Colheita e Pós-colheita do Urucum (Bixa orellana L.) por Camilo Flamarion de Oliveira Franco Colheita Nas condições do Nordeste e do Centro Sul do Brasil, a colheita do urucuzeiro é realizada aproximadamente aos 130 dias após a abertura da flor, quando se verifica ¾ das cápsulas secas. No Norte, esse período é reduzido para 60 a 80 dias. A maturação das cápsulas é dada pela mudança de cor quando passa do verde, amarelo ou vermelho para castanho ou marrom. Para a região Nordeste, a primeira colheita, a mais significativa, ocorre nos meses de junho e julho, enquanto que a segunda, conhecida como safrinha, realiza-se no período novembro a dezembro. A exceção do material vegetal Bico de Pato, que tem apresentado uma boa uniformidade na maturação de suas cápsulas, colhendo-se, praticamente, de uma única vez reduzindo, significativamente, os custos operacionais. Os demais acessos mais utilizados, Peruana paulista, Embrapa 1, Embrapa 2, Casca verde, Casca vermelha e Piave devem-se efetuar entre duas a três colheitas por safra. É de suma importância colher apenas as cápsulas que apresentem-se maduras e secas, uma vez que o porcentual elevado de umidade nas sementes contribuirá negativamente para a perda da qualidade das mesmas, assim como, o aparecimento de mofos. A tesoura de poda é imprescindível e na sua impossibilidade, o canivete ou faca, poderá substituí-la, tendo sempre o cuidado de cortar o pedúnculo mais próximo da cápsula. A operação posterior consistirá na secagem das cápsulas ao sol, tendo o cuidado para que as sementes não fiquem expostas ao calor, o que trará prejuízos na qualidade e quantidade de pigmentos.
Pós-colheita As práticas de pós-colheita apresentam expressiva importância no processo agroindustrial do urucuzeiro devido à influência direta na qualidade do produto final. A pós-colheita tem início no momento seguinte à colheita propriamente dita, sendo constituída das seguintes etapas: recolhimento dos frutos no campo, pré-secagem dos frutos, descachopamento, peneiramento, secagem das sementes ensacamento, classificação e comercialização. Recolhimento dos frutos no campo É uma tarefa que tem estreita relação com a quantidade do produto colhido, do clima, da localidade na época e, essencialmente, da exigência do comprador. Dependendo do nível técnico do produtor, os frutos colhidos podem permanecer por um curto período de dias nas entrelinhas das plantas, isto dependendo das condições pluviais locais. Outra opção, é colher direto em balaios ou sacos e armazená-los em local adequado. Pré-secagem dos frutos Consiste no recolhimento dos frutos sobre lonas, em terreiros ou em secadores de alvenaria. Em algumas regiões do país, os frutos são secados em secadores solares, bem como em secadores artificiais. A redução da umidade dos frutos (cachopas) e das sementes, sem perda de qualidade do produto, é o objetivo principal para facilitar o descachopamento. Descachopamento Dependendo do poder aquisitivo do produtor, o descachopamento poderá ser efetuado pelos métodos manual e mecânico. Normalmente, quando se procede o descachopamento manual, as perdas de bixina são significativas, pela maneira incorreta de se utilizar a vara no batimento às sementes. A perda de bixina é diretamente proporcional ao teor de umidade das sementes. O método mecânico, apesar de apresentar perdas de bixina de 1,5 a 2,0%, é o mais indicado. Peneiramento O peneiramento do material colhido pode ser feito tanto manual como mecânico. O manual é realizado após a bateção dos frutos, enquanto que o mecânico, após a descachopagem em máquinas incompletas. Um fator importante a considerar é que pelo atrito, perde-se bixina nesta operação, devido ao maior teor de umidade das sementes e/ou regulagem do equipamento, pode haver perdas de qualidade de sementes. Secagem das sementes Há dois métodos utilizados para a operação da secagem. O natural onde as sementes são colocadas em terreiros e/ou sobre lonas, ao sol e o método artificial cuja perda de umidade ocorre em secadores com calor e ventilação forçada. No processo de secagem, recomenda-se mexer as sementes o mínimo possível, visando evitar perdas significativas das mesmas, pela sua exposição ao calor (sol e oxidação). A perda por atrito é função da falta de controle no carregamento e no descarregamento das sementes, no local da secagem.
Ensacamento O processo de ensacamento deve ser procedido em saco de polipropileno de 50 kg devidamente limpo ou em outro tipo de recipiente, conforme as exigências pré-estabelecidas pelo comprador.
Armazenagem A armazenagem do produto deve ser feita, de preferência, em local fresco, com pouca luz e sobre estrados. Deve-se evitar a presença de roedores e insetos, visando tornar o material armazenado da melhor qualidade. É de suma importância verificar o porcentual de umidade contido nas sementes, visto que, umidades relativas superiores a 14% não são recomendadas, podendo haver incidência de mofo. As sementes armazenadas a granel perdem mais rapidamente o teor de bixina, ficando sujeitas à contaminação.
Metodologias para a determinação de bixina O método para a determinação de bixina, utilizando sementes de urucum, foi realizado, preliminarmente, através de estudos comparativos, onde cada laboratório, envolvido nesses estudos, analisou a mesma amostra pelo seu próprio método. Alguns laboratórios determinaram a bixina diretamente, fazendo a extração com clorofórmio e posterior leitura espectrofotométrica. Outros, determinaram indiretamente, transformando a bixina em norbixina, por meio do tratamento das sementes com solução de hidróxido de potássio - KOH ou hidróxido de sódio - NaOH e posterior leitura espectrofotométrica. Após serem testados e analisados quatorze métodos diferentes e realizadas várias reuniões no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, onde os resultados das análises foram discutidos, comparados e avaliados, realizaram a seleção de dois métodos - KOH e clorofórmio, os quais foram enviados ao Ministério da Agricultura para apreciação e validação dos mesmos.
A Emepa optou pela utilização do método KOH devido a facilidade na aquisição desse extrator, ao seu baixo custo operacional e maior rigidez no teor final de bixina. Este é o método aceito internacionalmente. Caso os resultados obtidos, por este método, sejam bastante diferenciados, pode-se recorrer ao método do clorofórmio para dirimir alguma dúvida. O método KOH expressa a
norbixina, cujo resultado é convertido em bixina pela multiplicação
do fator 1,037 que fornece um teor final de bixina pouco inferior ao
dosado com o clorofórmio, não comprometendo o método KOH. Em um balão volumétrico de 1000 ml, com o auxílio de um funil de vidro, uma peneira pequena, lã de vidro e um bastão de vidro, filtra-se a solução e, posteriormente, lavando as sementes com água deionizada (100 ml) por sete a nove vezes, e, finalmente, completar o balão até 1000 ml. Como observação, ao término de cada filtragem, limpar o erlenmeyer e não mexer o material decantado na lã de vidro. Tampar bem o balão volumétrico e agitar bem a solução. Para maior comodidade, jogar fora (na pia) aproximadamente 300 ml para facilitar o manuseio com o balão, pipeta e outros instrumentos. Continuando a operação, tomar uma alíquota de 2 ml da solução corante (filtrada) anteriormente e, em outros dois balões volumétricos de 1000 ml, com suas numerações correspondentes, completar para 1000 ml com a solução de KOH a 0,5%. Retira a quantidade necessária desta solução final para a cubeta do espectrofotômetro e a outra cubeta completa com a solução de KOH a 5% para calibragem do aparelho. Tampar e agitar bem. Ler no espectrofotômetro a 453 nm, em célula de 1 cm, contra um branco de solução de KOH a 5%. Com a leitura do aparelho, consulta-se a tabela e encontra-se o número correspondente em bixina.
Obtenção do corante natural bixina Esses processos estão em fase de aperfeiçoamento onde os produtos assim obtidos, geralmente, apresentam baixos teores de bixina. Referências Bibliográficas OLIVEIRA, V. P. Tratos culturais do Urucum. In:
SÃO JOSÉ, A. R.; REBOUÇAS, T. N. H. A cultura do urucum no Brasil.
Vitória da Conquista, BA: UESB, 1990. p.46-49.
Dr.Camilo Flamarion de Oliveira Franco,
é Diretor Técnico da EMEPA. Fonte: EMEPA - Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S/A - http://www.emepa.org.br
Dados para citação bibliográfica(ABNT): Publicado no Infobibos em 06/07/2006 |