Cultivares de Coffea arabica selecionadas pelo IAC:
características botânicas, tecnológicas, agronômicas e descritores
mínimos.*
por
Oliveiro Guerreiro Filho,
Luiz Carlos Fazuoli e
Adriano Tosoni da Eira Aguiar
A
liderança nacional na produção e na exportação de café deve-se a
uma bem articulada estratégia de investimento em pesquisas na
cultura do cafeeiro realizada na década de 30, especialmente
pelo Estado de São Paulo, principal produtor e exportador no
período. Um dos mais destacados resultados desse
investimento é o importante número de cultivares de
Coffea arabica selecionadas pelo Instituto Agronômico, ainda hoje
responsáveis por cerca de 90% da produção nacional de café
arábica (Tabela 1) e até 240% mais produtivas que a variedade
Typica, introduzida no País em 1727. Mais de setenta cultivares
lançadas pela instituição encontram-se registradas no Serviço
Nacional de Proteção de Cultivares – SNPC/MAA. |
Tabela 1. Cultivares de
Coffea arabica selecionadas pelo Instituto Agronômico e
suas principais características agronômicas e tecnológicas. |
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Bourbon
Vermelho
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Bourbon
Amarelo
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Em conseqüência da estreita base genética da espécie
C. arabica, principal espécie cultivada, assim como dos principais
métodos de melhoramento empregados no processo de seleção, as cultivares de café
são muito aparentadas e em muitos casos de difícil discriminação fenotípica
tanto por produtores como pelos próprios cientistas responsáveis por sua
seleção.
No entanto, essa discriminação é fundamental para a proteção e bastante
importante para o registro de novas cultivares uma vez que o número de
variedades disponíveis para os cafeicultores e produtores de sementes e mudas é
relativamente elevado. Por essas razões, grandes esforços vêm sendo dispensados
na identificação de descritores eficientes na identificação dessas cultivares.
Estudo recentemente desenvolvido pelo Centro de Café ‘Alcides Carvalho’ do
Instituto Agronômico procurou identificar a eficiência de descritores na
caracterização de cultivares de cafeeiros e como diferenciadores entre
cultivares a serem submetidas ao processo de proteção de cultivares no Brasil.
Foram avaliadas trinta e oito características botânicas ou tecnológicas das
plantas, folhas, flores, frutos, sementes, assim como três características
agronômicas (Tabela 2). Utilizaram-se vinte e nove cultivares de cafeeiros
selecionadas pelo Instituto Agronômico, sendo avaliadas trinta plantas de cada
cultivar.
Tabela 2. Características
avaliadas e respectivas classes segundo lista oficial de
descritores mínimos para a cultura do cafeeiro publicada
pelo Serviço Nacional de Proteção de Cultivares.* |
Planta/
órgão
|
Característica
|
Classes
fenotípicas
|
Planta
|
Formato
|
Cilíndrico; cônico; cilíndrico-cônico; cônico invertido
|
Altura
da planta
|
Muito
baixa; baixa; média; alta; muito alta
|
Diâmetro da copa
|
Muito
pequeno; pequeno; médio; grande; muito grande
|
Comprimento do internódio
|
Curto;
médio; longo
|
Ramificação plagiotrópica: tipo
|
Ereta;
semi-ereta; horizontal; semipendente
|
Ramificação plagiotrópica: intensidade
|
Baixa;
média; alta
|
Ramo
ortotrópico: quantidade
|
Baixa;
média; alta
|
Ramo
ortotrópico: flexibilidade
|
Baixa;
média; alta
|
Resistência a H. vastatrix
|
Ausente; presente
|
Ciclo
de maturação
|
Muito
precoce; precoce; médio; tardio; muito tardio |
Folha
|
Ciclo
até 1a produção após plantio
|
Precoce; médio; tardio
|
Comprimento
|
Curto;
médio; longo
|
Largura
|
Estreita; média; larga
|
Forma
|
Elíptica; ovalada; lanceolada
|
Cor da
folha jovem
|
Verde;
bronze; verde e bronze; púrpura
|
Cor da
folha adulta
|
Verde-clara; verde-escura; púrpura
|
Ondulação das bordas
|
Ausente; presente
|
Intensidade de ondulação
|
Fraca;
média; forte
|
Profundidadeda nervura 2ária
|
Baixa;
média; alta
|
Domácias
Pubescência das domácias
|
Ausente; parcialmente desenvolvida; bem desenvolvida
|
Flor
|
Inflorescências/axila
|
Baixa;
média; alta
|
Flores/inflorescência
|
Baixa;
média; alta
|
Pólen
|
Fértil;
estéril
|
Compatibilidade
|
Autocompatível; parcialmente compatível; auto-incompatível |
Fruto
|
Tamanho
|
Muito
pequeno; pequeno; médio; grande; muito grande
|
Formato
|
Redondo; elíptico; oblongo
|
Cor
|
Amarela; vermelho-alaranjada; vermelho-média;
vermelho-escura
|
Sépala
|
Ausente; presente
|
Grau
aderência ao ramo
|
Baixo;
médio; alto |
Semente
|
Comprimento
|
Curto;
médio; longo
|
Largura
|
Estreita; média; larga
|
Espessura
|
Fina;
média; grossa
|
Cor do
endosperma
|
Amarela; verde
|
Tonalidade da película prateada
|
Clara;
escura
|
Aderência da película prateada
|
Fraco;
médio; forte
|
Teor de
cafeína
|
Baixo;
médio; alto
|
Peso de
cem sementes
|
Baixo;
médio; alto |
*
Adaptado de Adriano Tosoni da Eira Aguiar; Oliveiro
Guerreiro-Filho; Mirian Perez Maluf; Paulo Boller Gallo e
Luiz Carlos Fazuoli. Caracterização de cultivares de
Coffea Arabica mediante utilização de descritores
mínimos. Bragantia, Campinas, vol.63, n.2, 2004. |
Os resultados obtidos (Tabela 3) evidenciaram que apenas com a utilização das
características porte, cor do fruto, resistência ao agente da ferrugem (Hemileia
vastatrix) e ciclo de maturação é possível obter uma discriminação eficiente
dos diferentes grupos de cultivares avaliadas. Dentro de cada grupo, a cor das
folhas jovens e o diâmetro da copa revelaram-se importantes descritores na
discriminação de cultivares do grupo Mundo Novo, mas não foi possível
identificar descritores eficientes na discriminação das cultivares dos grupos
Catuaí Vermelho, Catuaí Amarelo e Icatu Vermelho.
Tabela 3. Relação das características qualitativas identificadas
como mais eficientes para a caracterização de cultivares de
C. arabica em testes de distinguibilidade.* |
Altura das plantas
|
Resistência a
Hemileia vastatrix |
Cor dos frutos |
Ciclo de maturação
|
Cor das folhas
jovens |
Cultivares |
Grupo de
cultivares
|
Baixa ou Média
(Ct Ct) |
Resistente |
Vermelha
(Xc Xc) |
Precoce |
Bronze
(Br Br) |
Tupi IAC 1669-33 |
Tupi |
Tardio |
Verde
(br br) |
Obatã IAC 1669-20 |
Obatã |
Suscetível |
Vermelha
(Xc Xc) |
Tardio |
Bronze
(Br Br) |
Ouro Verde IAC H5010-5 |
Ouro Verde |
Verde
(br br) |
Catuaí Vermelho IAC 44, Catuaí
Vermelho IAC 46, Catuaí Vermelho IAC 81, Catuaí Vermelho IAC 99
e Catuaí Vermelho IAC 144 |
Catuaí Vermelho |
Amarela
(xc xc) |
Tardio |
Verde
(br br) |
Catuaí Amarelo IAC 47, Catuaí
Amarelo IAC 62, Catuaí Amarelo IAC 74, Catuaí Amarelo IAC 86 e
Catuaí Amarelo IAC 100 |
Catuaí Amarelo |
Alta ou Muito Alta
(ct ct) |
Resistente |
Vermelha
(Xc Xc) |
Tardio |
Verde e Bronze
(br br) e (Br Br) |
Icatu Vermelho IAC 2945, Icatu
Vermelho IAC 4040, Icatu Vermelho IAC 4042, Icatu Vermelho IAC
4045 e Icatu Vermelho IAC 4046 |
Icatu
Vermelho |
Amarela
(xc xc) |
Precoce |
Verde e Bronze
(br br) e (Br Br) |
Icatu Precoce IAC 3282 |
Icatu Precoce |
Tardio |
Verde e Bronze
(br br) e (Br Br) |
Icatu Amarelo IAC 2944-6 |
Icatu Amarelo |
Suscetível |
Vermelha
(Xc Xc) |
Precoce |
Bronze
(Br Br) |
Acaiá IAC 474-4, Acaiá IAC 474-16
e Acaiá IAC 474-19 |
Acaiá |
Tardio |
Verde
(br br) |
Mundo Novo IAC 376-4 e Mundo Novo
IAC 388-17 |
Mundo Novo |
Bronze
(Br Br) |
Mundo Novo IAC 379-19, Mundo Novo
IAC 501 e Mundo Novo IAC 515 |
Mundo Novo |
Amarela
(xc xc) |
Precoce |
Verde
(br br) |
Bourbon Amarelo IAC J18 |
Bourbon Amarelo |
* Extraído de Adriano
Tosoni da Eira Aguiar; Oliveiro Guerreiro-Filho; Mirian Perez Maluf;
Paulo Boller Gallo e Luiz Carlos Fazuoli. Caracterização de cultivares
de Coffea arabica
mediante utilização de descritores mínimos. Bragantia, Campinas,
vol.63, n.2, 2004. |
Pesquisas relacionadas à identificação de marcadores moleculares ou bioquímicos
vêm sendo realizadas por várias equipes de cientistas brasileiros com o objetivo
de se determinar novos descritores que sejam eficazes na identificação de
diferenças entre cultivares semelhantes de um mesmo grupo ou entre as cultivares
já registradas no SNPC e novas cultivares a serem protegidas.
* Texto originalmente publicado na
revista O Agronômico 55(2), 2003.
Oliveiro, Adriano e Fazuoli |
Oliveiro
Guerreiro Filho, é pesquisador Científico do Instituto
Agronômico - IAC
Doutor em Ciências Agronômicas pela École Nationale
Supérieure Agronomique Montpellier, ENSAM, França. Mestre em
Genética e Biologia Molecular pela Universidade Estadual de
Campinas, UNICAMP. Graduadp em em Engenharia Agronômica pela
Faculdade de Agronomia e Zootecnia Manoel Carlos Gonçalves,
FAZMCG, Brasil.
Contato:
oliveiro@iac.sp.gov.br
Luiz
Carlos Fazuoli é pesquisador Científico do Instituto
Agronômico - IAC, Doutor em Biologia Vegetal pela
Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. Mestre em Agronomia
(Genética e Melhoramento de Plantas) pela Universidade de São
Paulo,USP. Graduado em Engenharia Agronômica pela Universidade
de São Paulo, USP.
Contato:fazuoli@iac.sp.gov.br
Adriano
Tosoni da Eira Aguiar
é Doutor em agronomia pela Universidade de São Paulo, USP.
Mestre em Agricultura Tropical e Subtropical pelo Instituto
Agronômico de Campinas, IAC, Brasil. Graduado em Engenharia
Agronômica pela Faculdade de Agronomia e Zootecnia Manoel Carlos
Gonçalves, FAZMCG, Brasil.
Reprodução autorizada desde que citado o autor
e a fonte
Dados para citação bibliográfica(ABNT):
GUERREIRO FILHO, O.; FAZUOLI, L. C.; EIRA AGUIAR, A. T..
Cultivares de Coffea
arabica selecionadas pelo IAC: características botânicas, tecnológicas,
agronômicas e descritores mínimos.
2006. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2006_2/Cultivares_cafe/Index.htm>.
Acesso em:
Publicado no Infobibos em 08/08/2006
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