O Cultivo do Vime por Dieter Brandes e Antonio Edu Arruda
A Salix humboldtiana Wiild é a única espécie nativa da América do Sul, ocorrendo ao longo de rios e canais desde o sul do México (23º N) até a província de Chubut, na Argentina (45º S). O gênero Salix ocorre predominantemente em solos úmidos de climas frios e temperados, mas diversas espécies de Salix se adaptam perfeitamente a áreas secas, incluindo zonas alpinas e de altas latitudes. Os exemplares arbóreos de Salix são conhecidos como salgueiro, salso, chorões (willows); as formas arbustivas, de uso tradicional em artesanato e cestaria são denominadas de vime. A literatura destaca, pela boa qualidade na confecção de cestas, Salix viminalis L., Salix purpurea L., Salix cinerea L., Salix caprea L., Salix triandra L., Salix alba L., subsp. Vitellina e Salix fragilis L. (Comunicado Técnico nº 71 da Embrapa, da autoria do Eng. Florestal, PhD, Vicente Pongitory Gifoni Moura. Este mesmo autor nos informa que o cultivo do vime tem sido objeto de interesse há séculos, devido ao fato de que a madeira do Salix, tanto arbórea como arbustiva, é fácil de ser trabalhada e de ser propagada.
Espécies de Salix produtoras de vime foram introduzidas no Brasil há mais de meio século, em São Paulo e nos estados do Sul. Segundo M. Pio Correa, em seu Dicionário de Plantas Úteis do Brasil e das Exóticas Cultivadas (1978), as espécies S. alba e S. purpurea foram introduzidas e aclimatadas no Brasil e se destacam pelo valor medicinal, na produção de “salicina”, na fabricação de perfumes artificiais e no tratamento do reumatismo e de outras doenças febris. A espécie S. babilonica L., tradicionalmente conhecida como “chorão”, é originária da China. É cultivada em diversos países como planta ornamental, na arborização urbana, sendo seus brotos e flores indicados pra combater febres, tuberculose, úlceras e dor de dente.
A partir da década de sessenta do século passado, o incremento da vitivinicultura e o declínio das plantações de vime na serra gaúcha ensejou a comercialização catarinense do vime “in natura”, para suprir as demandas daquela atividade (amarração das plantas de videira e trançados para garrafas, garrafões e cestas de colheita). O vime passou a ter importância econômica, com aumento da área plantada e da produção no vale do Rio Canoas.
A produção anual é de 15790 toneladas de varas verdes (cerca de 6000 toneladas de varas secas, prontas para o artesanato). Se comercializada na forma de varas verdes a atividade pode gerar, anualmente, cerca de R$ 2,36 milhões – uma estimativa -, uma vez que as oscilações no preço recebido pelos agricultores são um dos principais entraves à atividade. A transformação da conjuntura nacional e mundial, com os agricultores saindo da agricultura de subsistência para a economia de mercado, exigiu mudanças na forma de exploração das propriedades. Nesse ambiente o vime, cujo cultivo pouco depende de recursos externos à propriedade, tornou-se importante fonte de renda e contribuiu para a permanência de significativo número de famílias no campo. A atividade contribui para a manutenção das unidades produtivas, ocupando a mão-de-obra local. Remunera essencialmente os fatores internos de produção (mão-de-obra e recursos naturais). É pouco mecanizada, a maioria das atividades são executadas manualmente. Não compete com as lavouras tradicionais, desenvolvendo-se em áreas marginais que apresentam restrições ao cultivo. O processo produtivo do vime é ambientalmente recomendável, pois nele não são usados pesticidas (inseticidas, fungicidas e herbicidas). Além do sistema de produção utilizar o mínimo de insumos externos, recicla nutrientes normalmente indisponíveis aos cultivos convencionais, preserva o solo, melhora a qualidade da água, protege as margens dos rios e está adaptado às condições locais. O volume de artesanato produzido regionalmente é incipiente quando comparado à produção de matéria prima. Apenas 10% do total colhido são transformados nos municípios produtores, o que confirma a baixa apropriação, pelos agricultores e artesãos, dos recursos gerados pela atividade na região. É necessário estimular a produção local de artesanato com melhor acabamento, pela introdução de novas técnicas e novos desenhos que atendam o mercado consumidor, mudando a realidade atual, onde 90% da produção é comercializada na forma de varas, para outras regiões do Estado e do país. Cabe salientar que no processo de transformação artesanal, 800 a 1000 quilos de varas secas são suficientes para uma pessoa trabalhar o ano inteiro na confecção de peças. A produção anual gera ocupação para 6.000 a 7.500 pessoas, trabalhando em tempo integral, somente no artesanato, sem considerar o restante da cadeia produtiva.
À medida que a atividade ganhou importância regional, produtores e suas lideranças sentiram a necessidade de melhorar o sistema produtivo e agregar valor ao produto pela transformação artesanal local. Solicitada, a Epagri, que até então não desenvolvia qualquer ação nesta atividade, reconhecendo sua importância social, econômica e ambiental, aliou-se aos produtores para seu planejamento conjunto. Foram contratadas duas consultoras, nas áreas de agronomia e artesanato, ao tempo em que foi elaborado o “sistema de produção do vime”, necessário à inclusão da cultura como atividade financiável no sistema nacional de credito rural. A consultoria evidenciou a importância e a dimensão da atividade e apontou para a necessidade de trabalhos de pesquisa e extensão rural, visando resolver os problemas resultantes da baixa apropriação, pelos agricultores e artesãos, dos recursos gerados pela atividade na região. Como principais entraves foram enumerados:
• Baixa agregação de valor à matéria prima; Outras instituições públicas e privadas, além da sociedade civil, demonstraram interesse em formar parcerias, oportunidade em que foi criado o Projeto de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Vime na Serra Catarinense. Fazem parte desse projeto: • o
Serviço Nacional de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Sebrae-SC); Foi proposta a construção de uma Unidade de Capacitação, nas dependências do Cetrejo – Centro de Treinamentos da Epagri de São Joaquim -, para estimular o aprimoramento das áreas de produção de matéria-prima e da produção artesanal, pela incorporação de novas técnicas que permitam competição de mercado. A Unidade facilitaria a busca de conhecimento pelos agricultores, tendo em vista que hoje não existe uma estrutura regional para suprir esta demanda. Individualmente, os agricultores não possuem condições financeiras para o aperfeiçoamento em outros locais. No projeto estão previstas ações em áreas importantes como pesquisa e extensão aplicadas ao cultivo, capacitação para o trabalho artesanal, gerenciamento dos empreendimentos, além de assessoramento na organização e na comercialização dos produtores de vime. À par de várias ações desenvolvidas nas áreas de comercialização e de capacitação cumpre lembrar que, na área de pesquisa, foram instalados ensaios de densidade e espaçamento de plantio, durante três anos, além de uma coleção de cultivares e espécies oriundas do país e do exterior (Argentina, Chile e paises da Europa). Um amplo trabalho de diagnóstico de solos e nutrientes foi realizado durante quatro anos. Os dados estão em fase de análise. *Fonte: EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. http://www.epagri.rct-sc.br
Eng. Agrônomo, PhD, Dieter Brandes -
dbrandes@epagri.rct-sc.br
Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte Dados para citação bibliográfica (ABNT): BRANDES, D.; ARRUDA, E. A.. O cultivo do vime. 2006. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2006_2/Vime/index.htm>. Acesso em:
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