Acondicionamento da cama de ovinos confinados com uso de fertilizantes fosfatados
Eduardo Antonio da Cunha Na ovinocultura atual, na qual a meta maior é a produção de carne de cordeiro, com idade de abate inferior a 150 dias, os sistemas intensivos de criação, com uso de confinamento, seja na fase de cria (do nascimento ao desmame), seja no acabamento (do desmame ao abate), ou ainda o confinamento integral (do nascimento ao abate), apresentam-se, via de regra, como a melhor alternativa. Nessas condições, em que um número considerável de animais permanece confinado, por períodos de tempo relativamente longos, tem-se como subproduto, ou resíduo, constituído pelo material orgânico utilizado como “cama” nas áreas de confinamento (o bagaço de cana, a maravalha ou a serragem ou ainda palhadas diversas), mais as fezes e urina dos animais e ainda restos de alimentos. Esse material, produzido em quantidade considerável, pode ter destinação bastante interessante, como adubo em capineiras ou lavouras, sendo útil na reposição e mesmo aumento do teor de matéria orgânica no solo, com também no fornecimento de nutrientes a essas culturas, reduzindo, ou mesmo dispensando o uso de fertilizantes químicos. Essa “massa orgânica” é extremamente rica em compostos nitrogenados que, sob a ação de microorganismos, sofre diversos processos fermentativos, além de outras reações químicas normais. Dessas reações resulta a produção de diversos compostos, notadamente o gás carbônico (CO2) e amônia (NH3). Grande parte dessa amônia é volatilizada, sendo perdida para atmosfera, o mesmo acontecendo com o CO2. Isso apresenta dois aspectos extremamente negativos: o ambiente carregado de amônia é bastante prejudicial à saúde dos animais e aos tratadores, podendo ser causa de problemas respiratórios e de irritação de mucosas, principalmente em recintos mais fechados; além disso, a cama perde um nutriente valioso, o nitrogênio (N), que é de extremo valor quando da utilizado na fertilização de capineiras e lavouras. Perdas acentuadas de N na forma de amônia (NH3) ocorrem ainda quando o material está sendo utilizado no confinamento, como cama, e continua após a retirada do mesmo das baias, durante o processo de cura para posterior uso como adubo orgânico. O nível de perdas pode variar de 50 a 60% de todo o nitrogênio contido no material. Freqüentemente se utilizam artifícios, como a cobertura do esterco com palhadas, durante a cura ou compostagem do material, visando a redução dessas perdas, todavia a eficiência desse processo é reduzida, observando-se redução da ordem de 20 a 40% no total do N do material. Uma alternativa é a incorporação às camas, ainda durante o período de utilização nas baias, de adubos fosfatados, notadamente o superfosfato simples, visando a diminuição das perdas de N amoniacal. A matéria prima básica dos adubos fosfatados é a rocha fosfática, que, quando submetida à ação do ácido sulfúrico, dá origem ao Superfosfato Simples, que é uma mistura de um fosfato de cálcio mais gesso: Ca(H2PO4)2 + 2 CaSO4. Essas substâncias, quando incorporadas à cama e sob ação da umidade ambiente, reagem quimicamente com a amônia (NH3), que é volátil, formando ions amônio (NH4+), que, por não serem voláteis, ficam retidos nesse material, não sendo perdidos para o ambiente. A utilização do processo de acondicionamento da cama de animais em confinamento, visando a minimização da perda de N volátil, já é feita no Instituto de Zootecnia a mais de 6 anos, com resultados positivos. A adição do Superfosfato Simples é feita em dias intercalados (a cada 3 ou 5 dias), "polvilhando-se" 25 a 30 g/m2 de superfície de cama, considerando-se uma altura média de cama de 5 a 10 cm, e promovendo-se a sua incorporação através do revolvimento do material, o que, além de propiciar um maior contato do supersimples com a cama, ajuda na diminuição da umidade da mesma, prolongando o seu tempo de uso. A troca da cama é feita, em média a cada 10 a 15 dias, dependendo do número e porte de animais por baia. Animais de maior porte, com ingestão de dietas com alto nível de proteína tendem a apresentar maior volume urinário, resultando em maior umidade da cama, maior quantidade de uréia/amônia e maior necessidade de troca de cama. Por exemplo, baias com ovelhas em final de gestação ou em aleitamento necessitam de maior freqüência de troca de cama que baias com o mesmo número de animais, só que mais jovens ou "secas". O tipo de piso também ira determinar a freqüência de troca de camas. Em pisos impermeáveis (cimentado) a troca deve ser mais freqüente devido à maior umidade da cama. Em pisos de terra, devido à drenagem da umidade para o solo, a cama permanece mais seca, espaçando a troca. Também devem ser consideradas as condições climáticas, visto que na "época das chuvas", devido a maior umidade relativa do ambiente, a perda de umidade da cama para o ambiente é menor, aumentando a freqüência da troca. Também a natureza do material utilizado como cama irá determinar a freqüência de troca. O bagaço de cana, em função da sua elevada capacidade de absorção de água, é a que tem mostrado maior durabilidade e menor freqüência de troca, já as palhadas de capim ou resíduos agrícolas, tipo casca de arroz, ou palhadas de cultura como arroz, trigo ou aveia, tem menor capacidade de absorção de água. Também a freqüência do revolvimento afeta a necessidade de troca em função da alteração no teor de umidade da cama. Ressalte-se que nem sempre é necessária a troca total da cama. Muitas vezes a retirada da cama nos locais mais úmidos, devido à maior concentração de animais (em frente dos cochos e bebedouros), que é substituída por cama nova, já é suficiente para deixar a baia em boas condições para uso. De qualquer forma sempre que a cama estiver muito compactada, deve ser acrescida cama nova por cima, de forma a se ter volume suficiente para absorção de toda a umidade. A incorporação do Superfosfato Simples reduz a perda de N a níveis de 3 a 5% do N total, obtendo-se redução de 10 a 20% no caso do Superfosfato Triplo. Por outro lado, a incorporação de fosfatos naturais resulta em menor eficiência na retenção do N amoniacal, constatando-se perdas elevadas, da ordem de 40 a 50%. O material resultante do processo desse acondicionamento, além de apresentar um teor de N mais elevado, devido à diminuição das perdas de Nitrogênio volátil (NH3), será ainda enriquecido com fósforo (P), cálcio (Ca) e enxofre (S), devido à adição do superfosfato simples, o que reduzirá, ou mesmo eliminará, a necessidade de adição desses elementos ao solo. Além dos adubos fosfatados, uma alternativa para o acondicionamento da cama seria o gesso agrícola (CaSO4), cuja reação na cama resulta na fixação do N na forma de sulfato de amônio - (NH4)2SO4. O gesso é uma alternativa interessante por apresentar menor custo unitário que o supersimples, todavia não é encontrado com a mesma facilidade que o supersimples.
Essa prática, além de melhorar
significativamente a qualidade do composto resultante, para posterior
utilização com adubo orgânico, reduz drasticamente os níveis de amônia no
ambiente, melhorando sensivelmente as condições para os animais e
tratadores. Paralelamente esse tratamento tem mostrado um efeito positivo,
ainda a ser melhor estudado e avaliado, na redução do número de moscas no
ambiente. Supõe-se que o aumento na concentração de sais diversos na cama e
a presença de íons amônio em elevada concentração, possa prejudicar o
desenvolvimento das larvas de moscas, todavia esse é um aspecto que, apesar
de na prática ser bastante evidente, ainda não esta devidamente estudado.
Eduardo Antonio da Cunha;
Pesquisador
Científico do
Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa
Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA,
Graduação em Zootecnia.
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP,
Brasil. Luiz Eduardo dos Santos; Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA, Graduação em Engenharia Agronômica. Universidade de São Paulo, USP, Brasil; Mestrado em Nutrição Animal - Universidade de São Paulo, USP, Brasil. Mauro Sartori Bueno, Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA, Graduação em Zootecnia. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil; Mestrado em Zootecnia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Brasil. ; Doutorado em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura)-[Cena]. Universidade de São Paulo, USP, Brasil. Pós-Doutorado, Escola Superior Agrária de Bragança Instituto Politécnico de Bragança, ESAB-IPB, Portugal. Cecília José Veríssimo,
Pesquisador
Científico do
Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa
Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA,
Graduação em Medicina
Veterinária. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ,
Brasil.Especialização em Curso
de Especialização em Zootecnia (Ruminantes). Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte Dados para citação bibliográfica(ABNT):
CUNHA, E. A.; SANTOS, L. E. dos; BUENO, M. S.;
VERÍSSIMO, C. J.. Acondicionamento da cama de ovinos confinados com uso de fertilizantes
fosfatados.
2006. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2006_2/CamaOvinos/index.htm>.
Acesso em:
Publicado no Infobibos em 28/06/2006 |