Capim
Elefante: Uma Nova Fonte Alternativa de Energia*
Segundo Urquiaga,
Bruno Alves,
Robert Boddey
A cultura de capim-elefante (Pennisetum purpureum) é
altamente eficiente na fixação de CO2 (gás carbônico)
atmosférico durante o processo de fotossíntese para a produção de
biomassa vegetal. Esta característica é típica de gramíneas
tropicais que crescem rapidamente e otimizam o uso da água do solo e
da energia solar para a produção de biomassa vegetal.
O capim-elefante tem sua origem da África. Apresenta uma grande
variabilidade genética, com características variáveis de rendimento,
fotoperíodo, perfilhamento, relação colmo/folha e qualidade como
forragem. A seleção de variedades de alto rendimento e qualidade,
visando fundamentalmente seu uso como forragem animal, tem sido o
principal objetivo dos estudos com essa cultura.
Por ser uma espécie de rápido crescimento e de alta produção de
biomassa vegetal, o capim-elefante apresenta um alto potencial para
uso não apenas como fonte alternativa de energia senão também para a
obtenção de carvão vegetal usado na produção industrial de ferro
gusa. Além disso, deve-se destacar que o capim-elefante, por
apresentar um sistema radicular bem desenvolvido, poderia contribuir
de forma eficiente para aumentar o conteúdo de matéria orgânica do
solo, ou o seqüestro de C (carbono) no solo.
Produção de biomassa
O CO2 atmosférico é a fonte de C da planta para seu
crescimento, utilizado através do processo fotossintético. Pode-se
considerar que esta fonte de CO2 é ilimitada, e, por
isso, a acumulação de biomassa pelas plantas dependerá apenas de
outros fatores que afetam o crescimento vegetal, destacando-se a
disponibilidade de nutrientes minerais, as condições físicas e
químicas do solo, a disponibilidade de água e adequada temperatura.
Relatos de pesquisa mostram que a produção anual de biomassa desta
cultura pode chegar a mais de 100 Mg ha-1, desde que
genótipos eficientes sejam utilizados e condições próximas das
ideais sejam garantidas. Porém, quando o capim-elefante é cultivado
para uso como fonte de energia (produção de carvão vegetal), é
interessante que os teores de P e N (nitrogênio) nos tecidos da
planta sejam baixos para garantir a melhor qualidade do carvão para
uso na siderurgia. Por isso, o uso de fertilizantes deve ser
racionalizado, o que faz com que os níveis de produtividade da
cultura normalmente fiquem num patamar bem abaixo do potencial da
cultura. A Embrapa Agrobiologia vem desenvolvendo estudos com a
cultura para identificar genótipos capazes de acumular níveis
satisfatórios de biomassa em solos pobres em N. Nestes estudos,
mostrou-se que alguns genótipos recebem contribuições significativas
da fixação biológica de nitrogênio, o que aparentemente lhes garante
a condição para produzir mais de 30 t/ha/ano de colmos secos, com
mínima aplicação de outras fontes de nutrientes. A qualidade do
material produzido tem sido considerada ideal para produção de
carvão.
Capim-elefante para uso em siderurgia
Em geral, o teor de C nos tecidos vegetais apresenta mínima
variação. Na biomassa vegetal do capim elefante o teor de C é
aproximadamente 42%, na base de matéria seca. Assim, uma produção
média de biomassa seca de colmos de capim elefante de 30 t/ha/ano,
como conseguida na Embrapa Agrobiologia, acumularia um total de 12,6
t C/ha/ano Se toda a biomassa é utilizada na produção de carvão
vegetal, e considerando que no processo de carvoejamento apenas 30%
da biomassa se transforma em carvão, deduz-se que cerca de 3,8 Mg
C ha-1 ano-1 derivado do capim elefante
tem potencial de substituir o carbono mineral usado na produção de
ferro gusa. Deve-se destacar que o carvão derivado da biomassa do
capim elefante serve tanto como fonte de energia como na própria
constituição do ferro gusa.
No caso do carvão da biomassa de capim elefante substituir, por
exemplo, 200.000 toneladas por ano de carvão mineral, quantidade
média usada na indústria siderúrgica de médio porte, pode-se deduzir
que o potencial de substituição de C derivado do capim elefante
seria de 84.000 toneladas de C/ano, o equivalente a 308.000
toneladas de CO2 /ano. Para isso seriam necessários 12
mil ha plantados com o esta cultura.
Faltaria ainda avaliar a possibilidade de se produzir carvão vegetal
incluindo-se as folhas, pois a relação colmo/folha desta cultura
pode variar entre genótipos, assunto que também está sendo estudado
na Embrapa Agrobiologia em nível de campo. Os dados obtidos na área
experimental da Embrapa Agrobiologia indicam que nas variedades
Gramafante, Cameroon Piracicaba e BAG 02, selecionadas durante 10
anos de pesquisa em cooperação com a Embrapa Gado de Leite, a
relação colmo/folha varia de 1,5 a 2,7. Caso o processo de
carvoejamento permita o processamento de folhas sem diminuição da
eficiência, o potencial de produção de carvão por hectare para uso
em siderurgia aumentaria em 60 a 100%.
Impacto econômico
O protocolo de Quioto, assinado por 170 países em 1997, visa reduzir
as emissões de CO2 para a atmosfera para valores
equivalentes aos observados em 1990. Os países europeus, signatários
do Protocolo, deverão ter suas metas de emissão atingidas em 2005.
Essa determinação fez com que o chamado “mercado de comodities
de carbono” ganhasse maior importância. A idéia é a de que países
com altos níveis de emissão de CO2 possam comprar
créditos de C de países que sejam considerados não poluidores e que
estejam adotando práticas que permitam seqüestrar ainda mais C da
atmosfera. Em outras palavras os poluidores pagarão para que outros
países façam o seqüestro de C para eles. Embora represente um ônus
para os países poluidores, o mercado de C permite que rapidamente
consigam cumprir as metas com Quioto sem que sofram impactos
negativos pela obrigatoriedade de reduzir suas atividades
(industriais, urbanas, agrícolas etc) que respondem pelas emissões
de CO2 atuais.
O mercado de comodities de C de empresas européias considera
um preço de US$ 10.oo dólares por tonelada de CO2
seqüestrado ou pela redução na emissão. Assim, baseado nos dados
apresentados acima, pode-se estimar que uma empresa de mineração
seqüestrando ou deixando de emitir o equivalente a 308.000 toneladas
de CO2 ano-1, poderia captar cerca de US$
3.080.000.oo a cada ano somente por este mecanismo. Adicionalmente,
deve-se destacar que existem fortes indícios de que produtos que
utilizam fontes de energia renovável terão um valor agregado que
facilitará sua inserção em novos mercados com melhores preços.
No País, do ponto de vista socio-econômico, a inserção da cultura de
Capim elefante como fonte de energia renovável contribuirá
significativamente no agronegócio, diversificando a economia, como
também aumentado sensivelmente a fonte de empregos.
Fonte: Embrapa Agrobiologia. Seropédica, RJ
*
Artigo originalmente publicado no site
www.ambientebrasil.com.br
Segundo
Sacramento Urquiaga Caballero,
possui graduação em Agronomia pela Universidad Nacional Agraria
(1973) , mestrado em Ciência do Solo pela Universidad Nacional
Agraria (1978) , doutorado em Solos e Nutrição de Plantas pela
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (1982) e
pos-doutorado pela Wye College London University (1994). Atualmente
é Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária,
Embrapa Agrobiologia. Seropédica, RJ
, professor visitante da Universidad Nacional Agraria, Consultor/Acessor
técnico-científico do Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio
de Janeiro, Consultor ad hoc do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico e Consultor/assessor técnico-científico da
Agência Internacional de Energia Atômica. Tem experiência na área de
Agronomia, com ênfase em Ciência do Solo. Atuando principalmente nos
seguintes temas: nutrição de plantas.
(Texto gerado
automaticamente pela aplicação CVLattes
Contato:
urquiaga@cnpab.embrapa.br
Publicado no Infobibos em 29/08/2006
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