (Figura 8) podem reduzir o nível de produtividade da cultura. Neste aspecto é muito importante que os melhoristas em área vegetal , levem isto em consideração para obtenção de variedades tolerantes às altas temperaturas, em especial as noturnas.

 

Figura 5 – Temperatura média anual da Região Centro Sul (alto) e parte do Norte – Nordeste (baixo ) do território brasileiro

 

Figura 6 – Total médio de deficiência hídrica anual da Região Centro-Sul (alto) e parte do Norte-Nordeste (baixo) do território brasileiro.

          Estes valores de amplitude térmica, podem de certo modo não apresentar corretamente o curso diurno e noturno da temperatura do ar. Como exemplo, temos a variação diurna e noturna da temperatura do ar em base horária das localidades de Votuporanga e Capão Bonito no Estado de São Paulo, para um período de julho e outro de outubro de 2006, obtidos pela análise de dados de Estação Meteorológica Automatizada da rede do IAC/CIIAGRO (Figura 9).

 

Figura 7 – Variação mensal da temperatura máxima e mínima média do ar em localidades nos Estados de São Paulo e Paraná.

 

Figura 8 – Variação mensal da temperatura máxima e mínima média do ar em localidades nos Estados de Maranhão,  Tocantins e Piauí.

          Porém nem sempre estes valores estão disponíveis, havendo somente registros de temperaturas máximas e mínimas do ar.  Estes valores médios diurnos e noturnos da temperatura do ar, possuem uma relação estreita com os valores absolutos das temperaturas máxima e mínima do ar em escala diária. Neste caso a relação entre os parâmetros é apresentado na figura 10, baseando-se nos valores de 8 localidades do Estado de São Paulo em 5 períodos de análise. E os resultados do teste estatístico são apresentados na tabela 5.

 

 

Figura 9 – Variação diurna e noturna da temperatura do ar para as localidades de Capão Bonito e Votuporanga, no Estado de São Paulo , durante o mês de outubro de 2006 (a) e julho de 2006 (b).

 

Figura 10 - Relação entre temperatura máxima e mínima do ar e valores médios do período diurno (18-6 horas) e noturno (18-6 horas) para o Estado de São Paulo.

 

Tabela 5 – Parâmetros estatísticos da relação entre temperatura do ar diurna noturna e os valores absolutos (TMax-TMin)

T diurna T noturna
Estatística de regressão
R múltiplo 0,82 R múltiplo 0,84
Coeficientes
Interseção 1,27 Interseção 2,81
Variável X 1 -TMA 0,495 Variável X 1TMA 0,216
Variável X 2 -TMI 0,451 Variável X3 -TMI 0,619

 

5. ASPECTOS AGROMETEOROLÓGICOS

Embora os capítulos anteriores apresentem comparações e análises meteorológicas em situações isoladas, a exploração agrícola da cultura do milho necessita um acompanhamento dinâmico e constante.

No caso do Instituto Agronômico (IAC) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, o CIIAGRO e o INFOSECA desenvolvem estudos rotineiros de monitoramento agrometeorológico de culturas.

Como exemplo, na tabela 6 temos as condições médias de estresse hídrico para a cultura do milho safrinha com sistema radicular de 50 cm no período de 01 de março a 30 de abril de 2006, assim como para a cultura da cana-de-açúcar para efeitos comparativos, no mesmo período, porém, cujo sistema radicular é 1,00 metro. Observa-se que para a cultura da cana-de-açúcar as condições não se encontravam críticas, tendo em vista uma melhor exploração do solo pelas raízes desta cultura. Já para o milho safrinha a situação era altamente prejudicial.

 

Tabela 6 – Condições médias de estresse hídrico e de desenvolvimento da cultura no período 01/03/2006 – 30/03/2006.

Região Cultura – Profundidade de raiz ( cm) ACWDI Condições
Guariba Milho – inicio desenvolvimento - 25 0,03 Severa
Guariba Milho - fase pendoamento - 50 0,33 Desfavoráveis
Guariba Cana-de-açúcar – desenvolvimento pleno 0,65 Boas
Jaboticabal Milho – inicio desenvolvimento - 25 -0,27 Severas
Jaboticabal Milho – fase pendoamento - 50 -0,31 Severas
Jaboticabal Cana-de-açúcar – desenvolvimento pleno 0,23 Prejudiciais
ACWI - Índice médio de estresse hídrico para a cultura (www.infoseca.sp.gov.br)

Um passo adiante foi dado neste sistema de caracterização de riscos pelo Governo do Estado de São Paulo, com a introdução do Sistema de Avaliação de Riscos Climáticos e Monitoramento Agrometeorológico de Culturas (SAA, 2006). Este trabalho é desenvolvido em conjunto com o INFOSECA e neste processo, os riscos climáticos relativos a seca são avaliados e determinada a probabilidade de atendimento hídrico de qualquer cultura, quer seja ela anual, ou perene.

A probabilidade de atendimento hídrico é feita com base na distribuição beta (β) que melhor representa o sistema analisado, pois a razão ETR/ETM, possui valores no intervalo de 0 a 1. Além disto, é permitido acompanhar a evolução dos parâmetros agrometeorológicos e comportamento vegetal. O estudo pode ser feito em todas as fases fenológicas críticas da cultura, e uma sub-rotina permite que o volume de solo explorado pela cultura acompanhe a evolução do sistema radicular.

As informações de probabilidade de atendimento hídrico para cada época de plantio ou fase crítica da cultura são automaticamente inseridas no sistema CIIAGRO, permitindo avaliar on-line os riscos de altas temperaturas ou geadas.

A Tabela 10 apresenta a probabilidade de atendimento hídrico para cultura do milho safrinha para a localidade de Palmital – SP, e os riscos de ocorrência de geada e de estiagem agrícola na fase de florescimento, e maturação fisiológica.

 

Tabela 10 – Probabilidade de atendimento hídrico em função da razão ETR/ETM como estimada pela distribuição Beta e riscos de geada e de estiagem para a cultura de milho na região de Palmital – Estado de São Paulo.

Dia- Mês Estádio Fenológico Prob. ETR/ETM 0,7 Prob. ETR/ETM p>=0,8 Frost risk Dry Spell Min. Dry Spell Max.
1/1 Semeadura 8,03 91,62 0 0 6
6/1 Semeadura 0,03 99,96 0 0 6
½ Desenvolvimento 0,01 99,98 0 0 13
6/2 Desenvolvimento 0,01 99,98 0 0 13
16/2 Pendoamento 0,01 99,98 0 0 21
21/2 Pendoamento 0,01 99,98 0 0 21
26/2 Pendoamento 0,01 99,98 0 0 21
1/3 Pendoamento 0,01 99,98 0 0 21
6/3 Pendoamento 0,03 99,96 0 0 21
¼ Maturação 0,01 99,98 0 0 21
6/4 Maturação 0,01 99,98 0 0 21
11/4 Maturação 0,01 99,98 0 0 21

 

6. USO DE SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA

Embora tabelas e gráficos permitam apresentar resultados pontuais da ocorrência de fenômenos adversos ou a resposta da cultura em determinada região as mesmas não permitem uma visualização espacial destes parâmetros ou grau de ocorrência em diferentes épocas.

Para tornar estas informações mais facilmente entendida pelo público em geral e por tomadores de decisão as mesmas são transformadas em mapas agrometeorológicos. Neste caso duas ferramentas básicas são utilizadas – SURFER e ARC-GIS.

A figura 11 apresenta as condições de estresse hídrico para a cultura do milho utilizando a metodologia do Surfer. Observa-se as diferenças em função da variabilidade espacial ou topográfica do Estado quando incluídas os diferentes tipos de solo.

Com o uso, por outro lado, do Sistema ARC-GIS estas informações são mais detalhadas ainda, permitindo a sobreposição de outras variáveis. A figura 12 apresenta o mesmo mapa de condições de estresse hídrico para a cultura do milho no sistema ARC GIS, sendo neste caso posteriormente sobreposto com o atributo de temperatura mínima do ar abaixo de 14ºC e temperatura máxima do ar acima de 32ºC indicando a áreas restritivas por insuficiência térmica e de atendimento hídrico.

 

Figura 11 - Condições de estresse hídrico para a cultura do milho baseado no sistema Surfer no Estado de São Paulo.

 

Figura 12 - Condições agroclimáticas de estresse hídrico e térmico para a cultura do milho no Estado de São Paulo.

 

7 - CONCLUSÕES

Os aspectos agrometeorológicos e bioclimáticos discutidos indicam que algumas regiões podem apresentar temperaturas noturnas elevadas que podem comprometer o rendimento em grãos da cultura. Mesmo para locais de média latitude os riscos de altas temperaturas no florescimento ou formação de espigas podem comprometer a viabilidade de formação de espigas e dos grãos e reduzir a produtividade.

Deve-se ressaltar que o uso combinado de sistemas de informações geográficas com técnicas agrometeorológicas permite o uso de medidas mitigatórias adequadas para avaliação do estresse ambiental na cultura do milho.

* Palestra proferida no XXVI Congresso Nacional de Milho e Sorgo realizado em Belo Horizonte - MG, de 27 a 31 de agosto de 2006.


 

8 - LITERARTURA

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RESUMO

          As características macroclimáticas e agrometeorológicas de regiões tropicais tanto do ponto de vista térmico como hídrico foram avaliadas para duas regiões climatológicas do Território Brasileiro. As avaliações foram feitas em termos dos parâmetros do balanço hídrico, das características térmicas sazonais, das exigências climáticas da cultura. Pode-se afirmar que condições de temperatura noturna elevada podem prejudicar o desenvolvimento da cultura, contudo a escolha de épocas apropriadas pode permitir medidas mitigatórias quanto ao escape, tanto de temperaturas noturnas elevadas ou mesmo o alto estresse térmico no período diurno na fase de florescimento. Por outro lado em qualquer situação um continuo monitoramento e avaliação dos riscos são necessários, como os desenvolvidos pelo CIIAGRO (http://ciiagro.iac.sp.gov.br) ou INFOSECA (www.infoseca.sp.gov.br).

 

Palavras-chave: estresse térmico, estresse hídrico, exigências climáticas, ciiagro, infoseca

 

ABSTRACT

          The macroclimate regime of a tropical region in Brazil was evaluated considering the major agrometeorological aspects related to water stress, diurnal and nocturnal temperature regimes, and their effects on maize crop development and yield. The evaluation was made considering thermal regime and water availability in the soil and crop response to these factors. It was observed that besides drought, night temperature plays an important role in determining the most suitable planting time for such a crop.On the other hand it is important to have a continuous crop.

 

Key-words: CIAGRO, INFOSECA thermal stress, water stress, agrometeorological indices. INTRODUÇÃO


Orivaldo Brunini é Pesquisador Científico do Instituto Agronômico - IAC e Diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Ecofisiologia e Biofísica
Engenheiro Agrônomo: UNESP - Jabotical - 1971
Mestrado: CENA - USP - 1975
Doutorado: University of Guelph. - Canadá -1979
Linhas de Pesquisas: Bioclimatologia; Microclimatologia; Fenologia; Modelagem Agroclimatológica; Micrometeorologia; Agrometeorologia operacional; Água-Solo-Planta-Atmosfera
Contato: brunini@iac.sp.gov.br

 

Pedro Luís Guardia Abramides possui graduação em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - USP (1976). Atuou como Pesquisador Científico no Instituto de Zootecnia (1977 a 1998). Atualmente é Pesquisador Científico VI do Instituto Agronômico - IAC. Tem experiência na  área de Agronomia com ênfase a Estatística Experimental e Tecnologia da Informação. Atuações nas áreas de formação e manejo de pastagens, consorciação, modelagem, desenvolvimento de softwares e de aplicativos para INTERNET voltados a coleções de plantas e dados climatológicos.
Contato: pedro@iac.sp.gov.br

 

 

Andrew Patrick Ciarelli Brunini possui graduação em Bacharelado Em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2000) , graduação em Licenciatura Plena Em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2000) e mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical pelo Instituto Agronômico de Campinas (2003) . Atualmente é administrador do Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais e Estagiário do Instituto Agronômico de Campinas. Atuando principalmente nos seguintes temas: Rizipiscicultura, Microclima, Várzea, Arroz, Tilápia.
(Texto gerado automaticamente pela aplicação CVLattes)

Contato: andbrunini@aol.com

 

 

João Paulo de Carvalho possui curso-técnico-profissionalizante pelo Colégio Batista de Campinas (2001). Atualmente é Estagiário do Instituto Agronômico - IAC - Campinas.
(Texto gerado automaticamente pela aplicação CVLattes)
Contato: jotapee@ig.com.br

 


Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica (ABNT):

BRUNINI, O.; ABRAMIDES, P.L.G.; BRUNINI, A.P.C.; CARVALHO, J.P.. Caracterizações macroclimáticas, agrometeorológicas e restrições ambientais para o cultivo de milho em regiões tropicais baixas. InfoBibos, Campinas, v.1, n.3, 2006. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2006_3/ambientemilho/index.htm>. Acesso em:


publicado no InfoBibos em 14/11/2006

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