EFEITOS DE MÉTODOS INTEGRADOS DE CONTROLE DE PLANTAS INFESTANTES SOBRE A PRODUTIVIDADE DE MAMÃO ‘TAINUNG 1’ NO MUNICÍPIO DE RIO REAL – BA.

Cláudio Luiz Leone Azevedo
José Eduardo Borges de Carvalho
Maurício Antônio Coelho Filho

1. Introdução

O manejo de plantas infestantes em pomares de mamão tem sido uma necessidade premente para a garantia de resultados favoráveis em sua produtividade, principalmente porque o uso da irrigação favorece o maior desenvolvimento do mato nestes ecossistemas, aumentando a competição por água, com prejuízos consideráveis aos produtores, principalmente porque é notório que as plantas infestantes possuem mecanismos eficientes de adaptação e sobrevivência, dificultando seu controle durante todo o ciclo da cultura.

Percebe-se que diferentes sistemas de manejo do solo têm interferência direta sobre as sementes de plantas infestantes, proporcionando a ocorrência de microambientes no solo, com alterações nas propriedades físico-químicas e condições da superfície do solo (Mulugueta & Stoltenberg, 1997), resultando em modificações na dinâmica populacional das plantas daninhas. Segundo Correia & Rezende (2002), a germinação nos agroecossistemas é um processo-chave na dinâmica das espécies vegetais e composição do banco de sementes no solo (BSS), sendo muito sensível à cobertura do solo. Resíduos culturais na superfície do solo alteram a umidade, luminosidade e temperatura do solo, principais variáveis no controle da dormência e germinação de sementes. A cobertura, também, pode prejudicar as plântulas em desenvolvimento, devido à barreira física, causando o estiolamento destas e tornando-as suscetíveis aos danos mecânicos. Pode proporcionar, ainda, ações químicas decorrentes de mudanças na relação C/N ou por alelopatia, além de favorecer o desenvolvimento de insetos e microrganismos, que alimentam ou hospedam as sementes e a parte aérea das plantas daninhas.

O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito de diferentes métodos no controle de plantas infestantes, num pomar de mamão ‘Tainung 1’, cultivado na região do Litoral Norte da Bahia na faixa dos Tabuleiros Costeiros, onde os solos se caracterizam pela baixa fertilidade e baixa capacidade de retenção de água, exigindo uma alternativa de manejo que, além do controle das plantas daninhas, reduza os custos de produção e promova um aumento da produtividade do mamoeiro e um manejo adequado do solo.
 

2. Material e métodos

O estudo foi instalado na Fazenda Lagoa do Coco, com o plantio do mamão ‘Tainung 1’ em fileiras duplas no espaçamento 2,0 x 2,0 x 4,0 m. O experimento obedeceu ao delineamento em blocos casualizados, com três repetições, em esquema de parcelas subdivididas no espaço com quatro tratamentos de manejo (parcela), dois preparos do solo (subparcela), sendo todo área submetida à irrigação. Os tratamentos propostos foram os seguintes: 1-Feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) plantado no início das águas (maio/junho), roçagem no início do período seco (setembro/outubro) e o controle nas linhas de plantio com glifosato, duas vezes/ano; 2-entrelinhas com vegetação nativa roçada e glifosato nas linhas de plantio, duas vezes/ano; 3-entrelinhas com amendoim forrageiro (Arachis pintoi) por todo o ano e glifosato nas linhas de plantio duas vezes/ano e 4-tratamento testemunha/convencional, com controle de plantas daninhas nas entrelinhas com grade e nas fileiras duplas com enxada. Excetuando-se o tratamento convencional, foi realizada subsolagem nas linhas de plantio, com duas e três hastes, na implantação do pomar utilizando subsolador DMB, cuja profundidade média da subsolagem será de 0,65m. Cada manejo do solo terá uma área de 1.056 m² (área total da parcela) com subparcelas de 528 m², totalizando 7.656 m² a área do experimento. Cada parcela contará com 90 plantas, sendo 45 plantas totais por subparcela, com 20 plantas úteis em cada uma delas, sendo 1.360 o número total de plantas.

Para caracterização e estudo fitossociológico da comunidade infestante utilizou-se como unidade amostral um quadrado (0,50 x 0,50m), lançando-se quatro vezes aleatoriamente nas linhas e entrelinhas da cultura do mamão em cada parcela/tratamento (método quadrado inventário), antes da instalação das coberturas de inverno, no final do seu ciclo e antes da roçagem para formação de cobertura morta e aos 90 dias após a roçagem. Em cada quadro amostrado as plantas serão identificadas segundo a Família, Gênero, Espécie, bem como o número presente de cada uma delas. A partir da contagem das espécies presentes serão calculados os seguintes parâmetros fitossociológicos: Densidade (D), Densidade Relativa (Dr), Freqüência (F), Freqüência Relativa (Fr), Abundância (A), Abundância Relativa (Ar) e o Índice de Importância Relativa (Ir), segundo Pitelli, 2000. As plantas daninhas presentes serão cortadas rente ao solo, acondicionadas em sacos de papel e levadas a estufa para obtenção da massa seca da parte aérea de cada espécie. O parâmetro de avaliação da produtividade na área experimental foi o peso médio dos frutos, os quais foram colhidos duas vezes por mês, em cada um dos quatro tratamentos.

3. Resultados e discussão

O estudo da infestação global de plantas daninhas, sem distinção da ocorrência nas linhas e/ou entrelinhas, permitiu identificar as espécies com maior importância relativa no agroecossistema, com elevado potencial de competição pelos recursos do meio: água, nutrientes, oxigênio e CO₂, conforme Tabela 1.
 

Tabela 1 – Plantas infestantes encontradas no estudo fitossociológico.

Analisando o comportamento da matovegetação nos tratamentos (linhas e entrelinhas) com relação da Importância Relativa (IR%) apresentada, verificou-se que não houve grande variabilidade entre as espécies presentes, com predominância quase total do mentrasto (Ageratum conyzoides), Figura 1.

Figura 1 –  Relação das espécies ocorridas nas linhas e entrelinhas de plantio com maior Importância Relativa/Tratamento

Após análise estatística dos blocos, tivemos os resultados da produtividade média em função de sua interação tanto com o tipo de subsolagem (duas ou três hastes) como da presença de diferentes coberturas vegetais nas entrelinhas do mamão. Mesmo os solos estando em uma área com a presença de camada adensada, que dificulta a penetração das raízes e a manutenção da umidade no solo, o efeito da subsolagem comparando o número de hastes utilizadas não foi significativo. Porém, na avaliação com e sem subsolagem, houve um incremento na produtividade das parcelas que foram subsoladas com relação ao tratamento convencional/testemunha (sem subsolagem), resultado também similar ao encontrado por Carvalho (2004). Provavelmente o maior benefício da subsolagem na área do experimento foi favorecer a uma maior infiltração da água no perfil do solo e também no aprofundamento do sistema radicular, segundo Taylor (1980), resultando no maior desenvolvimento das plantas e conseqüente elevação do peso dos frutos, sobretudo nos períodos secos do ano. Ou seja, a prática da subsolagem permitiu uma melhor eficiência na absorção da água de irrigação no pomar (Figura 2).

Figura 2 –  Efeito da subsolagem na produtividade do mamão ‘Tainung 1’.

Quanto ao comportamento dos tratamentos realizados, fica evidente ao analisar os dados da Figura 3 que aqueles onde realizou-se o plantio de coberturas vegetais, sobretudo com sistema radicular mais vigorosos, trouxeram benefícios ao mamão expresso num maior peso dos frutos, que está de acordo com Souza (1996). Além das melhorias na manutenção da umidade, reciclagem de nutrientes e maior acúmulo de matéria orgânica, as coberturas vegetais têm importante papel de supressão do mato, por estiolamento, efeito físico de cobertura e da liberação de substâncias alelopáticas. Dessa forma, aqueles tratamentos onde o estabelecimento da cobertura foi mais rápido (a exemplo do feijão-de-porco) obtiveram resultados mais satisfatórios, a exemplo do que ocorreu no estudo desenvolvido por Haynes (1970). O método usualmente empregado pelo produtor, além de não apresentar melhorias quanto ao manejo do solo, pois ao contrário acelera sua desestruturação, também foi ineficiente no controle das plantas daninhas presentes, diminuindo a sustentabilidade desta atividade agrícola pela elevação dos custos de produção, concordando com Carvalho (2004).

Figura 3 –  Efeito dos tratamentos sobre a produtividade do mamão ‘Tainung 1’.

4. Conclusões

- Foram identificadas 11 espécies de plantas daninhas, pertencentes a 7 famílias, destacando-se o Ageratum conyzoides (mentrasto) e o Cynodon dactylon (capim-de-burro) como espécies dominantes, sendo o tratamento convencional, com controle mecânico, aquele com maior infestação de plantas daninhas com relação aos demais.

- Quanto à produtividade, o Tratamento 1, com plantio de feijão-de-porco, foi aquele que apresentou a maior média de produção (g/fruto), enquanto o manejo convencional do mato, com capina e sem subsolagem, resultou em produções mais baixas.

- Não houve diferença estatística no efeito da subsolagem com duas e três hastes nos tratamentos.

5. Referências Bibliográficas

CARVALHO, J.E.B. de; AZEVEDO, C.L.L.; NASCIMENTO, P. dos S.; SANTOS, R.C. dos; CARVALHO, L.L. de. Manejo de coberturas vegetais no controle de plantas daninhas em plantio de mamoeiro nos Tabuleiros Costeiros da Bahia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS 24, 2004, São Pedro, SP. Resumos extendidos...São Pedro: Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas, 2004. 1 CD ROM.

COELHO, E.F.; SILVA, J.G.F. da; ALVES, A.A.C.; CRUZ, J.L. Irrigação do mamoeiro. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2003, 7p. (Embrapa Mandioca e Fruticultura, Circular Técnica, 54).

CORREIA, N. M.; REZENDE, P. M. Manejo integrado de plantas daninhas na cultura da soja. Lavras: Editora UFLA, 2002. 55 p. (Boletim Agropecuário, 51).

GROHMANN, F. Compacidade. In: MONIZ, A. C. (Coord). Elementos de pedologia. São Paulo: Polígono, p. 93-99, 1972.

HAYNES, S. L. Uso agrícola dos tabuleiros costeiros do Nordeste do Brasil: um exame das pesquisas. Recife. SUDENE, 1970. 139p.

MULUGUETA, D.; STOLTENBERG, D. E. Increase weed emergence and seed bank depletion by soil disturbance in no-tillage systems. Weed Science. v. 45, p. 234-241, 1997.

OLIVEIRA, R. de C. C. de . Comportamento do mamoeiro (Carica papaya L) em latossolo amarelo álico coeso submetido à subsolagem e á correção da acidez com calcário dolomítico + gesso agrícola. Cruz das Almas: Escola de Agronomia da UFBA, 1996, 76f. Tese Mestrado.

PITELLI, R. A. Estudos fitossociológicos em comunidades infestantes de agroecossistemas. Jornal Conserb, v. 1, n. 2, p. 17, 2000a.

SOUZA, L. da S. Uso e manejo dos solos dos tabuleiros costeiros. In: REUNIÃO TÉCNICA SOBRE SOLOS COESOS DOS TABULEIROS COSTEIROS, 1996, Cruz das Almas, BA. Anais... Aracaju: EMBRAPA – CPATC, 1996. p. 36-75.

TAYLOR, J.C.; BELTRAME, L. F. S. Porque, quando e como utilizar a subsolagem. Lavoura Arrozeira. Porto Alegre, v. 33, n. 321, p.34-44, mai./jun. 1980.

Cláudio Luiz Leone Azevedo possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal da Bahia (1994), especialização em Matovegetação e Período Crítico de Interferência pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (1995) e mestrado em Ciências Agrárias pela Universidade Federal da Bahia (1998). Atualmente é Pesquisador II da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária  Mandioca e Fruticultura Tropical. Tem experiência na área de Agronomia , com ênfase em Fitotecnia. Atuando principalmente nos seguintes temas: mandioca, ervas daninhas, período crítico, matocompetição, inimigos naturais.
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José Eduardo Borges de Carvalho possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal da Bahia (1971), mestrado em Fitotecnia pela Universidade de São Paulo (1976) e doutorado em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas) pela Universidade de São Paulo (1986). Atualmente é Membro de Comissão Técnica de Programa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e Sem vínculo empregatício da Universidade Federal da Bahia. Tem experiência na área de Agronomia , com ênfase em Ciência do Solo. Atuando principalmente nos seguintes temas: controle, glifosate, grama-seda.
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Maurício Antonio Coelho Filho possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal da Bahia (1995) , mestrado em Agronomia - Irrigação e Drenagem pela Universidade de São Paulo (1998) e doutorado em Agronomia - Irrigação e Drenagem pela Universidade de São Paulo (2002) . Atualmente é Pesquisador do Centro Nacional de Mandioca e Fruticultura. Tem experiência na área de Agronomia , com ênfase em Agrometeorologia. Atuando principalmente nos seguintes temas: agrometeorologia, citros, transpiração, balanço de calor, evapotranspiração.
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