Criação de Truta Arco-íris
por Yara Aiko Tabata
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Truta arco-íris (Oncorhynchus
mykiss) |
Para se criar truta arco-íris é fundamental a escolha adequada do local, onde as
condições ambientais sejam favoráveis ao bom desempenho da espécie. Águas frias,
limpas e em abundância, bem como, o conhecimento das técnicas de cultivo são
requisitos básicos para o êxito de uma truticultura.
ÁGUA
É o principal
fator a ser considerado para a instalação de uma truticultura. Cada espécie de
peixe requer um conjunto de propriedades físicas e químicas da água apropriadas
para o seu desenvolvimento. Para a truta arco-íris, as principais
características são: 1. TEMPERATURA - Os valores compreendidos entre 10 e
20ºC são os indicados para o cultivo, sendo 0 a 25ºC os limites de
sobrevivência. Os peixes são pecilotérmicos, isto é, não regulam a temperatura
corpórea. A cada aumento da temperatura ocorre um aumento da atividade
metabólica. A truta apresenta as melhores conversões na faixa térmica entre 15 e
17ºC, mantendo um bom estado sanitário. 2. TEOR DE
OXIGÊNIO DISSOLVIDO (OD)
- O teor de OD na água deve ser o de saturação. A solubilidade do oxigênio na
água varia, principalmente, com a temperatura e a pressão atmosférica (Tabela
1). O limite crítico de OD é de 5,5 mg/l, abaixo deste valor a truta tem
dificuldade em extrair o oxigênio da água.
Tabela 1 - Solubilidade do oxigênio na água (mg/l) |
Graus Celsius |
Pressão atmosférica (mm de Hg) |
680 |
700 |
720 |
740 |
760 |
7 |
10,5 |
11,0 |
11,0 |
11,5 |
11,5 |
8 |
10,5 |
10,5 |
11,0 |
11,0 |
11,5 |
9 |
10,0 |
10,5 |
10,5 |
11,0 |
11,0 |
10 |
9,8 |
10,0 |
10,5 |
10,5 |
11,0 |
12 |
9,4 |
9,6 |
9,9 |
10,0 |
10,5 |
14 |
8,9 |
9,2 |
9,5 |
9,7 |
10,0 |
15 |
8,7 |
9,0 |
9,2 |
9,5 |
9,8 |
16 |
8,6 |
8,8 |
9,1 |
9,3 |
9,6 |
18 |
8,2 |
8,5 |
8,7 |
8,9 |
9,2 |
20 |
7,9 |
8,1 |
8,4 |
8,8 |
8,8 |
21 |
7,8 |
8,0 |
8,2 |
8,6 |
8,7 |
22 |
7,6 |
7,9 |
8,1 |
8,5 |
8,5 |
23 |
7,5 |
7,7 |
7,9 |
8,3 |
8,3 |
3. O pH - O pH deve estar
compreendido entre 6,5 e 8,5 sendo 7,0 o valor ideal. Águas ácidas tornam os
peixes mais susceptíveis ao ataque de parasitas, enquanto que em água alcalinas
a amônia se encontra presente em maior proporção, na forma tóxica (NH3-). 4.
SER LIVRE DE POLUENTES. 5.
A QUANTIDADE de água (vazão/tempo) na estiagem é
que irá determinar a quantidade de peixes que se pode criar. Para esse cálculo,
são considerados além dos itens anteriores, as variáveis relacionadas ao arraçoamento. De uma forma bastante generalizada, pode-se dizer que para cada
quilograma de peixe estocado deve ser fornecido 1 litro de água por minuto.
TANQUES
Para
possibilitar uma vazão constante nos tanques e também promover a sedimentação de
partículas em suspensão, recomenda-se a construção de uma barragem de onde parte
a canaleta de abastecimento. Do ponto de captação até o escoamento final o fluxo
da água deve ser feito pela gravidade, evitando-se a utilização de bombas para o
recalque. Para se otimizar o aproveitamento da água, todos os tanques
e canaletas devem ser impermeabilizados.
O número
e o tamanho dos tanques vão variar de acordo com o escoamento de produção e com
cada fase de cultivo.
A forma
do tanque que apresenta melhor resultado para esta criação é a circular, com
escoamento central, pois além de favorecer a limpeza, impede a formação de
espaços "mortos", isto é, sem circulação de água. Também podem ser utilizados os
tanques retangulares. A altura média da água deve ser ao redor de 1 metro,
entretanto, a profundidade pode ser aumentada nos casos em que se utiliza a
suplementação de oxigênio.
O fluxo de água
deve ser constante, de forma a permitir uma renovação completa do volume de água
contido no tanque a cada hora. Sempre que possível tanto o abastecimento como o
escoamento devem ser independentes para cada tanque.
A água servida
na criação, antes de ser devolvida ao rio, deve ser lançada em uma lagoa de
decantação com fundo de terra, cuja superfície deve ser de pelo menos 10% da
área total em tanques, afim de minimizar o desequilíbrio ecológico do mesmo.
REPRODUÇÃO
Quando
confinadas em tanques as trutas não se reproduzem naturalmente, sendo portanto
indispensável a intervenção do homem para o desempenho desse processo. A
maturidade sexual á alcançada aos 2 anos de idade (peso mínimo de 500 g), quando
encontram condições ambientais propícias, (temperatura da água ao redor de 10ºC
e menor foto-período) e alimentação adequada.
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Seleção de fêmeas
ovuladas |
A reprodução
artificial é conduzida através da coleta dos óvulos e do sêmen pela compressão
abdominal e posterior fertilização "à seco" seguida de um período de incubação e
alevinagem. Para tanto são necessários: água, instalações e cuidados apropriados
e a manutenção do estoque de reprodutores. A vida útil de reprodução para fêmeas
é de 3 anos consecutivos, enquanto que o macho geralmente só é empregado no
primeiro ano reprodutivo, isto porque a proporção entre sexos é de 1 macho para
cada 4 fêmeas.
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Coleta de ovócitos
para fertilização |
Para cada quilograma de fêmea se obtêm de 1500 a 2000 óvulos.
O criador que
realizar o processo da reprodução poderá explorar tanto a produção de ovos
embrionados como a produção de alevinos.
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Incubadora de ovos |
Ovos embrionados de truta arco-íris em fase comercial |
ALIMENTAÇÃO/CRESCIMENTO
As trutas
iniciam a 1ª alimentação na fase final da absorção do saco vitelínico, ou seja,
cerca de 20 dias após a eclosão, ocasião em que apresentam o peso e o
comprimento ao redor de 100mg e 2cm respectivamente. A ração deve ser específica
para trutas (existente no mercado) com balanceamento nutricional adequado a cada
fase de cultivo e granulometria ajustada ao tamanho dos peixes. A quantidade de
ração fornecida ao dia, varia, principalmente, em função da temperatura e do
tamanho do peixe, sendo calculado geralmente em percentual do peso vivo (PV) em
cada tanque. Este percentual pode variar de 10% a 1% do PV ao dia, para o tipo
seco (10% de umidade), sendo decrescente com o tamanho do peixe (Tabela
2).
Tabela 2 - Taxas de arraçoamento em % do
peso vivo |
Comprimento
do peixe
(cm) |
Temperatura da água em ºCelsius |
4 |
6 |
8 |
10 |
12 |
14 |
16 |
18 |
até
3 |
3,0 |
3,6 |
4,2 |
5,0 |
5,8 |
6,8 |
7,9 |
9,1 |
3 a
4 |
2,6 |
3,1 |
3,7 |
4,4 |
5,1 |
5,8 |
6,7 |
7,7 |
4 a
6 |
2,3 |
2,7 |
3,2 |
3,8 |
4,5 |
5,1 |
5,9 |
6,8 |
6 a
8 |
2,0 |
2,3 |
2,7 |
3,3 |
3,9 |
4,4 |
5,1 |
5,9 |
8 a
10 |
1,7 |
2,0 |
2,3 |
2,8 |
3,3 |
3,8 |
4,3 |
5,0 |
10 a
12 |
1,4 |
1,7 |
2,0 |
2,4 |
2,7 |
3,2 |
3,6 |
4,2 |
12 a
14 |
1,2 |
1,4 |
1,7 |
2,0 |
2,3 |
2,6 |
3,0 |
3,5 |
14 a
16 |
1,0 |
1,2 |
1,4 |
1,6 |
1,9 |
2,2 |
2,5 |
2,9 |
16 a
18 |
0,8 |
1,0 |
1,2 |
1,4 |
1,6 |
1,8 |
2,1 |
2,4 |
18 a
20 |
0,7 |
0,9 |
1,1 |
1,3 |
1,5 |
1,7 |
1,9 |
2,1 |
>
20 |
0,5 |
0,6 |
0,7 |
0,8 |
1,0 |
1,2 |
1,4 |
1,6 |
Peixes
menores apresentam uma maior taxa de crescimento, portanto o reajuste da
quantidade de ração deve ser feito a intervalos menores (a cada 14 dias).
O tempo que a
truta necessita para alcançar o peso comercial (250 a 350g) é variável para cada
sistema de produção, podendo ser de 10 a 18 meses de cultivo. A velocidade de
crescimento pode ser controlada pela manipulação da taxa de arraçoamento.
A densidade de
estocagem vai depender principalmente do teor de oxigênio dissolvido na água e
do tamanho do peixe. Peixes menores tem maior atividade metabólica e
conseqüentemente consomem mais oxigênio que os peixes em fase de acabamento (Tabela
3).
Tabela 3 - Consumo de oxigênio para diferentes
tamanhos e temperaturas (mg/Kg de truta/hora) |
Peso
(gramas)
|
Temperatura da água em ºCelsius |
9 |
10 |
11 |
14 |
15 |
17 |
200 |
164,3 |
184,2 |
215,7 |
250,3 |
274,6 |
306,5 |
155 |
170,0 |
190,0 |
223,0 |
268,0 |
283,9 |
316,9 |
120 |
176,0 |
197,4 |
231,2 |
277,9 |
294,3 |
328,5 |
90 |
183,0 |
205,4 |
240,5 |
289,0 |
306,0 |
341,7 |
65 |
191,3 |
214,5 |
251,2 |
301,9 |
319,8 |
356,9 |
46 |
200,8 |
225,3 |
263,7 |
317,0 |
335,8 |
374,8 |
31 |
212,0 |
238,0 |
278,7 |
335,0 |
354,9 |
396,1 |
19 |
226,0 |
258,8 |
297,0 |
353,0 |
378,0 |
422,2 |
11 |
244,0 |
273,7 |
320,4 |
375,0 |
407,9 |
455,3 |
6,0 |
267,6 |
300,0 |
351,4 |
422,0 |
447,0 |
499,0 |
2,5 |
301,0 |
338,0 |
395,9 |
475,8 |
504,0 |
562,5 |
1,2 |
356,6 |
399,0 |
468,0 |
562,8 |
596,0 |
665,0 |
0,5 |
475,0 |
532,0 |
623,9 |
749,9 |
794,9 |
886,5 |
Conhecendo-se a vazão de um caudal de água (litros/minuto) e o teor de oxigênio
nele disponível (teor de oxigênio dissolvido medido menos 5,5 mg/l, que é o
mínimo necessário) e considerando-se o consumo de oxigênio, pode-se determinar a
quantidade de peixes a ser estocado.
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Estação Experimental de Salmonicultura de Campos de Jordão – Apta
Regional Vale do Paraíba |
LITERATURA RECOMENDADA: Para maiores esclarecimentos recomendamos a
leitura dos seguintes livros:
BLANCO CACHAFEIRO, M. C. 1995 La Trucha - Cria Industrial
2a ed. Ediciones Mundi-Prensa, Madrid, 503p.
TABATA, Y. A. ; PORTZ, Leandro . Truticultura
nos trópicos. In: José Eurico Possebon Cyrino; Elisabeth Crisciolo Urbinati;
Débora Machado Fracalossi; Newton Castagnolli. (Org.). Tópicos Especiais em
Piscicultura de Água Doce Tropical Intensiva. Jaboticabal, SP: Sociedade
Brasileira de Aqüicultura e Biologia Aquática, 2004, p.309-342.
Yara Aiko Tabata
é
Pesquisadora Científica da Estação Experimental de Salmonicultura de
Campos de Jordão da Apta Regional - Agência Paulista de Tecnologia
dos Agronegócios -
Pólo Regional de
Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Vale do Paraíba,
Doutorado em Ciências Biológicas (Genética) [Botucatu] pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Contato:
yara@aptaregional.sp.gov.br
AQUISIÇÃO DE ALEVINOS
A Estação Experimental de Salmonicultura de Campos
de Jordão – Apta Regional Vale do Paraíba vende aos criadores ovos embrionados e alevinos de truta arco-íris,
durante os meses de junho a agosto e de agosto a outubro respectivamente.
Para
maiores informações os interessados devem entrar em contato com a Estação
Experimental de Salmonicultura
pelo telefone/fax (12) 263-1021, pela Caixa Postal 361 CEP
12460-000 Campos do Jordão - SP ou e-mail:
cjordao@cpaqui.br |
Reprodução autorizada desde que citado o autor
e a fonte
Dados para citação bibliográfica(ABNT):
TABATA, Y. A..
Criação de truta arco-íris.
2006. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2006_2/Truta/Index.htm>.
Acesso em:
Publicado no Infobibos em 04/07/2006
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